Menu

Introdução

Após o nascimento, na transição para a vida extrauterina, o recém-nascido tem uma perda ponderal fisiológica através da diurese e da eliminação de mecónio. Pequenas quantidades de colostro são adequadas à dimensão do estômago e na prevenção da hipoglicemia no recém-nascido de termo saudável. 

Embora a perda ponderal inicial seja expectável, o limiar a partir do qual é considerada patológica não está estabelecido. Tem sido aceite que nos recém-nascidos de termo a perda ponderal fisiológica pode chegar a 10% do peso ao nascer e tipicamente existirá recuperação entre o 10º e o 14º dia de vida. Mas estes valores foram estabelecidos sem qualquer base científica.

Novos dados para uma adequada avaliação da perda ponderal

A avaliação da perda ponderal não deve ser feita apenas através da percentagem de perda de peso, não tendo em consideração o tipo de parto e o modo de alimentação do recém-nascido, fatores que, comprovadamente, influenciam a evolução ponderal. 

Flaherman et al, avaliaram a evolução ponderal de 161.471 recém-nascidos com 36 ou mais semanas de gestação. Através desta análise desenvolveram um nomograma de perda ponderal, ‘‘Early Weight Loss Nomograms”, nos primeiros 5 dias e 30 dias de vida (disponível através do link: Newt - Newborn Weight Loss Tool). 

O nomograma permite avaliar a evolução ponderal dos recém-nascidos de acordo com o tipo de parto e enquadrar em percentis de perda ponderal. Constataram que a perda ponderal superior ou igual a 10% é comum e ocorre mais precocemente do que o esperado, nos primeiros dias de vida. A perda ponderal difere significativamente de acordo com o tipo de parto e esta diferença persiste ao longo dos primeiros dias de vida. 

Verificaram que quase 5% dos recém-nascidos de parto eutócico e mais de 10% dos nascidos por cesariana perderam pelo menos 10% do peso ao nascer, às 48 horas de vida.

A maioria recuperou o peso com 8,3 dias de vida e 97,5% dos recém-nascidos recuperou o peso ao nascer com 21 dias de vida, demonstrando como em alguns casos a recuperação ponderal é mais demorada, sem isso significar presença de alguma patologia. 

Segundo o nomograma de perda ponderal, esta é considerada patológica se for superior ao P75, independentemente da altura em que é avaliada. 

Razões para a perda ponderal “excessiva” 

No parto por cesariana, verifica-se um atraso na lactogénese II, uma menor libertação de hormonas maternas, como a oxitocina, que têm efeito anti-diurético no recém-nascido, uma maior dificuldade em estabelecer a amamentação na primeira hora de vida e uma maior quantidade de fluídos administrados à mãe durante o parto que contribuem para a hipervolemia e maior diurese no recém-nascido. Todos estes fatores contribuem para uma perda ponderal superior nos recém-nascidos por cesariana comparativamente aos nascidos por parto vaginal.

Sendo a amamentação o padrão ouro para a alimentação do recém-nascido, terá de ser com base nela que a perda fisiológica de peso deve ser considerada, partindo do pressuposto que as condições para que a amamentação decorra normalmente estão reunidas, ou seja a maioria dos casos.

A perda ponderal excessiva indica habitualmente uma inadequada transferência ou, muito menos frequentemente, uma baixa produção, sendo importante uma avaliação global e um apoio sensível e profissional na amamentação, antes de iniciar a suplementação.

Recomendações

Como fazer a suplementação  

A suplementação deve ser realizada com leite materno extraído, devendo as mães ser capacitadas para fazer a extração manual do seu leite, sobretudo nos primeiros dias de vida do recém-nascido. Se o leite materno não for suficiente, dever-se-ia recorrer a bancos de leite materno, para que todas as crianças pudessem ter acesso a leite humano.

Na impossibilidade desta fonte de leite, que é o caso em Portugal, é necessário recorrer ao leite artificial. O leite artificial deve ser a última escolha, até pela elevada probabilidade de provocar alergia às proteínas do leite de vaca, quando oferecido nos primeiros dias de vida. 

A forma como é oferecido e o volume de leite suplementado devem ser fisiológicos e não interferir negativamente com a amamentação, partindo sempre do pressuposto que vai ser uma medida transitória.

Não está estabelecida uma preferência entre os métodos, como a sonda, copo, colher ou seringa. Na sua escolha deve ser tida em consideração a preferência da família, o custo, a facilidade na higienização do material usado, a experiência dos profissionais de saúde envolvidos e a adequação à criança.

Deve ser evitado o uso de tetina/biberão pelo possível efeito deletério na amamentação, mas se necessário deve ser usado o método de paced-feeding.

Dado o risco de desidratação hipernatrémica, quando a perda ponderal é superior ao P95, o recém-nascido deve ser observado em contexto hospitalar e iniciar suplementação, eventualmente com o leite da mãe extraído.

Como evitar a perda ponderal excessiva

É da maior importância avaliar o bem-estar do recém-nascido e da mãe e capacitar os pais a reconhecer os sinais de fome e saciedade e ajustar as expectativas das famílias para o que é o comportamento normal de um recém-nascido. Devemos avaliar a capacidade do bebé de fazer a pega e transferir leite, o seu comportamento após mamar, distinguir cluster feedings de sinais de ingesta insuficiente e avaliar o padrão de micções e dejeções. 

O contacto pele com pele com a mãe ou com o parceiro / parceira, desde o nascimento, durante a estadia na maternidade e após a alta é fundamental para a manutenção da temperatura e glicemia do bebé, como forma de poupança de energia, promovendo ainda o processo de vinculação. Esta proximidade constante permite ainda identificar os sinais precoces de fome e responder a eles prontamente, sem estabelecer horários, nem tempos de permanência na mama. 

Mas talvez o maior fator de sucesso para uma amamentação bem estabelecida e uma perda de peso adequada seja a comunicação com a mãe/parelha de forma a empoderá-la, reforçando-lhe a confiança.

Idealmente todos os recém-nascidos devem ser reavaliados por alguém com conhecimentos de amamentação entre o 3º e o 5º dia após a alta da mater.

Deseja sugerir alguma alteração para este tema?
Existe algum tema que queira ver na Pedipedia - Enciclopédia Online?

Envie as suas sugestões

Newsletter

Receba notícias da Pedipedia - Enciclopédia Online no seu e-mail