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Introdução

Cerca de 50% das crianças sofrem traumatismos dentários durante a infância e estas lesões podem ter consequências a nível estético e funcional.

As principais causas de traumatismo dentário em crianças em idade escolar são as quedas e em adolescentes são as lesões desportivas.

Quanto mais precoce for a referenciação e a instituição de tratamento específico, melhor o prognóstico.

Anatomia:

O dente é constituído pela coroa e raiz. A polpa dentária contém os vasos sanguíneos e nervos, sendo a parte mais sensível. A dentina é revestida pelo esmalte e cemento. O dente é envolvido por tecidos de suporte: gengiva, osso trabecular, ligamento periodontal, epitélio juncional e tecido conjuntivo.

História Clínica

Anamnese:

Na anamnese devem ser questionados os antecedentes pessoais relevantes, nomeadamente patologia pré-existente em que haja maior risco de hemorragia ou risco de endocardite bacteriana, a existência de alergias medicamentosas e o estado de imunização para o tétano.

É importante perceber qual foi o mecanismo da lesão, há quanto tempo ocorreu, onde ocorreu, se foi um traumatismo isolado e se foi um traumatismo de dentição definitiva ou decídua.

A dor espontânea no dente traumatizado e a sensibilidade com o frio ou calor podem indicar exposição e/ou inflamação da polpa. Por sua vez, a sensibilidade dentária com a mastigação pode indicar lesão do ligamento periodontal

Outros sintomas que podem ocorrer são a dor cervical (no contexto de lesão da coluna cervical), a dor na abertura da boca e/ou disoclusão (que pode indicar fractura da mandíbula) e a presença de traumatismo craniano ou perda de conhecimento.

Exame objetivo:

  • Inspeção: face, lábios, mucosa oral, língua, pavimento da boca e arcadas dentárias
  • Palpação: dos contornos esqueléticos da face e crânio (rebordo orbitário, arcadas zigomáticas, mastoide e mandíbula), em busca de pontos dolorosos, crepitação ou soluções de continuidade; dos lábios para pesquisa de fragmentos dentários que possam ter ficado alojados no interior do lábio
  • Palpação e mobilização bidigital: área alvéolo-dentária atingida e osso basal, despistando lesões periodontais e/ou fraturas associadas
  • Avaliação da oclusão dentária
  • Exame objetivo completo, incluindo exame neurológico se traumatismo craniano associado
  • Possíveis sinais de maus tratos

Diagnóstico Diferencial

Existem vários tipos de traumatismo alvéolo-dentário, sendo necessária a sua distinção uma vez que a abordagem será diferente de acordo com o tipo de trauma:

INTRODUZIR QUADRO COM FIGURAS

Exames Complementares

TC da face com reconstrução 3D - se suspeita de fratura óssea basal ou de traumatismo complexo;

Radiografia cervical/torácica/abdominal - nos casos de avulsão dentária em que não é possível localizar a peça dentária;

Ortopantomografia e avaliação radiológica alvéolo-dentária - Realizados por estomatologia, para avaliação radiológica endoral.

Tratamento

Medidas gerais

  • Limpeza das áreas afectadas com soro fisiológico
  • Hemostase das áreas hemorrágicas que devem ser submetidas a compressão ou a encerramento cirúrgico
  • Analgesia

Abordagem de acordo com o tipo de traumatismo

INTRODUZIR QUADRO 2

 

Indicações para observação por cirurgia plástica no SU

  • Fractura óssea alveolar
  • Fratura maxilar, mandibular ou outras fraturas da face associadas
  • Lacerações complicadas dos tecidos moles adjacentes

Achados clínicos sugestivos:

  • Queixas de disoclusão
  • Limitação na abertura da boca
  • Lacerações ou equimoses da mucosa oral
  • Dor e ressalto à palpação da superfície alveolar
  • Dor à palpação das ATMs ou na palpação bi-manual da mandíbula
  • Mobilidade em bloco de múltiplas peças dentárias
  • Hipostesia do lábio inferior

Outras indicações para observação por Estomatologia

  • Fragmentos de dente e corpos estranhos introduzidos nos tecidos moles da cavidade oral
  • Suspeita de fratura de dentes posteriores
  • Desinserção traumática de aparelho

Profilaxia antitetânica

O estado vacinal deve ser sempre confirmado em todos os casos.

