Recém-nascido com risco de hipoglicemia
Introdução
Definição
A hipoglicemia do recém-nascido (RN) é uma situação clínica caracterizada por uma diminuição dos níveis de açúcar no sangue do bebé apos o nascimento. É normal uma diminuição dos níveis de açúcar nas primeiras horas de vida em todos os recém-nascidos, mas normalizam após este ser alimentado com leite materno ou de fórmula.
Em recém-nascidos com fatores de risco para hipoglicemia (prematuros, filhos de mãe diabética, entre outros) pode haver necessidade de vigilância e/ou terapêutica até à estabilização dos valores de açúcar no sangue, que geralmente ocorre até às 48-72 horas (hipoglicémia transitória). Se, mesmo assim, a hipoglicemia persistir (hipoglicemia persistente), a criança pode necessitar de tratamento específico e internamento numa unidade de neonatologia.
Detectar a hipoglicemia em recém-nascidos de risco é fundamental, uma vez que o normal funcionamento do cérebro está dependente do nível de açúcar no sangue, a sua principal fonte de energia. Baixos níveis de açúcar no sangue dificultam a função cerebral, podendo mesmo ocorrer lesões cerebrais, se estes valores não forem corrigidos atempadamente.
Frequência
A hipoglicemia neonatal transitória constitui o problema do metabolismo mais frequente no recém-nascido. Estima-se uma incidência de 2-3 casos por cada 1000 nados-vivos, sendo superior em grupos de risco.
Causas e fatores de risco
As situações clínicas associadas à ocorrência de hipoglicemia no recém-nascido, podem estar relacionadas com o parto, com a mãe ou com o próprio recém-nascido. Dependendo da situação clínica, a hipoglicémia pode ocorrer por:
- Diminuição do aporte de açúcar oral
- Diminuição do armazenamento de açúcar
- Consumo excessivo do açúcar armazenado
- Inibição da utilização do açúcar disponível.
Assim, os recém-nascidos em maior risco de desenvolver hipoglicémia são:
- Filhos de mães diabéticas, quando a fonte de açúcar no sangue (via cordão umbilical) deixa de existir e a produção aumentada de insulina do recém-nascido metaboliza o restante açúcar no sangue
- RN grande para a idade gestacional (peso nascimento superior ao percentil 10)
- Filhos de mães com nutrição inadequada
- Filhos de mãe que tomaram determinados medicamentos durante a gravidez (corticóides, propanolol, tiazidas, entre outros)
- RN pequeno para a idade gestacional (peso nascimento inferior ao percentil 10) ou com restrição do crescimento por menos reservas de açúcar no sangue
- Prematuros, especialmente os com baixo peso ao nascer, habitualmente com menor reserva de açúcar e uma função mais imatura do fígado (onde o açúcar é armazenado)
- Com doença hemolítica grave (incompatibilidade entre o sangue da mãe e do recém-nascido) ou com infeções
- Partos complicados por hipoxémia prolongada (diminuição do suprimento de oxigénio) ou mesmo asfixia (privação de oxigénio)
- Com instabilidade térmica (por exemplo, arrefecimento acentuado).
Sinais e sintomas
O recém-nascido apresenta-se frequentemente assintomático, no entanto, alguns desenvolvem sintomas, que incluem:
- Tremores
- Fraqueza muscular
- Irritabilidade
- Sonolência
- Pele de cor azulada e/ou fria
- Dificuldade respiratória (respiração muito rápida/paragens respiratórias)
- Dificuldade alimentar (pouco interesse a mamar; má sucção na mama ou no biberon)
- Convulsões
Se o seu filho recém-nascido apresentar estes sintomas deverá ser observado por um médico logo que possível.
O que fazer
Considerando que, a maioria dos casos de hipoglicemia, é transitória e assintomática, é necessário um exame com capacidade de rastrear nos recém-nascidos de risco, assim como nos que apresentam sintomas, a presença ou não de hipoglicémia.
