Torcicolo na criança - luxação rotatória atlantoaxial
Introdução
Definição
Também chamada de subluxação rotatória atlantoaxial, é uma das causas de torcicolo na criança. Decorre habitualmente de um traumatismo ou infecção. Pode também estar associada a estados inflamatórios como a artrite juvenil, bem como a deformidades congénitas.
Causa
A capacidade de rotação da cabeça é garantida na sua maior parte pela capacidade de rotação do áxis sob o atlas; para que isto ocorra as facetas articulares dispõem-se com uma orientação horizontal. A estabilidade desta articulação é conseguida à custa de estabilizadores primários que são o ligamento transverso, facetas e cápsulas articulares e, estabilizadores secundários que são os ligamentos apical e ligamentos alares.
Nas crianças a horizontalidade das facetas é mais acentuada, ganhando a conformação definitiva aos 8 anos; este facto associado a uma maior laxidão ligamentar faz com que traumatismos de baixa energia possam provocar subluxação / luxação das facetas articulares.
Do mesmo modo infecções ou estados inflamatórios locais prolongados podem ser a causa de lesão dos ligamentos estabilizadores do áxis, podendo resultar também numa instabilidade entre C1 e C2 (Síndrome de Grisel).
História Clínica
Anamnese
Numa luxação rotatória existe na realidade uma subluxação das facetas articulares de C1 e C2 que provoca dor, diminuição da mobilidade cervical e posição anómala da cabeça e do pescoço.
Exame objectivo
Clinicamente manifesta-se pela existência de uma contractura muscular do esternocleidomastóideo, no entanto, a posição do mento aponta para o mesmo lado em que existe a contractura (mecanismo reflexo para estabilizar a coluna cervical) e, a cabeça não roda para além da linha. Esta subtileza clínica permite diferenciar a subluxação do torcicolo, pois no caso do torcicolo o mento aponta para o lado oposto da contractura muscular.
Diagnóstico
O diagnóstico é por vezes tardio devido ao traumatismo “minor” associado e deve ser suspeitado quando um “torcicolo” demora mais de uma semana a resolver
Exames Complementares
Imagiologia
A suspeita clínica deve ser confirmada com exames radiológicos. As incidências AP e perfil da radiografia cervical podem ser de difícil interpretação pela posição anómala da cabeça e coluna cervical, mas podem ter utilidade para excluir alguma deformidade congénita ou fractura que sejam a causa dos sintomas. A incidência transbucal pode revelar uma assimetria no espaço entre o dente do áxis e as massas laterais de C1, a massa lateral de C1 rodada anteriormente aparece maior e mais próxima da apófise odontóide. Estudos dinâmicos de radiografia mostram que os arcos posteriores de C1 e C2 se movem de forma conjunta quando se faz a rotação do pescoço e não de forma independente, como seria suposto.
Tratamento
O factor determinante no prognóstico é o diagnóstico precoce e início de tratamento. A subluxação mantida para além de 3-4 semanas provoca alterações ósseas e de tecidos moles que tornam difícil a sua correcção através de métodos não cirúrgicos.
Médico
Casos diagnosticados na primeira semana podem ser tratados com simples imobilização cervical e medicação anti-inflamatória. Se a subluxação não reduz deve ser feito um período de tracção com cabresto ou aparelho de halo (começando com 3 kg e aumentando gradualmente segundo tolerância até aos 7 kg); este método demonstra grande eficácia até às 6 semanas de início dos sintomas, mas deve ser sempre tentado independentemente do tempo de evolução. Após ser conseguida a redução deve manter uma imobilização com colar cervical por um período de 6 a 12 semanas.
Cirurgia
Quando existe uma primeira recorrência deve ser realizada tracção cervical e após redução da subluxação, imobilização durante 3 meses com aparelho de halo.
Quando existe um segundo episódio de recorrência está indicada a fusão intervertebral C1-C2, tentando a redução da subluxação previamente à realização da fusão; quando a redução não é possível deve ser realizada uma fusão intervertebral “in situ”.
Evolução
A recorrência da subluxação deve-se a uma persistente laxidão da cápsula articular e ligamentos estabilizadores que, combinada com uma remodelação das superfícies articulares orientadas inferiormente, tornam a articulação instável aquando da rotação do pescoço.
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