Verrugas virais
Introdução
Definição
Verrugas virais são neoformações da pele e mucosas adjacentes causadas por vírus da família dos Vírus do Papiloma Humano (Human Papilloma Virus - HPV). Existem mais de 100 serotipos diferentes do HPV. Para cada tipo de verruga há um número restrito de serotipos que as podem provocar. Por exemplo, as verrugas vulgares são causadas sobretudo pelos serotipos 2, 4, 27, 29, enquanto as verrugas genitais são causadas em especial pelos serotipos 6, 11, 16, 18, 31.
Epidemiologia
As verrugas, nomeadamente as verrugas vulgares, ocorrem em qualquer idade, mas são raras na 1ª infância. A incidência aumenta nos anos escolares, atingindo um pico entre os 12 e 16 anos. Não poupam nenhum grupo etário ou localização cutânea, e nos atópicos a incidência é maior.
História Clínica
Anamnese
A história clínica é, habitualmente, irrelevante, podendo haver história de traumatismo cutâneo prévio que explique a localização das verrugas (por exemplo nos joelhos).
Exame objectivo
Existem diversos tipos clínicos de verrugas virais, com características algo diferentes entre eles:
- Verrugas vulgares – são as mais comuns. Manifestam-se como pápulas de superfície verrucosa, de dimensões entre 2 e 10 mm de diâmetro (podendo coalescer), assintomáticas.
Podem ser únicas ou múltiplas. Quando surgem nas mãos, localizam-se no dorso das mãos e dedos, mas podem também observar-se nas palmas, polpas dos dedos, peri ou subungueais (em jovens que roem as unhas – onicofagia - ou as peles periungueais). Outras localizações frequentes nos jovens são as peribucais, cotovelos, joelhos e dorso dos pés, mas nenhuma área da pele está imune. - Verrugas planas – causadas sobretudo pelos serotipos 3, 10, 28 e 49, caracterizam-se clinicamente por pápulas planas, discretamente rosadas ou da cor da pele, em regra múltiplas e assintomáticas; são frequentes na face, dorso das mãos e joelhos. Muitas vezes apenas se conseguem visualizar em observação tangencial com boa iluminação.
- Verrugas filiformes – são verrugas de base muito estreita, formando uma espécie de filamento de superfície verrucosa; são mais frequentes na face, em especial na região peribucal, região cervical, por vezes também no couro cabeludo
- Verrugas plantares – v. verrugas plantares
- Verrugas genitais (ou condilomas) – são habitualmente de transmissão sexual, pelo que em idade pediátrica são raras. Contudo, verrugas perianais nestes grupos etários deverão fazer suspeitar de possível abuso sexual.
- Outros tipos de verrugas mais raros, como a papulose bowenóide, epidermodisplasia verruciforme, verrugas intraorais e outras, não cabem no âmbito deste tema.
Modo de transmissão
As verrugas transmitem-se e disseminam-se por contacto directo ou indirecto. A alteração da função barreira da pele, provocando pequenas fissuras ou abrasões, bem como a maceração, facilita a inoculação do vírus. Isto é particularmente evidente nas verrugas periungueais em jovens que roem as unhas e peles em volta das unhas, nas verrugas da área da barba disseminadas pelo acto de barbear ou nas verrugas periorais.
O período de incubação pode ir até 12 meses, mas em média são 2-3 meses.
A imunidade celular parece ser o principal mecanismo de rejeição das verrugas, pelo que em situações de imunodeficiência primária ou adquirida, as verrugas são mais persistentes e com menor tendência à resolução espontânea.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico das verrugas é essencialmente clínico e não necessita, habitualmente, de qualquer exame complementar. O exame histopatológico poderá justificar-se, em casos raros, em grupos etários mais avançados, para excluir queratoses actínicas ou mesmo carcinomas espino-celulares. Nos jovens poderá colocar-se diagnóstico diferencial com:
- Molusco contagioso – patologia também muito frequente nos jovens, caracterizada por pápulas hemisféricas, com cerca de 1-2 mm de diâmetro, umbilicadas.
- Queratoses seborreicas – pouco frequentes na idade jovem, mas podem ter um aspecto semelhante
- Outras lesões, tais como xantogranulomas, mastocitomas únicos, raramente se confundem com as verrugas.
- As verrugas planas da face podem, por vezes, confundir-se com lesões de acne (não existem comedões nem pápulo-pústulas) ou com líquen plano noutras localizações.
Exames Complementares
Patologia Clínica
Não se justificam exames complementares, para além do eventual exame histopatológico.
Tratamento
Algoritmo clínico/ terapêutico
As verrugas nos jovens têm, na maioria dos casos, uma evolução limitada no tempo e com frequência resolvem espontaneamente. Mas esta não é obrigatória e é muito variável (de meses a anos), em especial nos atópicos, onde a evolução pode ser mais prolongada.
Não existe nenhuma terapêutica específica, tópica ou sistémica, e a utilização de cada método terapêutico depende de factores vários – localização e número de verrugas, tipo clínico de verruga, idade do paciente, experiência do médico, outras terapêuticas anteriormente efectuadas. Mas há que ter em mente que o método a utilizar não deverá, se possível, deixar cicatriz. Neste aspecto há que ter especial atenção às verrugas periungueais, as quais são de tratamento muito difícil. Poderá, pois, ser aconselhável protelar tratamentos agressivos na expectativa da resolução das verrugas.
Os métodos antigos de aplicação de cáusticos, como o ácido nítrico (“água forte”), ácido sulfúrico ou outros, estão em completo desuso pela pouca eficácia e risco de deixarem cicatriz.
O método mais simples é a aplicação tópica de produtos queratolíticos, em pomada ou verniz, contendo ácido salicílico e/ou ácido láctico. A eficácia é reduzida, mas são de fácil utilização quando as lesões são múltiplas.
Outros métodos destrutivos são:
- Crioterapia com azoto líquido – é um método excelente, em especial nas verrugas das mãos; é moderadamente doloroso, mas se bem utilizado é de grande eficácia e raramente deixa cicatrizes.
- Laserterapia de CO2 - é eficaz, mas exige anestesia local e pode deixar cicatrizes inestéticas nas mãos ou dolorosas nas palmas e plantas; é método para utilizar noutras localizações, por exemplo nos joelhos.
- Electrocoagulação – tem as mesmas vantagens e inconvenientes que a laserterapia.
- Curetagem – exige também anestesia local e apenas pode ser utilizada se o número de verrugas for limitado. É método para ser utilizado nas verrugas plantares, pois não deixa cicatriz.
- Nas verrugas planas da face a aplicação de soluto alcoólico de ácido salicílico a 5-10% ou loção de tretinoína 0,1% são métodos simples e por vezes eficazes.
- Imiquimod – é um imunomodulador tópico indicado para o tratamento de verrugas genitais.
- Outros agentes ou técnicas especiais podem ser utilizadas excepcionalmente, mas sempre e apenas por especialistas com experiência.
- A cirurgia clássica – excisão e sutura – deverá ser absolutamente evitada, sob risco de disseminação da verruga em cada ponto de sutura.
Evolução
Recomendações
As verrugas peribucais e periungueais são geralmente autoinoculadas, quando o paciente pretende arrancar as verrugas com os dentes ou tem o “tique” de roer unhas ou peles periungueais. Nestes casos há que tentar evitar estas manobras de modo a prevenir a disseminação das verrugas a locais indesejados.
Deseja sugerir alguma alteração para este tema?
Existe algum tema que queira ver na Pedipedia - Enciclopédia Online?