Deste modo, utiliza-se com este intuito, um exame que avalia os níveis de açúcar no sangue (o teste da “gotinha”), cuja designação médica é o exame de glicemia capilar. Este exame é muito rápido e o desconforto que causa ao RN é mínimo. Os médicos pedem este exame quando o recém-nascido apresenta sintomas ou factores de risco para hipoglicémia.
São considerados anormais os níveis de açúcar no sangue inferiores a 36mg/dL se for um recém-nascido de risco (com ou sem sintomas) e inferiores a 45mg/dL se for um RN com sintomas, nas primeiras horas de vida, havendo uma tendência para estes níveis estabilizarem em valores entre 70-100mg/dL às 48-72 horas de vida.
Se o seu filho tiver fatores de risco para hipoglicemia, habitualmente será feita uma determinação dos níveis de açúcar no sangue, pelo exame simples da glicemia capilar, cerca de 30 minutos após a 1ª refeição ou até à 2ª hora de vida. Posteriormente, irá manter-se esta determinação de 6-6 horas, antes de cada refeição, durante 24 horas.
Tratamento
O tratamento da hipoglicemia do recém-nascido é, inicialmente, alimentá-lo. Deve ser oferecido, idealmente, o leite materno (se não é possível: o leite de fórmula) a todos os recém-nascidos, logo que possível, após o nascimento. Deve ser incentivado o contacto pele-a-pele com a mãe, o qual proporciona maior estabilidade térmica e auxilia a amamentação precoce no recém-nascido. Esta indicação, é ainda mais importante, nos recém-nascidos com fatores de risco para hipoglicémia. Neste último grupo, depois da primeira refeição, será realizado um exame de glicemia capilar para monitorizar os níveis de açúcar no sangue.
Se o recém-nascido mantiver níveis baixos de açúcar no sangue após a 1ª refeição de leite, existem várias opções terapêuticas. Numa fase inicial, o médico opta habitualmente por oferecer uma solução de água com açúcar (soro glicosado a 10%) ou novamente o leite materno ou de fórmula, inicialmente tenta-se pela boca (via oral) e, se não for possível, é utilizado um tubo que é introduzido pelo nariz e vai até o estômago (sonda naso-gástrica).
Se estas medidas iniciais forem ineficazes, os médicos podem necessitar de administrar fluídos com açúcar através de um tubo fino que é inserido numa veia, isto é, por via endovenosa, a qual permite que o açúcar chegue diretamente à corrente sanguínea. A terapêutica via endovenosa, implica o internamento do recém-nascido, numa unidade de neonatologia, onde possa ser feita uma monitorização e vigilância mais apertada. Os níveis de açúcar no sangue são sempre monitorizados após as medidas terapêuticas tomadas, para constatar se há ou não resolução da hipoglicémia.
Na maioria dos recém-nascidos, como a hipoglicemia é transitória, as medidas terapêuticas são necessárias por um curto período de tempo. Se a hipoglicemia persistir após as 48-72 horas de vida, será possível que o médico peça mais exames para determinar se existe alguma doença genética subjacente.
Evolução / Prognóstico
Se a hipoglicemia é detectada atempadamente e tem uma boa resposta ao tratamento, o prognóstico é muito bom. São consideradas hipoglicémias transitórias do recém-nascido e, regra geral, não se voltam a repetir.
As hipoglicemias refratárias ao tratamento e/ou persistentes, mais raras, podem resultar em convulsões e lesões cerebrais graves e, como tal, sequelas neurológicas futuras. No entanto, não se sabe o valor abaixo do qual nem a duração acima da qual, a hipoglicémia se torna prejudicial a nível cerebral.
Prevenção / Recomendações
São consideradas medidas preventivas: a alimentação precoce do recém-nascido na 1ª hora de vida, idealmente, com leite materno e a realização do pele-a-pele com a mãe, logo após o nascimento.
No caso de mães com diabetes gestacional: manter um bom controlo dos valores de açúcar no sangue durante a gravidez, pode diminuir o risco de hipoglicémia no recém-nascido.
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