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Introdução

Definição

Genericamente infeção causada por Plasmodium  (P. falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovalae). No Sudeste Asiático nos últimos anos tem-se verificado no ser humano aumento do número de casos de malária causada por P. Knowlesi, agente responsável pela malária dos macacos.

Epidemiologia

A transmissão é geralmente feita por picada do mosquito Anopheles e, raramente, por transfusão de sangue infetado, partilha de seringas ou agulhas contaminadas e em acidentes com pessoal de laboratório. Pensar também na da designada “malária enigmática”, ou seja, malária diagnosticada em indivíduos que nunca estiveram expostos a qualquer dos meios de transmissão acima mencionados. Dentro da “malária enigmática” destaca-se a “malária do aeroporto”, que surge em indivíduos que vivem ou trabalham nas proximidades dos aeroportos internacionais, presumindo-se que o Plasmodium é veiculado por mosquitos infetados transportados por aviões provenientes de regiões afectadas por malária.

Período de incubação depende da espécie: P. falciparum – geralmente 7 a 14 dias, podendo ir até 4 semanas em pessoas sob quimioprofilaxia incorrecta; P. malariae - 18 a 40 dias; P. vivax - 12 a 17 dias; P. ovale - 15 a 18 dias. Os 2 últimos podem recidivar meses ou anos depois.

Quadro clínico

Os casos graves estão quase exclusivamente associados ao P. falciparum. Porém,

nos últimos anos, tem-se verificado no Sudeste Asiático um número significativo de vítimas mortais causadas por P. vivax, especialmente por rutura do baço.

Nas crianças o quadro clínico pode ser enganador, apresentando-se com tosse, polipneia, febre, cefaleias, vómitos, diarreia, prostração e convulsões. As espécies de Plasmodium consideradas quase sempre como “benignas” podem, nalguns casos, ser causa de anemia na gravidez, resultando recém-nascido de baixo peso.

Nos adultos a instalação pode ser súbita (febre alta, arrepios, sudorese, cefaleias, dispneia grave, esplenomegalia, icterícia, convulsões e manifestações hemorrágicas) ou insidiosa (febre baixa, cefaleias, diarreia, mialgias, esplenomegalia, dor abdominal e náuseas).

A febre ondulante, considerada uma das características da malária, pode estar ausente na infecção por P. Falciparum, em que a febre pode ser contínua.

Um ou mais dos seguintes aspectos clínicos ou laboratoriais sustentam o conceito de malária grave (OMS, 2010): obnubilação; choque; respiração acidótica; icterícia; hemoglobinúria; manifestações hemorrágicas; convulsões múltiplas; hiperparasitemia (densidade parasitária superior a 100 000/µL está relacionada com aumento da taxa de mortalidade, que pode chegar aos 50% se ultrapassar os 500 000/µL); anemia grave; hipoglicemia; acidose; insuficiência renal; radiografia do tórax com manifestação de edema pulmonar.

A malária crónica pode manifestar-se por perda de peso, suscetibilidade às infeções bacterianas, ataques de malária aguda recorrente sem exposição recente ao agente, Linfoma de Burkitt, “Síndrome de Esplenomegalia Tropical” e “Nefropatia da Malária Quartã”.

Diagnóstico

Suspeitar de malária em todo o indivíduo que, vindo de zona endémica desta doença, apresenta febre, cefaleias e mal-estar geral de etiologia desconhecida. Mesmo que tenha tomado todas as precauções, incluindo quimioprofilaxia correcta.

Pesquisar Plasmodium por microscopia do sangue periférico, em esfregaço ou gota espessa.

Durante a investigação laboratorial, se ainda estiver sob profilaxia, esta deve ser suspensa.

No caso de fortes indícios clínicos não se deve confiar na negatividade de 1 amostra.

Repetir o exame em 3 amostras colhidas com intervalo de cerca de 8 horas. Não é necessário o paciente estar em pico febril.

