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Introdução

É uma reacção de hipersensibilidade a fármacos, não-IgE-mediada, que pode ser grave e potencialmente ameaçadora de vida. Clinicamente, apresenta semelhanças com o FPIES (enterocolite induzida por proteínas alimentares), envolvendo diferentes alergénios (nomeadamente fármacos vs. alimentos).

Epidemiologia

Foi descrita pela primeira vez em 2014 por Novembre et al., havendo poucos casos descritos até à data. Trata-se de uma entidade rara e provavelmente sub-diagnosticada que parece ocorrer com maior frequência em idade pediátrica. Os casos descritos até à data incluíram reações a antibióticos (amoxicilina, amoxicilina/ácido-clavulânico), pantoprazol e paracetamol.

História Clínica

Anamnese,

É essencial a colheita de uma história clínica detalhada, nomeadamente deve-se questionar acerca de reações semelhantes com tomas prévias do mesmo fármaco.

Exame objectivo

Na ausência de critérios de diagnóstico validados, o diagnóstico é baseado nos mesmos critérios clínicos utilizados para o diagnóstico de FPIES.

Critério major (obrigatório): vómitos 1-4 horas após ingestão do fármaco suspeito e ausência de sintomas cutâneos ou respiratórios clássicos IgE-mediados

Critérios minor (necessária a presença de 3 ou mais critérios):

  • Segundo episódio de vómitos repetidos após ingestão do mesmo fármaco
  • Episódio de vómitos repetidos após ingestão de outro fármaco
  • Letargia grave
  • Palidez acentuada
  • Necessidade de ida ao Serviço Urgência
  • Necessidade de fluidoterapia endovenosa
  • Diarreia em 24h após ingestão do fármaco (habitualmente 5-10h)
  • Hipotensão
  • Hipotermia

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico é clínico, através do aparecimento de sintomas e sinais típicos 1-4 horas após a toma do fármaco, podendo ser confirmado por uma prova de provocação. Uma vez que a sua forma de apresentação pode ser confundida com outras entidades, torna-se importante excluir:

  • Reações de hipersensibilidade IgE-mediadas: habitualmente os sintomas aparecem na primeira hora (tipicamente após 30 minutos) após exposição; sintomas respiratórios ou cutâneos clássicos (urticária, angioedema, rinite, broncospasmo e anafilaxia); positividade dos testes alérgicos (nomeadamente testes cutâneos e níveis de IgE específicas)
  • Patologia gastrointestinal: doença do refluxo gastroesofágico, obstrução GI, enterocolite necrotizante, doença celíaca
  • Infeções e sépsis: as gastroenterites víricas ou bacterianas tipicamente apresentam-se com vómitos, diarreia e desidratação. Deve ser equacionada a hipótese de sépsis em doentes com desidratação aguda e letargia. Tipicamente no DIES não existe história de febre ou contexto epidemiológico.
  • Doenças metabólicas: podem apresentar-se com vómitos, desidratação e letargia; devem ser consideradas na presença de acidose metabólica
  • Doenças neuropsiquiátricas (p.ex. síndrome dos vómitos cíclicos)

Exames Complementares

Patologia Clínica

  • Hemograma, bioquímica, gasometria: avaliação do equilíbrio hidroeletrolítico; assim como no FPIES, parece ser comum a presença de leucocitose e neutrofilia;
  • A metahemoglobina, ao contrário do FPIES, pode estar normal;
  • Biomarcadores específicos: não existem, uma vez que não há subida dos níveis de triptase durante a fase aguda;
  • Doseamento de IgE específica e testes cutâneos: habitualmente negativos;
  • Prova de provocação em ambiente hospitalar: embora não obrigatória, na presença de apenas um episódio, é altamente recomendada; permite confirmar ou excluir formalmente o diagnóstico; pode também ajudar a evitar casos de sobrediagnóstico desta entidade.

Imagiologia                      

Não recomendada na maioria dos casos; apenas na suspeita de um dos diagnósticos diferenciais que o justifique.

Tratamento

O tratamento é essencialmente de suporte, habitualmente com fluidoterapia endovenosa e antieméticos (ondansetrom). Em alguns casos, podem ser utilizados corticóides sistémicos.

Evolução

A maioria dos casos apresenta boa resposta após tratamento de suporte, sendo que todos os casos descritos apresentaram recuperação completa. Não existem relatos de mortes associadas a esta entidade.

Dado o escasso número de casos descritos na literatura, ainda existem muitas perguntas por responder, nomeadamente em relação à fisiopatologia, fenótipos da doença (agudo vs. crónico), história natural da doença, fatores precipitantes e prognóstico.

Recomendações

Após confirmação do diagnóstico, a medida mais importante é a evicção de novas tomas do fármaco em causa. A utilização de ondansetrom oral pode ser útil numa fase precoce, principalmente antes de chegarem ao Serviço de Urgência, de forma a evitar desidratação grave, desequilíbrios eletrolíticos e choque hipovolémico.

É importante alertar os clínicos para o reconhecimento desta entidade, principalmente na presença de doentes com distúrbio digestivo recorrente, independentemente da idade.

Saber Mais

DIES: Enterocolite induzida por fármacos

FPIES – Enterocolite induzida por proteínas alimentares

GI - Gastrointestinal

IgE: Imunoglobulina E específica

Bibliografia

1 - Mori F, Liccioli G, Fuchs O, Barni S, Giovannini M, Sarti L, Novembre E, Caubet JC. Drug-induced enterocolitis syndrome: Similarities and differences compared with food protein-induced enterocolitis syndrome. Pediatr Allergy Immunol. 2021 Aug;32(6):1165-1172. doi: 10.1111/pai.13491. Epub 2021 Mar 29. PMID: 33651420.

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4 - Van Thuijl AOJ, Landzaat LJ, Liem O, Emons JAM, Arends NJT. Drug-induced enterocolitis syndrome (DIES): A clinical entity that deserves more awareness. Ann Allergy Asthma Immunol. 2019 May;122(5):538-539. doi: 10.1016/j.anai.2019.02.004. Epub 2019 Feb 14. PMID: 30772389.

5 - Worcel J, Tarelho M, Baron M, Ponvert C, Bidat E, Benoist G, Lezmi G. Drug-induced enterocolitis syndrome (DIES) in a 10-year-old girl. Arch Pediatr. 2020 Jan;27(1):51-52. doi: 10.1016/j.arcped.2019.11.005. Epub 2019 Nov 26. PMID: 31784292.

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