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Introdução

Definição

A bronquite refere-se à inflamação dos brônquios e é um componente de praticamente todas as doenças da via aérea. A bronquite aguda (BA) é um diagnóstico clínico caraterizado pela instalação aguda (duração ≤2 semanas) de tosse (seca ou produtiva), e sinais de envolvimento do aparelho respiratório inferior, na ausência de doença pulmonar crónica ou outra causa específica, como pneumonia.

Epidemiologia

A BA, isolada ou em associação com outras infeções das vias respiratórias, é uma das infeções mais frequentes em idade pré-escolar e é uma causa importante de hospitalização.

A incidência de BA em crianças de 0-4 anos de idade é de 12-20 episódios por 100 crianças por ano, com pico nos meses de Outono e Inverno.

Etiologia

Em cerca de 90% dos casos, a etiologia da BA é viral, sendo os vírus mais frequentemente implicados o vírus sincicial respiratório (VSR), rinovírus (os dois agentes mais frequentes), parainfluenza, influenza, adenovírus, coronavírus, metapneumovírus e bocavírus. Agentes bacterianos como Mycoplasma pneumoniae e Chlamyda pneumoniae podem também estar implicados como causa primária ou como sobreinfeção. Em 17 a 33% dos casos existe coinfeção.

História Clínica

Anamnese

A tosse é o sintoma dominante e deve ser bem caraterizada: se é seca ou produtiva; a forma de início (súbito, gradual); a sua duração, frequência e intensidade. Na eventualidade de existir expetoração, rara nas crianças pequenas, deve caraterizar-se em qualidade e quantidade, cor e cheiro. Os sintomas acompanhantes mais comuns são a febre e, mais raramente, a pieira. Questionar acerca da presença de mialgias, estridor, dispneia, toracalgia, coriza, prurido nasal, odinofagia, otalgia, entre outros.

Avaliar o estado vacinal e contexto epidemiológico.

Questionar acerca de doença respiratória crónica prévia.

Exame objetivo

Avaliar o estado geral e sinais vitais (frequência respiratória e cardíaca, saturação de oxigénio e temperatura), que habitualmente são normais. Avaliar outros sinais de dificuldade respiratória como cianose, adejo nasal, tiragem, balanceio da cabeça ou pieira audível.

Realizar otoscopia, rinoscopia e observação da orofaringe. Realizar um exame torácico completo, que pode revelar sibilos ou roncos na auscultação pulmonar.

Mau estado geral, febre alta, taquicardia, taquipneia, hipoxia e sinais de consolidação pulmonar (como macicez à percussão, egofonia, diminuição do murmúrio vesicular ou fervores) são raros na BA e devem levantar a suspeita de pneumonia.

Por fim, excluir sinais de doença crónica subjacente, como má progressão ponderal, hipocratismo digital, deformidade torácica ou atopia.

Diagnóstico Diferencial

  • Outra infeção das vias respiratórias inferiores: bronquiolite, laringotraqueobronquite, pneumonia e síndromes pertussis
  • Infeção das vias respiratórias superiores: nasofaringite, traqueíte, epiglotite e laringite
  • Gripe
  • Aspiração de corpo estranho
  • Primeira apresentação de doença crónica (por exemplo, asma, que pode ser clinicamente indistinguível da BA)

Exames Complementares

O diagnóstico de BA é clínico pelo que, na maioria dos doentes, não são necessários exames complementares. Em caso de incerteza diagnóstica, a avaliação analítica pode ajudar no estabelecimento de etiologia bacteriana (leucocitose significativa e aumento da proteína C reativa e da procalcitonina). De igual forma, a realização de radiografia do tórax pode ser útil para o diagnóstico diferencial com pneumonia, sendo desnecessária nos doentes com sinais vitais e exame pulmonar normais.

Habitualmente, não é necessária a investigação microbiológica. São exceções a suspeita clínica de tosse convulsa ou de gripe em doentes de risco.

Tratamento

Algoritmo terapêutico

A maioria dos doentes necessita apenas de terapêutica de suporte, com antipiréticos e hidratação adequada. É aconselhável explicar aos pais o curso natural da doença e o período espectável até à resolução completa dos sintomas.

Os medicamentos de venda livre para o tratamento da tosse não são eficazes, havendo ainda o risco de causarem efeitos adversos importantes.

Nos doentes com obstrução brônquica, deve considerar-se a administração de agonistas β2 de curta ação.

A utilização empírica de antibióticos é desaconselhada. Contudo, perante suspeita clínica de etiologia bacteriana (clínica há mais de 4 dias, incluindo sintomas constitucionais como febre; ou rinossinusite e tosse que não melhoram há 10 dias) ou nas crianças com risco elevado de complicações por comorbilidade preexistente (doença cardíaca, renal, hepática ou neuromuscular; imunossupressão,  crianças pequenas nascidas prematuras), deve equacionar-se a instituição de antibioticoterapia (habitualmente macrólidos).

Evolução

Na maioria dos casos, a doença é autolimitada e ocorre remissão completa em 2 a 5 dias, até um limite de 3 semanas. A complicação mais comum é a sobreinfeção bacteriana.

Recomendações

A lavagem frequente das mãos e a evicção de aglomerados populacionais são aconselháveis, como forma de prevenção da transmissão interpessoal da maioria dos agentes que causam BA. A profilaxia da infecção por VSR com palivizumab pode ter lugar em doentes de risco, como os grandes prematuros. A vacina da gripe está indicada nas crianças com doença crónica.

Saber Mais

Glossário

Tosse: mecanismo fisiológico de defesa pulmonar, que aumenta a libertação de secreções e partículas das vias aéreas, e protege da aspiração de materiais estranhos. Pode classificar-se em tosse aguda, subaguda e crónica.

Bronquite aguda infecciosa - diagnóstico clínico caracterizado pela instalação aguda (duração ≤2 semanas) de tosse (seca ou produtiva), e sinais de envolvimento do trato respiratório inferior, na ausência de doença pulmonar crónica ou outra causa específica, como pneumonia.

Bibliografia

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