Inclusão, Escola e Saúde
- Abuso/ adição a drogas
- Alterações de comportamento alimentar
- Alterações do sono e insónias
- Ansiedade
- Birras
- Bulimia
- Comportamento agressivo
- Delírio
- Demência
- Depressão
- Gestos repetidos
- Hiperactividade
- Obesidade
- Perda de apetite (Anorexia)
- Pesadelos
- Problemas de atenção/ concentração
- Sonambulismo
- Suicídio/ Comportamento suicidário
- Tiques
Introdução
O artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
O artigo 2.º, que exprime o princípio básico da igualdade e da não discriminação no que se refere aos direitos humanos e liberdades fundamentais, proíbe qualquer «distinção, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação».
A Convenção sobre os Direitos da Criança, adotapda pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), defende na alínea 1 do artigo 2º, que nenhuma criança deve ser prejudicada de forma alguma por motivos de raça, credo, cor, género, idioma, casta, situação ao nascer ou por padecer de alguma deficiência física.
Ninguém duvida de que a inclusão é uma questão de direitos humanos e que significa actualmente justiça, equidade, fraternidade, direitos humanos e democracia. A inclusão não se destina apenas a crianças, jovens e adultos com deficiência, mas a TODOS e insere-se nos grandes movimentos contra a exclusão social e de celebração da diversidade.
Definição
Educação inclusiva é a abordagem dinâmica de respostas positivas à diversidade dos alunos e refere-se à capacidade de enfrentar as diferenças individuais, não como um problema, mas como uma oportunidade de aprendizagem. É um processo que visa responder à diversidade das necessidades de todos os alunos, através do aumento da participação na aprendizagem, cultura e comunidade e redução da exclusão.
Escola inclusiva é a Escola que garante as necessidades educativas de cada um e de todos os alunos ao longo do percurso escolar, mobilizando de forma complementar, sempre que necessário, os recursos da saúde, de emprego, de formação profissional e segurança social. (despacho 7617 de 2016)
Frequência
Quais as situações em que a inclusão é necessária?
As que resultam de problemas de saúde com impacto na funcionalidade e necessidade de intervenção em meio escolar, como sejam, irregularidade ou necessidade de condições especiais na frequência escolar e impacto negativo no processo de aprendizagem ou no desenvolvimento individual. As alterações das funções ou estruturas do corpo (ex: doença crónica, incapacidade, perturbações do desenvolvimento, perturbações emocionais e do comportamento, entre outras), que têm impacto no desempenho escolar, necessitam de identificação e remoção de barreiras a vários níveis: aprendizagem, atitudes, comunicação, relacionamento interpessoal e social, autonomia, espaço físico e meio socioeconómico. Na Escola, é crucial identificar a existência de fatores ambientais ‘facilitadores’ (entendidos como fatores que influenciam positivamente a realização de atividades escolares) ou ‘barreira’ (entendidos como fatores que impedem ou limitam a participação da criança na vida escolar) que interferem com as aprendizagens escolares.
Alguns exemplos são:
- Crianças e jovens com factores de risco: desenvolvimento intelectual baixo ou estado limite, problemas de comunicação e socialização, atraso de desenvolvimento ou neurodiversidade, temperamento difícil, doença física, insucesso escolar, dificuldades de aprendizagem, baixa autoestima, pobreza, iliteracia dos cuidadores, etc.;
- Problemas de saúde mental: perturbações bruscas do humor (ansiedade, depressão), ideação suicida, personalidade esquizóide, esquizofrenia, entre outros;
- Problemas de comportamento: oposição, hetero ou autoagressividade, perturbações alimentares (anorexia, bulimia), hiperactividade, espectro do autismo, perturbação da relação, comportamentos disruptivos (roubo, torturar animais, xenofobia), etc..
As perturbações mentais têm um peso significativo nos grupos etários dos 5 aos 19 anos. A OMS estima que cerca de 20% de crianças e adolescentes apresentem, pelo menos, uma perturbação mental antes de atingir os 18 anos de idade e segundo esta, a Europa e a Academia Americana da Psiquiatria da Infância e Adolescência, uma em cada cinco crianças apresenta evidência de problemas mentais e destas, cerca de metade apresenta uma perturbação psiquiátrica. Por outro lado, muitas das dificuldades ao nível da aprendizagem, da atenção e da instabilidade psicomotora, do comportamento, da indisciplina e da violência, auto ou heterodirigida, corresponderão a manifestações de sofrimento emocional acentuado.
