Introdução
Definição
Doença crónica da unidade pilossebácea
Epidemiologia
Presente em todas as idades de todas as populações, é mais frequente nos povos de origem caucasiana. É a doença cutânea mais frequente na adolescência, podendo afectar qualquer idade a partir do nascimento.
É cada vez mais comum a partir dos 8 anos, sem endocrinopatia. Há 20% com sequelas cicatriciais. No recém-nascido a acne é facilitada pelas hormonas maternas, sendo a secreção de androgénios pelas gónadas a principal responsável após a puberdade.
A causa é multifatorial associada a predisposição genética. Vários medicamentos facilitam a acne.
Surge como resultado da inter-relação de: (1) proliferação do epitélio folicular com a correspondente obstrução folicular (2) produção excessiva de sebo (3) presença e atividade da bactéria comensal Propionibacterium acnes e (4) inflamação.
História Clínica
Anamnese
Observável sobretudo na adolescência, é cada vez mais frequente a partir dos 7 a 8 anos. Pode existir prurido e alguma dor/ sensibilidade, principalmente nas lesões inflamatórias. O impacto psicossocial, condiciona elevados níveis de depressão e mesmo ideação suicida.
Exame objectivo
A acne caracteriza-se por: (1) lesões retencionais, não inflamatórias – comedões, abertos (pontos negros) e fechados (pontos brancos/microquistos), (2) lesões inflamatórias – pápulas, pústulas, nódulos e quistos, e (3) lesões residuais – as cicatrizes.
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Assim, classificamos habitualmente a acne em comedónica (retencional), inflamatória (pápulas e pústulas) e nódulo-quística. Por vezes, essencialmente nesta última variante, há confluência de quistos, com abcessos e fístulas comunicantes – acne conglobata.
Com o objectivo de seleccionar a terapêutica mais adequada, para além do tipo de acne, interessa ainda avaliar a sua gravidade. Apesar de haver várias escalas, esta classificação é geralmente feita de forma simples em acne ligeira, moderada ou severa, de acordo com o tipo, número de lesões presentes e extensão de pele envolvida
As áreas afetadas são as que têm maior densidade de glândulas sebáceas – face e tronco superior.
Diagnóstico Diferencial
Devem ser considerados alguns quadros clínicos que podem simular acne
- Quistos de milia
- Queratose pilar
- Verrugas planas
- Molusco contagioso
- Siringomas
- Foliculites de vários tipos
- Pseudofoliculite da barba
- Rosácea e dermite perioral
- Angiofibromas (da esclerose tuberosa)
- Erupções pustulosas dos recém-nascidos - a distinção deste grupo nosológico pode ser difícil e é controversa.
Exames Complementares
Patologia Clínica
O diagnóstico da acne é clínico.
Em crianças com idade inferior a 7 anos ou quando a resposta à terapêutica não seja a esperada, a recidiva seja rápida, ou a acne se acompanhe de outros sinais de androgenização (hirsutismo, alterações menstruais, etc.), deverá ser investigada a possibilidade de disfunção hormonal, nomeadamente a hiperplasia congénita da supra-renal e a síndroma do ovário poliquístico, entre outras.
Tratamento
Há uma escolha variada entre medicamentos tópicos e sistémicos. É necessário avaliar o grau de gravidade, a morfologia das lesões e a motivação dos pacientes. Os esquemas terapêuticos devem ser adaptados a cada doente, tentando que sejam facilmente exequíveis.
Assim, podemos optar por tratamento tópico ou sistémico, em monoterapia ou com associações.
Terapêutica tópica
Destina-se a desobstruir os ductos, eliminar os comedões, e controlar a atividade bacteriana e inflamatória.
1 – Retinóides (tretinoína, adapaleno, isotretinoína) de 1ª linha, uma vez que atuam em vários dos alvos referidos. Estão contra-indicados na grávida e secam a pele colocando, por vezes, algumas limitações à sua utilização. Usam-se isoladamente ou em combinações várias. Apesar de estarem recomendados a partir dos 12 anos, são geralmente usados em idades inferiores quando necessário.
