Introdução
A glicogenose tipo 1(GSD I) é uma doença de armazenamento do glicogénio causada por défice da glicose-6-fosfatase (G6Pase). Compreende dois subtipos, GSDIa (Glicogenose Tipo Ia) e GSDIb, com características muito semelhantes. No presente artigo apenas são abordadas as particularidades da GSD Ib.
Epidemiologia
A GSDI tem uma incidência estimada de 1 em cada 100.000 nascimentos. O subtipo Ib corresponde a 20% dos casos.
Etiologia
O sistema da G6Pase é crucial na regulação da glicémia. É constituído por uma unidade catalítica (enzima, G6Pase) e transportadores. A GSD tipo Ib é devida a mutações no gene SLC37A4 (11q23), resultando no défice do transportador G6P ou translocase G6P (G6PT), responsável pelo transporte da glicose-6-fosfato para o retículo endoplasmático, onde será convertida em glicose por ação da G6Pase. No défice da translocase, tal como no da enzima, ocorre hipoglicémia em jejum, acumulação de glicogénio no fígado e rim, hiperlactacidémia, dislipidémia e a hiperuricémia. A doença é de transmissão autossómica recessiva.
História Clínica
A apresentação clínica é sobreponível à da GSD tipo Ia (ver artigo na PEDIPEDIA).
Adicionalmente, os doentes com GSD tipo Ib desenvolvem netropenia progressiva e disfunção dos neutrófilos (habitualmente no primeiro ano de vida). Desta forma, são comuns episódios recorrentes de infeCções mucocutâneas e/ou sistémicas, por vezes graves.
A doença inflamatória intestinal é uma complicação que pode surgir, geralmente na 2ª ou 3ª década de vida.
Diagnóstico Diferencial
Atendendo à sobreposição de manifestações clínicas nos dois subtipos de GSD I, o diagnóstico diferencial e investigação diagnóstica são similares (ver artigo referente à GSD tipo Ia).
As alterações consistentes com GSD tipo Ib são, para além de hipoglicémia do jejum curto, acidose láctica, hipertrigliceridemia, hiperuricémia e neutropenia. Esta pode ser intermitente e de gravidade variável.
Exames Complementares
Tratamento
O tratamento tem como principais objetivos: evitar a hipoglicémia e suas sequelas neurológicas, bem como manter um bom controlo metabólico, de forma a prevenir complicações a longo prazo (neoplasia hepática, insuficiência renal, etc.).
Para além das orientações em comum com a GSD tipo Ia, na GSD tipo Ib é frequente a necessidade de antibioterapia periódica, atendendo ao estado de imunodepressão.
O tratamento com factor estimulante de colónias de granulócitos (GCSF) melhora a contagem/função dos neutrófilos, reduz a frequência e gravidade das infeções e melhora a colite em muitos doentes. Tendo em conta os efeitos adversos esta terapêutica deve ser instituída sob cuidadosa monitorização e em situações específicas, nomeadamente: neutrófilos
As indicações para transplante hepático são semelhantes às do tipo Ia, sendo que não corrige a neutropenia.
Bibliografia
- Hoffmann G., Zschocke J., Nyhan W. (2017). Inherited Metabolic Diseases, 2th edition, Springer, pp. 223-225.
- Saudubray, J.-M., Baumgartner, M. R., Walter, J. (2016). Inborn Metabolic Diseases – Diagnosis and Treatment, 6th edition, Springer, pp 122-127.
- Villares JMM, Fernández MCD, Conejo MM (2018). Protocolos diagnósticos y tratamento de enfermidades metabólicas hereditárias, 2ªedicion, Ortega DG. (eds), pp. 155-162.
- Hepatic glycogenosis. In https://metabolicas.sjdhospitalbarcelona.org// (consultado em 07/2020)
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