Oxigenioterapia
Introdução
Definição
A administração de oxigénio (O2) é um procedimento muito comum em Unidades de Neonatologia. Existem diferentes métodos de administração de oxigénio em recém-nascidos (RN). As formas mais comuns de administração, bem como as suas vantagens e desvantagens estão descritas na tabela seguinte:
Modo de administração de O2 | Vantagens | Desvantagens |
Hood Fornece O2 para um espaço fechado, tipo campânula, junto à cabeça do RN. Actualmente é pouco utilizado nas Unidades de Neonatologia de países mais desenvolvidos. |
Acesso fácil ao RN Bem tolerado Utilização simples Pouco dispendioso |
Mobilidade reduzida do RN Interrupção / diminuição da administração de O2 nas manipulações / alimentação Possível acumulação de CO2 (necessários fluxos superiores a 2-3 L/min para evitar re-inalação de ar previamente expirado) |
Oxigénio em incubadora Fornece O2 no interior da incubadora. |
Acesso fácil ao RN Bem tolerado Utilização simples Pouco dispendioso |
Interrupção/ diminuição da administração de O2 nas manipulações / alimentação |
Administração de O2 junto à face Administração de O2 através de uma fonte colocada junto à face do RN. |
Acesso fácil ao RN Bem tolerado Utilização simples Pouco dispendioso |
Método pouco preciso na quantificação de FiO2 administrada dada a mistura com ar ambiente |
Máscara facial Fornece O2 através de máscara facial. |
Acesso fácil ao RN Bem tolerado Utilização simples Pouco dispendioso |
Interrupção/ diminuição da administração de O2 nas manipulações / alimentação Não permite autonomia na alimentação do RN Possível acumulação de CO2 em fluxos baixos (existem máscaras com válvulas que impedem a re-inalação do CO2 previamente expirado) Método pouco preciso na quantificação de FiO2 administrada dada a mistura com ar ambiente |
Cateter nasal e cateter nasofaríngeo Administração de O2 através de uma sonda/ cateter introduzido pelas fossas nasais até à cavidade nasal (cateter nasal) ou nasofaringe (cateter nasofaríngeo, introduzido até à distância medida entre o nariz e orifício auditivo externo, de modo a terminar na nasofaringe, imediatamente abaixo do palato mole). |
Acesso fácil ao RN Bem tolerado Utilização simples Pouco dispendioso Geração de PEEP Pouca distensão gástrica |
Possível interferência com a colocação de sonda gástrica Possível obstrução com secreções respiratórias Método pouco preciso na quantificação de FiO2 administrada dada a mistura com ar ambiente |
Cânulas nasais de baixo fluxo Fornecimento de O2 através de cânulas nasais com cerca de 1 cm de comprimento, aplicadas em cada uma das narinas. |
Acesso fácil ao RN Bem tolerado Utilização simples Pouco dispendioso Geração de PEEP Pouca distensão gástrica |
Possível interferência com a colocação de sonda gástrica Possível obstrução com secreções respiratórias Método pouco preciso na quantificação de FiO2 administrada dada a mistura com ar ambiente |
Alto fluxo por cânulas nasais Suporte respiratório não invasivo, que fornece uma mistura de gás e O2 aquecido e humidificado, a um fluxo constante, mais elevado do que o fluxo inspiratório do doente e do que o utilizado em cânulas nasais convencionais. |
Acesso fácil ao RN Bem tolerado Utilização simples Pouco dispendioso Geração de PEEP Pouca distensão gástrica Ajuste preciso da administração de O2 |
Pode gerar PEEP inadvertidamente alta |
Administração de oxigénio através de ventiladores | Administrado nas situações de necessidade de ventilação mecânica invasiva ou não invasiva |
PEEP - pressão expiratória positiva
Tratamento
Monitorização
A monitorização cuidadosa da administração de oxigénio permite minimizar as consequências da hipoxia ou hiperoxia. O nível de oxigenação pode ser avaliado de diferentes formas:
- Gasimetria arterial: mede a PaO2; método ideal para avaliação da oxigenação; não permite monitorização contínua, já que fornece apenas um valor num determinado momento; amostras de sangue capilar ou venoso (frequentemente mais acessíveis em Neonatologia) não avaliam adequadamente a oxigenação.
- Oximetria de pulso: mede a saturação periférica de oxigénio (SpO2), reflectindo 98% do conteúdo de oxigénio arterial, transportado pela hemoglobina; técnica imediata, contínua, não invasiva, de fácil aplicação; determinação da SpO2 pode ser afectada pelo movimento, deslocação do sensor, exposição a luz ambiente, vasoconstrição periférica, hipoperfusão, choque ou anemia grave; devido à curva de dissociação de hemoglobina, a oximetria de pulso é pouco eficaz na detecção de hiperoxia ou hipoxemia grave; a partir de SpO2 de 96% os valores de PaO2 podem ser excessivamente elevados.
- Monitorização transcutânea: mede a tensão de oxigénio (TcPO2) através de um eléctrodo aplicado sobre a pele do RN; ainda pouco utilizada em Unidades de Neonatologia.
Níveis Alvo de Oxigenação
Em RN prematuros, SpO2 excessivamente baixas podem associar-se a mortalidade aumentada e atraso do desenvolvimento psicomotor. Por outro lado, a administração excessiva de O2 pode estar associada a displasia broncopulmonar e a retinopatia da prematuridade.
A SpO2 deve ser monitorizada de forma contínua de modo a manter a SpO2 nos níveis alvo. As recomendações europeias sugerem saturações alvo na ordem de 90-95%. Uma estratégia possível é:
Idade gestacional | |
Até às 36 semanas de idade pós-menstrual | 90-94% |
≥ 36 semanas de idade pós-menstrual | 92-96% |
Idade gestacional 28 - 36 semanas | |
Até às 36 semanas de idade pós-menstrual | 90-94% |
≥ 36 semanas de idade pós-menstrual | 92-96% |
Idade gestacional ≥ 37 semanas | |
Doença pulmonar parenquimatosa | 92-96% |
Hipertensão pulmonar persistente | 94-98% |
Cardiopatia congénita cianótica | 70-85% |
Bibliografia
- Guimarães J, editores. Manual prático de ventilação neonatal. Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. 2016
- Owen L, Manley B, Davis P, Doyle L. The evolution of modern respiratory care for preterm infants. Lancet. 2017; 389: 1649-59
- Jackson J, et al. Standardizing nasal cannula oxygen administration in the neonatal intensive care unit. Pediatrics. 2006; 118: S187-S196
- Frey B, Shann F. Oxygen administration in infants. Arch Dis Child Fetal Neonatal ed. 2003; 88: F84-F88
- Rimensberger P et al, Pediatric and Neonatal Mechanical Ventilation. Springer. 2015
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