Causa
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi publicada pela ONU em 1948 e ratificada por Portugal em 1978.
A Declaração Universal dos Direitos da Criança foi publicada pela ONU em 1959 e em 1989 a Convenção sobre os Direitos da Criança é adoptada pela Assembleia Geral da ONU e ratificada por Portugal em 1990.
A Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (ONU, 2006) foi ratificada por Portugal pela Resolução da Assembleia da República número 56/2009 de 30 julho.
A educação baseada em direitos é fundada em três princípios:
- Acesso a educação obrigatória e gratuita;
- Igualdade, inclusão e não discriminação;
- Direito a uma educação de qualidade no que se refere a conteúdos e processos.
Por sua vez a Declaração de Salamanca (1994), no seu artigo segundo, afirma: “As escolas regulares com orientação inclusiva são as mais eficazes no combate à descriminação, geradoras de comunidades acolhedoras, edificadoras de sociedades inclusivas e cumprindo o desiderato de educação para todos.”
A Conferência Mundial de Jontien sobre Educação para Todos (1990) reafirma o objetivo de educação para todos, conjuntamente com a Unesco, as Nações Unidas, as organizações para o desenvolvimento internacional, as organizações não governamentais (ONGs), nacionais e internacionais, associando-se ao esforço dos respectivos países na assumpção deste objetivo comum:
“Todas as crianças e jovens, com as suas características, áreas fortes e fracas, com esperança e expectativas, têm direito à educação e não são os sistemas educativos que têm direito a certos tipos de crianças, pelo que devem os países ajustar os respetivos sistemas educativos de forma a responderem às necessidades de todas as crianças” (B. Lindqvist, UN-Rapporteur, 1994)
O Reino Unido, no seu documento “Index for Inclusion” (2002), identifica três dimensões da inclusão: criar uma cultura inclusiva, implementar políticas inclusivas e desenvolver prácticas inclusivas.
Para a criança diferente, o termo inclusão significa uma escola e sociedade que respeitam:
- Um direito universal - Imperativo moral;
- A promoção de valores;
- A humanização da escola e sociedade;
- O superior interesse da criança com incapacidade ou deficiência ao melhorar resultados académicos e socialização fora do ambiente escolar.
Para a criança dita normal a inclusão é uma estratégia para o exercício da cidadania, porque promove o positivismo, a tolerância à diferença e desenvolvimento moral, capacidade de sensibilização e adaptação ao outro, desdramatiza a diferença, promove a consciência social, melhora a autoestima. Ao contrário dos seus detractores, a inclusão não prejudica o rendimento escolar das crianças ditas normais, antes prioriza a emergência de valores como a compaixão, cuidado, altruísmo, empatia, cooperação e entreajuda, dever de assistência, amizade e compromisso, em detrimento da rejeição, individualismo, oportunismo, egoísmo, apatia e competição. Em lugar do materialismo, individualismo, utilitarismo e hedonismo, fomente a compaixão, o cuidado, altruísmo, empatia, cooperação, assistência, amizade, compromisso e humanismo, num processo de aceleração da agenda do desenvolvimento moral da criança e jovem.
O papel dos pais é fundamental no que concerne à sensibilização para a importância da escola inclusiva como factor de desenvolvimento social, económico e cívico porque, e citamos John Dewey, “ …A escola é a segunda morada da criança”.
O que fazer
O contributo da Saúde para a inclusão
À Saúde compete assegurar a detecção, sinalização e accionamento do processo e o encaminhamento de crianças e jovens para consultas ou centros de pediatria do neurodesenvolvimento, neuropediatria ou pedopsiquiatria para efeitos de diagnóstico e orientação especializada, entre outros.
Neste contexto, a saúde assume uma importância crucial ao combinar ou integrar estratégias intersectoriais orientadas para a equidade, compromissos com os sectores sociais e objectivos comuns entre a comunidade educativa, numa escola para todos.
A saúde infantil procura entender, desvendar e actuar sobre a realidade complexa dos comportamentos e proteger a saúde de crianças e jovens, salvaguardando as/os mais vulneráveis. Intervir globalmente implica uma abordagem holística da saúde na escola e uma intervenção biopsicossocial sobre o indivíduo. Os sistemas de saúde e de educação estão intrinsecamente ligados: crianças saudáveis aprendem de forma mais eficaz e a educação tem um papel primordial na prosperidade económica e na literacia da saúde ao longo da vida.