2 – Antibióticos (clindamicina e eritromicina) - reduzem a colonização por P. acnes, tendo atividade essencialmente anti-inflamatória. A sua utilização frequente ou prolongada pode causar resistências bacterianas, pelo que não devem ser usados em monoterapia. Se o seu uso for necessário para além de algumas semanas, devem ser associados ao peróxido de benzoílo.
3 - Peróxido de benzoílo - tem atividade antibacteriana, comedolítica e diminui a resistência aos antibióticos, tornando útil a associação; é irritativo e pode desencadear dermite de contacto alérgica.
4 - Outros tópicos, como sejam o ácido azelaico, os alfa e beta hidroxiácidos, o ácido salicílico e o zinco, complementam os anteriores.
Os agentes de limpeza suaves ou com ligeiro efeito exfoliativo podem ser úteis, principalmente em formas comedónicas ligeiras
É ainda necessário utilizar emolientes adequados, sempre que necessário, uma vez que a maior parte dos agentes terapêuticos causam secura e descamação com o desconforto inerente.
Terapêutica sistémica
Inclui a isotretinoína, os antibióticos e a terapêutica hormonal, no sexo feminino.
1 – Isotretinoína – eficaz, atua em todos os alvos da patologia. A contra-indicação para o seu uso é a gravidez, dada a sua conhecida teratogenicidade. Deverá implementar-se uma prevenção eficaz da gravidez. A secura cutânea é um efeito secundário universal. Pode usar-se em doses variáveis, de acordo com a intensidade e o tipo de acne; a maioria dos efeitos secundários é dose dependente.
2 – Antibióticos orais (doxiciclina, minociclina, macrólidos) são apropriados para a acne inflamatória moderada a grave, não devendo prolongar-se a sua administração para lá dos 3 meses
3 – Terapêutica hormonal, no sexo feminino, com anticoncetivos orais combinados pode ser útil, em acne moderada a grave, se excluídas as eventuais contra-indicações. É recomendado que, na ausência de perturbação endocrinológica, não sejam usados no primeiro ano após a menarca.
Na idade pediátrica as concentrações de retinóides tópicos e de peróxido de benzoílo devem ser mais baixas; a dose dos medicamentos sistémicos deve adequar-se ao peso e idade, sendo que os derivados da tetraciclina só se podem utilizar após os 8 anos.
4 – Terapêutica adjuvante - aumenta significativamente a eficácia do tratamento clássico. A abertura e extração de comedões fechados é fundamental na acne retencional. Os peelings superficiais, à base de ácido glicólico ou ácido salicílico são úteis nas lesões retencionais na melhoria das cicatrizes e inflamação e prevenção de novas lesões. Ocasionalmente, em formas particulares de acne quística ou queloidal têm indicação os corticóides em injecção intralesional.
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Algoritmo clínico/ terapêutico
A escolha da terapêutica depende do tipo e gravidade da acne. Habitualmente devem ser escolhidas as mais simples e inócuas, evitando recorrer aos antibióticos, ou fazendo-o em associação. A escolha dos fármacos sistémicos deve ter em atenção as variáveis já referidas. É importante identificar os casos com maior tendência cicatricial e com maior impacto emocional e tratá-los de forma muito activa desde o início.
Evolução
Recomendações
Bibliografia
Eichenfield LF et al. Pediatrics 2013;131:S163-S186
Thiboutot D, Gollnick H, Bettoli V, Dreno B, Kang S, Leyden JJ et al. New insights into the management of acne: an update from the Global Alliance to Improve Outcomes in Acne group. J Am Acad Dermatol. 2009; 60(5Suppl):S1-50
Medscape Dermatology (Internet) – Acne Vulgaris
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