Na indisponibilidade de microscopia testes rápidos de diagnóstico podem ser usados.

Evitar tratar sem ter certeza do diagnóstico. Mas é consensual tratar com base apenas no contexto clínico/epidemiológico quando o diagnóstico laboratorial não é possível.

Diagnóstico Diferencial

  • Infeções bacterianas e virais;
  • Situações que provocam coma;
  • Anemias por outras causas.

Tratamento

Medidas gerais

Casos moderados/graves:

  •  internar e canalisar veia
  • monitorar sinais vitais
  • anticonvulsantes nas convulsões
  • antibiótico de largo espectro na suspeita de infecção bacteriana concomitante
  • transfusão de C. de eritrócitos na anemia grave, de plaquetas nas hemorragias por trombocitopenia ou de plasma fresco congelado se surgirem manifestações de CID.

Malária ligeira pode ser tratada em ambulatório.

Tratamento específico (alternativas)

I. Malária benigna (terapêutica oral):

a) artesunate+amodiaquina (1x/d, 3 dias): artesunate 4mg/Kg/dia+amodiaquina 10mg/Kg/dia.

b) artesunate e mefloquina: artesunate 4mg/Kg dia, dias 1, 2 e 3; mefloquina 15mg/Kg/dia, dia 2, e 10mg/Kg no  dia 3.

c) artemeter+lumefantrina (0, 8, 24, 36, 48 e 60 horas). 5 a 14Kg de peso: 20mg + 120mg; 15 a 24Kg: 40mg + 240mg; 25 a 34Kg: 60mg+360mg; > 35Kg: 80mg + 480mg.         

d) dihidroartemesinina/piperaquina (1x/dia, 3 dias). 5 a 7Kg de peso: 10mg/80mg; 7 a 13Kg de peso: 20mg/160mg; 13 a 24Kg: 40mg/320mg; 24 a 36Kg: 80mg/640mg; 36 a 75Kg: 120mg/960mg; > 75Kg: 160mg/1280mg.

e) artesunate e sulfadoxina/pirimetamina: artesunate 4mg/Kg de peso, 1x/dia, 3 dias e sulfadoxina/pirimetamina 25/1,25mg/Kg de peso/dia, no dia 1.

f) artesunate e doxiciclina (1x/dia, 7 dias): artesunate 2mg/Kg/dia e doxiciclina 3,5mg/Kg/dia.

g) artesunate e clindamicina (1x/dia, 7 dias): artesunate 2mg/Kg/dia e clindamicina 10mg/Kg/dia.

h) pirimetamina 25mg/sulfadoxina 500mg (comprimidos), dose única:

1 - 3 anos: ½ comp = 250mg

4 - 8 anos: 1 comp = 500 mg

9 - 14 anos: 2 comp = 1000 mg

> 14 anos: 3 comp = 1500 mg

i) halofantrina (solução oral 100mg/5ml; comp. 250mg)

Três doses intervaladas 6 horas.

  • Crianças > 2 anos de idade - 8mg/Kg de peso
  • Adultos – 500mg.

Usar os 2 últimos só na indisponibilidade de qualquer das outras alternativas.

II. Malária grave e malária na gravidez e no aleitamento:

a) Artesunate IV ou IM: 2,4mg/Kg IV ou IM (0, 12 e 24h e depois 1x/dia), até ser possível terapêutica oral; tratamento de 1ª linha na malária grave e do 2º e 3º trimestre de gravidez.

b) Artemeter IM: 1 dose de 3,2mg/Kg, seguida de 1,6mg/Kg/dia, até ser possível terapêutica oral; 2ª linha na malária grave e do 2º e 3 º trimestre gravidez.

