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Introdução

A Síndrome de Noonan (SN) é uma doença genética cujas principais manifestações incluem baixa estatura e patologia cardíaca, mais frequentemente estenose pulmonar (estreitamento/obstrução de uma das válvulas cardíacas – a válvula pulmonar) e cardiomiopatia hipertrófica (espessamento e rigidez das paredes do coração).
 

Frequência

A SN ocorre em 1 / 1000 a 2500 pessoas. Uma vez que crianças com poucas manifestações da doença podem nunca ser diagnosticadas, a sua verdadeira incidência permanece desconhecida. Afecta ambos os sexos, contudo é mais facilmente identificada nos rapazes com criptorquidia (ausência de um ou dos dois testículos na bolsa escrotal) e em idades mais precoces.

Causa

A SN é frequentemente uma doença genética de transmissão autossómica dominante; isto significa que quando um dos pais tem um gene alterado (mutação), poderá transmitir aos filhos ou o gene normal ou o gene alterado. Assim, cada um dos seus filhos tem uma probabilidade de 50% de herdar o gene mutado e de desenvolver a doença. Nestas situações, normalmente a doença aparece em todas as gerações de uma família.

Também pode acontecer que a síndrome surja por uma mutação genética espontânea numa criança cujos pais não têm genes afectados.

As mutações genéticas habitualmente são encontradas numa via que modifica o funcionamento normal das células (RAS-MAPK). Podem ocorrer mutações em muitos genes diferentes dessa via, contudo a principal mutação (em 50% dos casos) ocorre num gene específico (PTPN11). Em 20% dos casos não é possível identificar a mutação que causa a SN.

Sinais e sintomas

As manifestações de SN mais frequentes são características faciais típicas (pescoço alado, orelhas com implantação baixa, pálpebras caídas, olhos amplamente espaçados), baixa estatura e obstrução da válvula cardíaca pulmonar (em 50% dos casos).

Mesmo antes do nascimento, pode ser ecograficamente identificado líquido amniótico em excesso ou alterações cardíacas sugestivas.

As características faciais típicas tornam-se mais aparentes a partir do final do primeiro ano de vida e ao longo da infância e menos perceptíveis na idade adulta.

Relativamente à baixa estatura, é importante referir que, em ~ 83% das crianças com SN, a altura é inferior ao percentil 3 para a idade. O peso, comprimento e perímetro cefálico ao nascimento geralmente encontram-se dentro de valores normais.

Podem surgir dificuldades importantes na alimentação até aos 18 meses de idade, com necessidade de alimentação por sonda.

Pode verificar-se ausência ou atraso no início da puberdade em até dois anos.

A fertilidade pode estar comprometida nos homens (e não nas mulheres).

Até um quarto dos doentes apresenta um atraso ligeiro no desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem; em apenas 10 a 15% há necessidade de apoio pedagógico individualizado com adaptações curriculares.

Apresentam maior risco de hemorragias, de acumulação de líquido no corpo (edema), de algumas neoplasias e doenças autoimunes. Podem apresentar alterações nos rins (11%), alterações na pele, principalmente pele seca (que melhora com emolientes), problemas de visão (até 95%) e de audição, defeitos no esqueleto (nomeadamente na caixa torácica e coluna) e problemas dentários.

De referir por fim que a gravidade dos sintomas/patologias mencionadas é muito variável de doente para doente e depende do gene mutado.  

O que fazer

O diagnóstico desta síndrome é feito de acordo com os sintomas do doente, mas habitualmente é necessário um teste genético para confirmar se existe alguma mutação genética que justifique a doença.

Normalmente é também realizado um exame de estudo dos cromossomas (cariótipo) para excluir outras doenças. Para realizar esses exames são necessárias amostras de sangue. Quando a suspeita de SN surge em adolescentes / idade adulta, é importante mostrar ao médico fotografias da infância onde as características faciais podem ser mais elucidativas.

Em determinadas situações, a deteção da mutação deve ser seguida de avaliação da família para aconselhamento genético.

Tratamento

Não há cura para a SN. O tratamento tem como objectivo reduzir sintomas e gerir as diferentes complicações da doença, nomeadamente do ponto de vista cardiovascular. Na maioria das vezes, o tratamento das complicações da SN é semelhante ao tratamento dessas mesmas complicações em doentes sem SN.

É recomendado um seguimento em consulta por médicos de diferentes especialidades, geralmente, um pediatra do neurodesenvolvimento, um geneticista, um cardiologista, um otorrinolaringologista, um oftalmologista e um estomatologista/médico dentista, podendo ser necessárias intervenções de outras especialidades consoante os sintomas apresentados (por exemplo, seguimento por cirurgia pediátrica se apresentar um testículo não descido que pode necessitar de ser operado).

Nas crianças com baixa estatura, pode ser importante realizar um tratamento com hormona de crescimento; na maioria das vezes o tratamento é seguro e benéfico, no entanto podem existir situações de resistência à hormona de crescimento em que os resultados não são favoráveis.

Evolução / Prognóstico

O prognóstico é muito variável. A maioria dos doentes com SN é capaz de funcionar na idade adulta sem qualquer limitação do ponto de vista cognitivo.

A qualidade de vida dos doentes irá variar de acordo com a gravidade dos sintomas e das doenças associadas (principalmente do ponto de vista cardíaco). O diagnóstico de cardiomiopatia hipertrófica antes dos 2 anos de idade indicia pior prognóstico.

Nos doentes com estreitamento/obstrução da válvula pulmonar pode ser realizada uma valvuloplastia para alargar a abertura dessa válvula. Nessa cirurgia utiliza-se um cateter com um balão na extremidade que é guiado através de uma veia para chegar ao coração; esse balão é insuflado no interior da válvula, aumentando o seu calibre. No caso desta complicação cardíaca em específico, os doentes com SN apresentam uma probabilidade aumentada de necessitarem de mais do que uma intervenção cirúrgica comparativamente aos doentes sem SN.

Estudos recentes reportaram patologia psiquiátrica em cerca de metade dos adultos com SN, nomeadamente ansiedade e/ou depressão.

Saber Mais

  1. Nina N. Powell-Hamilton. Síndrome de Noonan. Manual MSD - Versão para famílias, Nov 2018
  2. Estenose Valvular Pulmonar
  3. Baixa Estatura

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