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Introdução

A alergia ao peixe é uma reação do sistema imunitário às proteínas presentes no peixe, sendo a parvalbumina a mais frequentemente implicada. É uma das alergias alimentares mais comuns em idade pediátrica e pode provocar sintomas que variam desde manifestações ligeiras, como urticária, até reações graves, como anafilaxia.

Ao contrário de outras alergias alimentares da infância, como a alergia ao leite ou ao ovo, a alergia ao peixe tende a persistir ao longo da vida. Reconhecer e compreender esta condição é essencial para prevenir reações e garantir a segurança da criança.

Frequência

A alergia ao peixe afeta cerca de 0,2% a 0,3% das crianças em países ocidentais, sendo mais comum em algumas regiões onde o consumo de peixe é elevado, como zonas costeiras e alguns países asiáticos.

A prevalência varia consoante os hábitos alimentares e a disponibilidade de peixe na dieta local. Pode surgir logo nas primeiras exposições alimentares e desencadear reações mesmo com ingestão de pequenas quantidades ou por contaminação cruzada.

Causa

A alergia ao peixe resulta de uma resposta exagerada do sistema imunitário a proteínas presentes no músculo do peixe. O principal alergénio implicado é a parvalbumina, uma proteína de ligação ao cálcio altamente estável ao calor e à digestão, o que significa que pode provocar reação mesmo após cozedura ou processamento. A parvalbumina está presente na maioria das espécies de peixe, mas a sua concentração pode variar, sendo geralmente mais elevada em peixes de água fria como bacalhau ou pescada.

A reação alérgica é habitualmente IgE-mediada: após contacto com a proteína, o organismo produz anticorpos IgE específicos que, em exposições subsequentes, desencadeiam a libertação de mediadores inflamatórios como a histamina, responsáveis pelos sintomas.

A reação cruzada entre diferentes espécies é frequente devido à semelhança estrutural das parvalbuminas, o que significa que pessoas alérgicas a um tipo de peixe geralmente reagem a outros, mesmo sem contacto prévio. Além disso, há risco de reação por contaminação cruzada durante a preparação dos alimentos, seja através de utensílios, superfícies ou óleo de fritura.

Mais raramente, podem ocorrer reações não IgE-mediadas, nas quais outros mecanismos imunológicos estão envolvidos. Estas tendem a apresentar-se com sintomas gastrointestinais, mais tardios e persistentes, e o seu diagnóstico é mais desafiante, exigindo frequentemente testes de eliminação e provocação oral sob supervisão médica.

Sinais e sintomas

A alergia ao peixe pode provocar manifestações que variam de ligeiras a potencialmente fatais, surgindo habitualmente minutos a poucas horas após a ingestão ou, raramente, após inalação de vapores de cozedura ou após contacto cutâneo. Os principais sintomas incluem:

  • Cutâneos: urticária (manchas avermelhadas e pruriginosas), angioedema (inchaço de lábios, pálpebras ou face), prurido generalizado.
  • Gastrointestinais: dor abdominal, náuseas, vómitos, diarreia.
  • Respiratórios: congestão nasal, espirros, tosse, pieira, dificuldade respiratória ou laringoespasmo.
  • Cardiovasculares: tonturas, hipotensão, taquicardia.
  • Anafilaxia: reação grave e sistémica que pode combinar sintomas cutâneos, respiratórios, gastrointestinais e cardiovasculares, representando uma emergência médica.

A intensidade e o tipo de sintomas podem variar de acordo com a quantidade ingerida, a sensibilidade individual e a presença de fatores de risco, como asma ou exposição concomitante a exercício físico ou a anti-inflamatórios não esteróides.

O que fazer

Perante uma suspeita de reação alérgica ao peixe:

  1. Interromper imediatamente a ingestão do alimento suspeito.
  2. Avaliar os sintomas: 
    1. Sintomas ligeiros: urticária localizada, prurido
    2. Sintomas graves: dificuldade respiratória, inchaço da face ou língua, tonturas, colapso
  3. Administrar medicação de emergência conforme prescrição prévia:
    1. Adrenalina autoinjetável em caso de sinais de anafilaxia. Aplicar na face externa da coxa, através da roupa se necessário, e acionar o serviço de emergência (112)
    2. Anti-histamínicos e corticoides orais para sintomas cutâneos ligeiros ou moderados
  4. Guardar amostra do alimento suspeito ou informação sobre a marca, lista de ingredientes e modo de preparação, para auxiliar a investigação diagnóstica.

No caso de se tratar de um episódio inaugural de alergia a criança deverá ser observada no serviço de urgência logo que surjam quaisquer sintomas de alergia. 

Tratamento

O tratamento da alergia ao peixe baseia-se, sobretudo, na evicção rigorosa do alimento e na prevenção de reexposições acidentais.

  • Medicação de emergência: todas as crianças com alergia ao peixe com risco de reações graves (e/ou os seus cuidadores) devem ter sempre acesso a adrenalina auto-injetável e saber utilizá-la. Anti-histamínicos e corticóides orais podem ser usados para reações mais ligeiras.
  • Plano de ação escrito: elaborado pelo médico, descreve os sintomas de alerta e os passos a seguir em caso de reação. Deve ser partilhado com familiares, cuidadores e escola.
  • Acompanhamento médico regular: consultas periódicas com especialista para reavaliação do risco, atualização da medicação e eventual repetição de testes de alergia.
  • Educação do doente e da família: treino para identificar precocemente sintomas, administrar a medicação e prevenir contactos acidentais.

Não existe, atualmente, imunoterapia específica (“vacina”) eficaz para a alergia ao peixe disponível na prática clínica. A abordagem continua centrada na prevenção e no tratamento imediato de reações quando estas ocorrem.

Evolução / Prognóstico

A alergia ao peixe tende a ser persistente na maioria dos casos, mantendo-se na idade adulta. Apenas uma pequena percentagem de crianças desenvolve tolerância ao longo do tempo, geralmente a espécies específicas e sob vigilância médica.

A gravidade das reações pode variar entre episódios, e mesmo exposições mínimas podem desencadear sintomas importantes, incluindo anafilaxia. Por este motivo, a evicção total e a presença constante da medicação de emergência são fundamentais.

O acompanhamento médico regular permite avaliar a evolução da alergia, reforçar medidas de prevenção e identificar eventuais oportunidades para reintrodução controlada, quando clinicamente indicado.

Prevenção / Recomendações

Em relação à redução do risco de exposições acidentais, as principais recomendações incluem:

  • Ler atentamente os rótulos de todos os alimentos embalados, procurando termos como “peixe”, “extrato de peixe” ou nomes específicos de espécies.
  • Evitar produtos processados que possam conter peixe de forma não óbvia (ex.: molhos, caldos, patês, surimi, massas recheadas).
  • Prevenir contaminação cruzada durante a preparação dos alimentos, lavando bem utensílios, superfícies e mãos após contacto com peixe.
  • Ter cautela em restaurantes e refeitórios, informando sempre sobre a alergia e questionando sobre métodos de confecção e possíveis contaminações.
  • Manter sempre consigo a medicação de emergência, especialmente a adrenalina auto-injectável, e garantir que familiares, cuidadores e pessoal escolar sabem utilizá-la.
  • Rever regularmente o plano de ação com o médico e atualizar as orientações para familiares e cuidadores.

A educação contínua da criança e da família é essencial para a segurança e qualidade de vida, permitindo lidar com a alergia de forma informada.

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