Os contributos da saúde para a política de inclusão integra o combate ao excesso de consultas, exames e terapias, subjacente à desinformação e desorientação dos pais, informando-os adequadamente, rentabilizando os escassos serviços vocacionados para este grupo de crianças; incentivar o apoio e articulação acessível aos pais, com os docentes, técnicos de segurança social e comunidade; combater o absentismo às consultas essenciais; desincentivar docentes e técnicos de segurança social a influenciarem os pais a procurarem mais consultas e terapias face à inexistência de um diagnóstico biomédico (peregrinação parental em busca permanente do superior interesse do seu filho, com a consequente sobrecarga económica, consumo de energias e exaustão, sem qualquer mais valia para a criança); incentivar os docentes a descolarem do diagnóstico biomédico e a centralizar o seu saber pedagógico na avaliação funcional e habilitação da criança diferente.
Compete ainda à Saúde humanizar os serviços, compatibilizar direitos das crianças e famílias, flexibilizar e ultrapassar a burocracia, securizar os pais, integrar redes de suporte, sinalizar e actuar como facilitadora.
O Sistema Nacional de Saúde no contexto atual, possui os Agrupamentos dos Centros de Saúde (ACeS), que efectuam a vigilância da criança, monitorizam o seu neurodesenvolvimento e, sempre que justificado, as referenciam às consultas e centros de pediatria do neurodesenvolvimento, que efectuarão a avaliação e orientação dos casos de maior gravidade e dificuldade, ou quando não existem recursos locais adequados para o fazer.
A Saúde, Educação e Segurança Social devem, em conjunto e numa perspectiva transdisciplinar, implementar a abordagem holística da criança e família e implementar o modelo biopsicossocial de Bronfenbrenner. Para intervir numa primeira fase não é fundamental, nem o diagnóstico biomédico (embora desejável), nem o perfil funcional minucioso da criança: o fundamental é conhecer profundamente o normal desenvolvimento psicomotor da criança, detectar anomalias ou desvios e intervir com a criança e família em meio natural de vida, capacitando-a e implementando a sua autonomia.
A intervenção da saúde na escola requer abordagens abrangentes e multissectoriais, liderança para influenciar a sociedade como um todo, organização dos recursos em prol da redução das desigualdades em saúde e corresponsabilização de todos pela sustentabilidade do processo.
Para os profissionais de saúde a inclusão desde sempre foi e é umas vivência e práctica inerentes à sua missão, (todos os doentes têm acesso e direito a todas as consultas de Pediatria do Neurodesenvolvimento, o que não significa que esse acesso seja fácil). Mais do que incluir, a palavra chave é humanizar porque ela é muito mais abrangente e significa que o profissional de saúde deve saber adaptar-se às especificidades do utente/doente, ter empatia, ser solidário e colocar-se no lugar do doente, regra de ouro universal em Ética e humanismo
À tutela compete desburocratizar a rede de serviços aos diferentes níveis e facilitar o acesso aos serviços priorizando os mais desfavorecidos do ponto de vista sócio-económico. (mudar para o início).
Uma sociedade é o reflexo da escola e uma escola de qualidade é uma escola onde todas as crianças, saudáveis ou com necessidades especiais têm o seu lugar, convivem, aceitam-se e aprendem, onde a diversidade e neurodiversidade são permanentemente celebradas.
Evolução / Prognóstico
Depende da criança, família e de um extenso conjunto de fatores intrínsecos e extrínsecos.
Contudo, existem fatores protetores e promotores de resiliência.
Os factores protectores são: sexo feminino, boa relação com pelo menos um dos progenitores, boa capacidade de comunicação, temperamento afável, atitude positiva e fomentadora da resolução de problemas, fé ou espiritualidade.
Os factores promotores de resiliência são: boas relações de afecto na família, literacia, pais autotoritativos, bom relacionamento interpares e com figuras de autoridade.
Prevenção / Recomendações
O respeito pelos Direitos Humanos e Direitos da Criança, a implementação de valores morais, a par de programas que envolvam a Educação, Saúde, Autarquias e cidadãos, constituem uma eficaz agenda política na educação para a cidadania e naturalmente contribuem para o percurso de aceitação da inclusão numa sociedade moderna e progressista.
Saber Mais
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