Leishmaníase
Introdução
Definição
Vulgarmente conhecida por Kala-azar, a leishmaniase visceral é causada por parasitas do género Leishmania, principalmente das espécies L. donovani, L. infantum ou L. chagasi. Raramente estão implicadas as espécies L. amazonensis e L. tropica.
Epidemiologia
Anualmente é responsável por cerca de 50 000 óbitos, sendo, a seguir à malária, a parasitose que causa maior número de mortes.
Distribui-se principalmente por Ásia, América do Sul, África e Médio Oriente, sendo o Brasil, Índia, Sudão, Bangladesh e Nepal os países mais afectados, apresentando cerca de 90% dos casos. Ocorrem também infecções nos países da Europa Meridional.
Nas áreas urbanas os cães são os principais reservatórios e nas áreas rurais as raposas e os marsupiais.
A transmissão ao ser humano faz-se geralmente por picada de fêmeas das designadas moscas de areia - Phlebotomus e Lutzomiya. Também pode ocorrer por transfusão de sangue contaminado, uso de agulhas contaminadas ou verticalmente de mãe para filho.
O período de incubação é geralmente 3 a 8 meses mas pode variar entre 1 mês e vários anos.
As várias espécies de leishmânia não podem ser distinguidas em bases morfológicas. Esta distinção, que outrora estava assente em bases clínicas e epidemiológicas, é feita actualmente por estudos moleculares.
História Clínica
Apenas cerca de 3% dos infectados apresentam sintomas, que são:
- Febre persistente, anorexia, diarreia, fadiga, perda de peso, tosse, epistaxes, edema dos pés, pele seca e áspera e linfadenopatia.
- Dor e distensão abdominal causadas pela hepato-esplenomegalia. Há casos raros de leishmaniase visceral sem esplenomegalia.
- Com a continuidade podem ocorrer insuficiência renal e, devido à imunodeficiência, infecções secundárias, destacando-se pneumonia, disenteria e tuberculose.
Diagnóstico Diferencial
- Malária
- Schistosomíase
- Mononucleose infecciosa
- Doenças linfoproliferativas e mieloproliferativas
- Conectivites
- Esplenomegalia tropical
- Febre tifóide
- Brucelose
- Tuberculose miliar
Exames Complementares
- As alterações laboratoriais são inespecíficas, mas levantam suspeita, são: anemia, trombocitopenia, leucopenia e hipergamaglobulinemia.
- Os testes serológicos evitam métodos invasivos, mas, como podem permanecer positivos vários anos após a cura da leishmaniase, não ajudam, em certos casos, a distinguir as recidivas das seropositividades persistentes:
- ELISA
- Imunofluorescência indirecta
- Aglutinação directa
- rK39 - teste rápido
- Podem ocorrer testes falsos positivos na presença de lepra, malária, tripanossomíase americana, schistosomíase, toxoplasmose e leishmaniase cutânea.
- Detecção de leishmânias, por microscopia ou cultura dos tecidos obtidos por aspirado ou biopsia de medula óssea, gânglio ou baço, proporciona sempre o diagnóstico correcto.
- PCR do soro ou dos tecidos.
Tratamento
Anfotericina B lipossómica em perfusão i.v., é a terapêutica mais eficaz e com menor toxicidade, mas, o custo muito elevado limita a sua utilização em contextos socioeconómicos vulneráveis. Modalidades terapêuticas com Anfotericina B:
- 3 mg/Kg, 1x/dia, nos dias 1, 2, 3, 4, 5, 7 e 21, ou
- 3-4mg/Kg, 1x/dia, durante 7 a 10 dias consecutivos, ou
- 4 mg/Kg, 1x/dia, nos dias 1, 2, 3, 4, 5, 10, 17, 24, 31 e 38, nos doentes imunodeficientes.
Alternativas:
- Antimoniato de meglumina (glucantime) IM ou IV, 20mgKg,1x/dia, durante 30 dias, ou
- Paromomicina IV ou IM, 15mg/Kg,1x/dia, durante 21 a 28 dias, ou
- Miltefosine oral, durante 28 dias: Pacientes com peso 8 a 20Kg - 2,5mg/Kg, 1x/dia; a partir dos 20Kg esta posologia pode ser mantida ou optar-se por um esquema simplificado: Peso 20 a 25Kg – 50mg, 1x/dia; Peso superior a 25Kg – 100mg, 1x/dia.
Associações terapêuticas com bons resultados:
- Glucantime 20 mg / Kg, 1 x / dia, durante 17 dias + paromomicina 15 mg / Kg, 1 x / dia, durante 17 dias.
Evolução
Nos pacientes que não recebem qualquer tipo de tratamento a morte ocorre por diversas causas: anemia grave; infecções secundárias; malnutrição grave.
Dos medicados com glucantime, 3-10% podem morrer devido a arritmias cardíacas, principalmente se 45 anos de idade.
Melhoria clínica é considerada se ao fim de 7 – 10 dias forem constatados:
- ausência de febre;
- redução do baço;
- sinais de melhoria da anemia.
Melhoria laboratorial é considerada se exame parasitológico do aspirado da medula óssea, gânglios linfáticos ou baço for negativo.
Recomendações
- Redes mosquiteiras nos domicílios
- Combate aos mosquitos vectores com insecticidas
- Tratamento atempado das pessoas infectadas
- Vacinação dos cães
- Desinfecção das coleiras dos cães com o insecticida deltametrina.
Bibliografia
- Davidson R, Brent A, Seale A. Tropical Medicine, 4th edition. Oxford University Press, 2014
- Kwan-Gett TSC, Kemp C, Kovarik C. Infectious and Tropical Diseases, 1th edition. Mosby Elsevier, 2006.
- Matthews PC. Tropical Medicine Notebook, 1th edition. Oxford University Press, 2017.
- Torok E, Moran E, Cooke F. Infectious Diseases and Microbiology, 2th edition. Oxford University Press, 2017.
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