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Introdução

A SPECT (Single Photon Emission Computed Tomography) de perfusão ictal é um exame de Medicina Nuclear, em que se faz uma imagem cerebral, para tentar localizar a zona responsável pelas crises epilépticas. Durante estas crises, a quantidade de sangue (perfusão), nessa zona, aumenta até quatro vezes. O produto utilizado para fazer o exame (radiofármaco) é injectado durante a crise, acumulando-se no local onde há mais sangue, e permitindo, assim, identificar esta zona epileptogénica.

Para recolher mais informações, pode fazer-se o mesmo exame, mas num período livre de crises (inter-ictal).

Radiofármaco

Um radiofármaco é um produto que, para além de se acumular em determinados locais dentro do corpo depois de administrado, emite radiação, neste caso gama, permitindo a aquisição de imagens, através de aparelhos chamados Câmaras Gama. A Câmara Gama tem uma ‘cama’, onde a criança se deita, e detectores que transformam a radiação recebida dos radiofármacos em imagem. A criança não fica fechada dentro da máquina, tem espaço entre os detectores, e a máquina não faz barulho enquanto está a funcionar.

Para realizar este exame, injecta-se, por via endovenosa, um radiofármaco que mostra a perfusão no cérebro, como o 99mTc-HMPAO ou o 99mTc-ECD.

Porque é realizado

Quando a epilepsia é resistente ao tratamento com medicamentos (Epilepsia Refractária), as lesões cerebrais vão aumentando com o número de crises, comprometendo o desenvolvimento da criança, e a cirurgia de remoção da zona epileptogénica pode ser uma solução. A identificação correcta desta zona é muito importante para o sucesso da cirurgia, para que seja removida com o mínimo de consequências cerebrais.

A SPECT de perfusão ictal é muito útil na avaliação destas crianças, antes da cirurgia, especialmente nos casos em que a Ressonância Magnética não encontra uma alteração cerebral que explique a epilepsia (epilepsia RMN-negativa).

Mesmo em crianças com lesões cerebrais conhecidas, este exame permite verificar se essas lesões são a causa da epilepsia.

Se os exames das várias especialidades não são concordantes e há necessidade de fazer um electroencefalograma (EEG) com eléctrodos colocados dentro do crânio, a SPECT de perfusão ictal pode também ajudar a dizer onde devem ser colocados.

Como é realizado

O sucesso da SPECT de perfusão ictal depende do momento da injecção do radiofármaco. Este deve ser injectado o mais cedo possível após o início da crise epiléptica, ou o resultado poderá não mostrar verdadeiramente o que se passa na perfusão do cérebro durante a crise. Para isso, a criança tem que estar internada numa Unidade de Vídeo-EEG, onde é vigiada antes, durante e depois da crise, e onde lhe é retirada a sua medicação anti-epiléptica.

Depois de passar a crise, a criança é levada para o Serviço de Medicina Nuclear, onde são feitas as imagens. No percurso e dentro do serviço, continua monitorizada por EEG, através duma ‘Headbox’ e está sempre acompanhada por um enfermeiro, o qual tem preparada medicação adequada, para ser administrada, no caso de ter crises. As imagens são obtidas, de preferência, entre os 30 e os 90 minutos, após a injecção do radiofármaco, embora possam ser feitas até 4 horas após.

A criança pode estar sempre acompanhada por um familiar e deverá ficar o mais quieta possível, enquanto se obtêm as imagens na Câmara Gama, para que estas não fiquem desfocadas. Uma parte da Câmara Gama rodará à volta da cabeça da criança (próximo, mas sem tocar), muito devagar, enquanto obtém as imagens, o que demorará cerca de 45 minutos.

No caso de crianças muito agitadas, é possível dar-lhes medicação própria para as acalmar, mas apenas antes de fazer as imagens. Podem ter os olhos fechados e até podem estar a dormir.

Contraindicações

Não são conhecidas contra-indicações.

Limitações

A eficácia do exame depende do tipo de crise, não sendo adequado no estudo de crises com origem em mais do que um local (multifocais) ou no ‘estado de mal epiléptico’, por exemplo.

Em crianças muito agitadas, o exame poderá ficar afectado pelo movimento.

Apesar de ser retirada a medicação anti-epiléptica à criança, durante o internamento, pode não ocorrer qualquer crise epiléptica, pelo que não poderá ser feita a SPECT de perfusão ictal. Nesse caso, o médico responsável poderá optar por realizar a SPECT de perfusão inter-ictal.

Falsos positivos

A SPECT de perfusão ictal poderá representar o padrão de propagação da crise (e não a zona epileptogénica), se a injecção do radiofármaco for dada tardiamente após o seu início, ou a propagação se dê muito rapidamente.

Falsos negativos

Se o radiofármaco for injectado muito tardiamente após o início da crise, ou até após a crise, o exame pode não detectar a zona epileptogénica, O mesmo pode acontecer se a crise for muito breve.

Cuidados a ter

O risco de reacções alérgicas é mínimo (inferior a 1%). As mais comuns foram comichão ou rubor corporal e inchaço da cara, que geralmente duram pouco tempo e são facilmente tratáveis.

Antes do procedimento

A criança é mantida em vigilância permanente quer na Unidade de Vídeo-EEG, quer no Serviço de Medicina Nuclear.

Depois do procedimento

Uma vez que parte destes produtos é eliminada pela urina, a criança deve beber bastantes líquidos e urinar frequentemente, depois do exame, nesse dia. Assim, consegue-se reduzir a dose de radiação a que a criança se expõe.

A quantidade de radiação utilizada é muito pequena e adaptada ao peso da criança, não havendo risco nem para a criança nem para outras pessoas. No entanto, se a mãe da criança estiver grávida, não é aconselhado que seja ela a acompanhar a criança enquanto estiver no Serviço de Medicina Nuclear, porque aí existe a possibilidade de estar exposta a maior dose de radiação do que a absolutamente necessária para a realização do exame do seu filho.

Dosimetria

Ao injectarmos o radiofármaco, todo o corpo recebe radiação, que é controlada e calculada de acordo com a idade e o peso da criança.

O órgão que recebe mais radiação é o cérebro, pois é aquele onde se fixa o radiofármaco. À medida que o radiofármaco é eliminado, passa para o sangue e depois para a urina, que se acumula na bexiga. Assim, este órgão fica exposto a mais radiação, daí a grande importância de dar líquidos à criança e desta urinar frequentemente.

Glossário

SPECT ictal – Estudo de Medicina Nuclear que avalia a distribuição do sangue no cérebro, durante uma crise epiléptica, com o objectivo de localizar a zona epileptogénica.

99mTc-HMPAO – radiofármaco que permite avaliar a perfusão cerebral regional.

99mTc-EDC – radiofármaco que permite avaliar a perfusão cerebral regional.

Zona Epileptogénica – zona do cérebro onde têm início as crises epilépticas.

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