Feridas potencialmente tetanogénicas:

  • Feridas que requerem tratamento cirúrgico, não tratadas nas primeiras 6 horas;
  • Punctiformes;
  • Com corpos estranhos;
  • Com lesão da pele e tecidos moles extensas;
  • Com tecido desvitalizado;
  • Contaminadas com solo ou estrume;
  • Com evidência clínica de infeção.

 

introduzir quadro 3 de história vacinal

 

Antibioterapia

O uso de antibioterapia é incerto nos traumatismos de dentes decíduos e nas fraturas e luxações de dentes definitivos. Por este motivo, o uso de antibiótico só está recomendado nos seguintes casos:

  • Avulsão de dente definitivo com reimplantação
  • 1ª linha: Amoxicilina 50mg/kg/dia, 8-8h
  • Se alergia a amoxicilina: Doxicilina 2mg/kg/dia 12-12h (não usar <12 anos) ou Clindamicina 20-30mg/kg/dia 6-6h
  • Duração: 7-10 dias
  • Lesão de tecidos moles circundantes
  • Amoxicilina + Ac. clavulânico 50mg/kg/dia 8-8h, 7-10 dias
  • Crianças com risco de endocardite bacteriana, com necessidade de procedimento estomatológico
  • 1ª linha: Amoxicilina 50mg/kg via oral
  • Sem via oral: Ampicilina 50mg/kg ou Cefazolina 50mg/kg ou Ceftriaxone 50mg/kg (IM ou IV)
  • Alergia à amoxicilina:
  • com via oral: Cefuroxime 40mg/kg ou Clindamicina 20mg/kg ou Azitromicina/Claritromicina 5 mg/kg
  • sem via oral: Cefazolina/Ceftriaxone 50mg/kg ou Clindamicina 20 mg/kg (IV ou IM)
  • Dose única 30-60min antes da intervenção.

Recomendações gerais após alta para ambulatório

  • Dieta mole 1-2 semanas;
  • Higiene dentária com escova suave (ou cotonete para dentição decídua), evitar fio dentário;
  • Evitar uso de chupeta ou sucção digital;
  • Lavagem bucal com clorexidina a 0,1% 2x/dia durante 1 semana (na dentição decídua) ou 2 semanas (na dentição definitiva);
  • Evitar desporto com contacto físico;

Evolução

O tratamento atempado dos traumatismos dentários tem um bom prognóstico. Deve ser realizado seguimento por parte de especialista em Estomatologia ou Medicina Dentária

Algumas complicações que podem surgir são: sobre-infeção dos tecidos moles adjacentes com formação de abcesso, necrose pulpar e formação de fístulas.

A avulsão de dentes definitivos não tratada na primeira hora tem um prognóstico desfavorável uma vez que compromete a viabilidade do dente após a sua reimplantação.

Saber Mais

Glossário:

Coroa; Raiz; Ligamento periodontal; Dentição decídua; Dentição definitiva; Oclusão; Avulsão; Fratura não complicada; Fratura complicada

Bibliografia

  1. Dennis J McTigue, Ehsan Azadani, Evaluation and management of dental injuries in children (Disponível em www.uptodate.com)
  2. Liran Levin, Peter Day, Lamar Hicks, Anne O'Connell, Ashraf F. Fouad, Cecilia Bourguignon, Paul V. Abbott, International Association of Dental Traumatology guidelines for the management of traumatic dental injuries, 2020
  3. Programa Nacional de Vacinação 2020, Norma Direção-Geral de Saúde 018/2020

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