Alternativas na terapêutica oral complementar:

  1. artesunate + amodiaquina, nas doses já referidas acima
  2. artemeter + lumefantrina , nas doses já referidas acima
  3. artesunate 2mg/Kg, 1x/dia e doxiciclina 100mg 12/12H; na gravidez, na amamentação e em menores de 8 anos de idade substituir doxiciclina por clindamicina 10mg/Kg 12/12H.

Total de 7 dias de terapêutica, parentérica + oral, para qualquer das modalidades.

c) Quinino I.V. (infusão 4 horas, de preferência em dextrose 5%): dose inicial 20mg/Kg; manutenção 10mg/Kg 8/8horas.

Na impossibilidade de via I.V. usar via I.M. nas doses referidas.

Logo que possível, passar à terapêutica oral - crianças 10mg/Kg de peso, 8/8 horas e adultos 600mg, 8/8 horas.

Total de 7 dias de terapêutica, parentérica + oral.    

O quinino deixou de ser considerado pela OMS terapêutica de 1ª linha na malária grave e na malária no 2º e 3º trimestre de gravidez nos locais onde é possível recorrer à artesunate ou artemeter parentérico. No 1º trimestre pode ser 1ª escolha, embora artesunate ou artemeter sejam boas opções.

Recomendações

Prevenção

1. Medidas gerais:

  • Uso de repelentes e de mosquiteiros impregnados com insecticidas
  • Pulverização intradomiciliária com insecticidas
  • Saneamento do meio ambiente

2. Quimioprofilaxia (alternativas):

a) Mefloquina (comprimidos 250mg)

Adultos e crianças com peso> 45Kg: 1 comprimido 1x/semana

Crianças com peso 25-45Kg: ¾ comp. = 187,5

Crianças com peso 16-25Kg: ⅟₂ comp. = 125mg

Crianças com peso 06-16Kg: ⅟₄ comp. = 62,5mg

Início da profilaxia 1 semana antes da viagem, até 4 semanas após fim da estada em zona endémica.

De modo geral não está indicada em menores de 2 anos de idade, mas quando se justifica pode ser administrada a lactentes com mais de 3 meses, contanto que tenham peso superior a 5Kg. Admite-se, embora com restrições, sua utilização durante a gravidez, mas não durante a amamentação.

b) Atovaquona/ Proguanil (Malarone 250mg/100mg e Malarone pediátrico 62,5mg/25mg) Iniciar 1-2 dias antes da viagem, até 7 dias após deixar zona endémica.

Crianças 11-20Kg – 1 comprimido de Malarone pediátrico 1x/dia

                21-30Kg - 2 comprimidos ped.

                31-40Kg - 3 comprimidos ped.

Adultos - 1 comprimido de Malarone (250mg/ 100mg) 1x/ dia

c) Pirimetamina/ Sulfadoxina (25mg/500mg): 2 doses de 3 comprimidos, a 1ª no 4º e a 2ª no 7º mês de gravidez, para prevenção de malária no RN.

d) Doxiciclina. Geralmente usada no Sudeste asiático. Início 2 dias antes da viagem, até 4 semanas após ter deixado área endémica, uma toma diária.

Adultos - 100mg/dia.

Crianças > 8 anos - 2mg/Kg/dia

e) Primaquina (após tratamento ou nas 2 últimas semanas de profilaxia):

Crianças 0,3mg/Kg, 1x/dia, 14 dias.

Adultos 15mg, 1x/dia, 14 dias.

Contra-indicações: gravidez; primeiros 6 meses de vida.

Bibliografia

  1. Davidson R., Brent A., Seale A: Oxford Handbook of Tropical Medicine 4th edition 2014
  2. Longmore M, Wilkinson I, Baldwin A, Wallin E. Oxford Handbook of Clinical Medicine, 9th edition, 2014.
  3. Provan D, Baglin T, Dokal I, de Vos J. Oxford Handbook of Clinical Haematology. University Press, 4th edition, 2015.
  4. WHO-Guidelines for the Treatment of Malaria. Geneva: WHO edition, 2010

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