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Introdução

Definição

A galactosémia é uma doença hereditária rara do metabolismo da galactose. A galactose quando ligada à glicose forma a lactose, o açúcar do leite.

Frequência

A galactosémia clássica tem uma incidência de 1:23000-44000 recém-nascidos (RN) na Europa. Na população asiática esta doença é mais rara. Em Portugal, a sua prevalência é desconhecida.

Causa

A galactosémia resulta do defeito genético numa das três enzimas (fermentos) intervenientes na degradação da galactose. O defeito mais frequente é o da GALT (galactotransferase ou galactose-1-fosfato uridiltransferase), que causa a galactosémia clássica. Quando a atividade da GALT está diminuída, acumulam-se substâncias tóxicas (galactose-1-fosfato, galactitol) e outras tornam-se deficientes (UDP-galactose e glicose) (Figura 1).

Sinais e sintomas

Os recém-nascidos (RN) costumam nascer sem qualquer problema, pois durante a gravidez é a mãe que metaboliza a galactose.

A doença manifesta-se após o RN iniciar a alimentação com leite, que contém lactose, que é degradada em glicose e galactose (Figura 1) por ação da lactase da parede intestinal. Os sintomas surgem geralmente nas primeiras semanas de vida, podendo ser muito precoces e aparecer logos nos primeiros dias, ainda durante o internamento na maternidade.

Os RN geralmente apresentam dificuldade em mamar, podem ter vómitos e não aumentam bem ou perdem peso.

Podem apresentar sintomas sugestivos de doença do fígado, nomeadamente, icterícia (cor amarela dos olhos e da pele), aumento do tamanho do fígado e do baço, distensão abdominal por acumulação de líquidos na barriga (ascite) e alterações da coagulação do sangue. A doença do fígado pode progredir rapidamente para insuficiência hepática ou para cirrose.

O rim também é afetado nesta doença: há perda para a urina de iões (fósforo, bicarbonato), aminoácidos e açúcares (glicose, galactose).

Alguns doentes podem ter um quadro de infeção grave, geralmente causado pela bactéria Escherichia coli.

Podem surgir cataratas (opacificação do cristalino do olho) muito precocemente, que são o resultado da acumulação de galactitol na lente (cristalino).  

O que fazer

Os RN sob leite materno ou adaptado que apresentem os sintomas anteriormente referidos devem ser consultados por um médico.

O diagnóstico passa pelo reconhecimento dos sintomas clínicos após o início do aleitamento e a sua melhoria após a instituição do tratamento.

Para confirmação são necessárias análises ao sangue e à urina. A suspeita clínica pode ser demonstrada pela acumulação de galactose e galactose-1-fosfato no sangue e urina. Podem ser feitos estudos da atividade da enzima alterada nos glóbulos vermelhos do sangue. A confirmação do diagnóstico é feita pelo estudo genético.

Tratamento

Na apresentação inicial, as manifestações de doença do fígado, do rim e o quadro infecioso devem ser tratados adequadamente no hospital.

O tratamento de base da galactosémia requer a evicção de galactose da dieta, pelo que, logo que se suspeite deste diagnóstico, e mesmo antes da sua confirmação, o leite materno/fórmula deve ser suspenso e substituído por um leite sem galactose.

Aquando da diversificação alimentar, a criança deverá evitar os alimentos que contenham lactose/galactose, designadamente o leite e derivados. Há outros alimentos como as vísceras (fígado, rim e mioleira), legumes (lentilhas, grão de bico) e algumas frutas, que devem ser evitados em graus diversos, de acordo com o seu teor em galactose.

Os pais/cuidadores devem estar atentos aos rótulos dos alimentos e devem verificar a sua composição. É importante também verificar a composição de alguns medicamentos pois muitos contêm lactose. De notar que os leites sem lactose disponíveis no mercado podem conter galactose, se preparados a partir do leite de vaca submetido à ação de lactases.

Tendo em conta as restrições da dieta, deve ser feita suplementação com vitaminas e iões (cálcio).

A dieta deve ser orientada por um nutricionista com experiência nestas doenças. O nutricionista faz parte da equipa multidisciplinar do Centro de Referência de Doenças Hereditárias do Metabolismo onde estes doentes devem ser seguidos. Aos pais/doentes é fornecida uma tabela com os alimentos que podem ser utilizados e aqueles a evitar.

Evolução / Prognóstico

O quadro inicial pode ser grave e colocar a vida do RN em risco. Mas após a suspensão da galactose os sintomas resolvem.

No entanto, apesar do cumprimento da dieta podem surgir complicações: dificuldades de aprendizagem, ligeiro défice cognitivo, alterações da linguagem, alterações neurológicas (tremor, dificuldade em articular palavras, falta de coordenação dos movimentos). As meninas podem ter atraso no aparecimento dos sinais de puberdade, irregularidades menstruais ou amenorreia secundária. As restrições alimentares podem contribuir para atraso no crescimento (estatura mais baixa) e fraca mineralização óssea, que de um modo geral podem ser prevenidas.

Prevenção / Recomendações

A galactosémia é uma doença autossómica recessiva, isto é, surge quando ambos os pais transmitem a mutação do gene que codifica as enzimas envolvidas no metabolismo da galactose. Os pais são, em princípio, portadores da mutação, podendo transmiti-la, mas não têm a doença. Numa gravidez subsequente, a probabilidade de nascer um filho afetado é de 25%. Uma vez diagnosticado um caso na família, é possível fazer o diagnóstico pré-natal.

A equipa multidisciplinar do Centro de Referência de Doenças Hereditárias do Metabolismo, para além de um geneticista, inclui médicos de outras especialidades como pediatras/ internistas e outros técnicos de saúde para orientação/ avaliação do cumprimento da dieta, monitorização/ minimização das complicações.

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