Lesão neonatal do plexo braquial
Introdução
Definição
A Lesão Neonatal do Plexo Braquial (LNPB) é uma lesão dos nervos que controlam os músculos do braço, devida à sua tração/compressão durante o processo de nascimento. Após nascer nota-se uma diminuição ou ausência dos movimentos do braço e o diagnóstico é feito no exame que se faz ao bebé após o seu nascimento.
Frequência
O número de casos de LNPB varia entre 0,4 a 4 por 1000 bebés que nascem vivos.
Causa
Existem várias causas da parte do bebé, da mãe e do parto, sendo as mais importantes o excesso de peso do bebé e a distócia de ombros que é um problema que surge durante o parto e é imprevisível.
Sinais e sintomas
O diagnóstico de LNPB é feito na primeira observação do bebé à nascença, verificando-se uma diminuição ou ausência de movimentos do braço que está atingido. A posição do braço e a ausência de movimento em determinados músculos identificam os nervos atingidos e permitem classificar a lesão e perceber como vai evoluir.
O braço pode ter menos movimentos ou não ter nenhum o que pode acontecer só a nível do ombro e cotovelo (movimento de dobrar o cotovelo); a nível do ombro, cotovelo e punho ou em todo o braço. No caso de não ter movimentos em todo o braço, pode também abrir menos o olho do mesmo lado. Nos primeiros três meses habitualmente aparecem mais movimentos na mão, a seguir no cotovelo, sendo habitualmente o ombro a articulação com menos movimento e a ultima a recuperar.
Pode estar associado um torcicolo que é ter a cabeça mais rodada para o lado oposto à lesão.
O bebé deve ser avaliado várias vezes nos primeiros meses, para através do aumento da força da força e de mais movimentos, perceber a recuperação dos nervos. O aparecimento do movimento de dobrar o cotovelo é muito importante e indica que a lesão pode ser menos grave.
Ao longo do crescimento deve-se avaliar a mobilidade de todas as articulações do braço para perceber se ficam deformadas, o que acontece com frequência no ombro. Deve-se avaliar também todos os movimentos que a criança consegue a fazer e como consegue usar o braço quando brinca, come ou se veste.
O que fazer
Para fazer o diagnóstico de LNPB não são precisos exames, pois o diagnóstico é clínico, quer dizer feito pela avaliação clínica do bebé. Por vezes é necessário pedir alguns exames com objetivo de perceber se existem fraturas associadas, outras doenças, ou quando se pensa fazer a cirurgia.
Tratamento
Reabilitação
O tratamento da LNPB inicia-se logo que possível após o diagnóstico. O aparecimento de movimentos e aumento de força muscular do braço vai orientar o tratamento.
O objetivo do tratamento é melhorar a força muscular, movimentos e evitar o aparecimento de deformidades nas articulações do braço.
A fisioterapia e a terapia ocupacional são fundamentais no tratamento da criança com LNPB.
A colaboração dos pais é muito importante no tratamento e por isso os pais devem ser ensinados como pegar no bebé, vestir, dar de mamar e dar banho, colocando sempre o braço na posição adequada O braço que está lesado, tem menos força e por isso cai mais e pode ficar pendurado quando se pega no bebé. Deve-se sempre ter o cuidado de colocar o braço na mesma posição do que o que está bom, dobrado e junto ao corpo com a mão próxima da boca. O braço lesado deve ser o primeiro a vestir e o ultimo a despir e ao dar de mamar, a mãe deve tentar manter o braço do bebé dobrado e junto corpo.
É muito importante e deve ser ensinada aos pais a maneira correta de mobilizar as articulações (ombro, cotovelo, punho e dedos) desde o início, com particular relevância para o movimento de rodar o braço para fora (de encontro ao plano do leito), encostado ao tronco e com o cotovelo dobrado. Esta mobilização deve ser feita diariamente e sempre que mudam a fralda.
Na lesão isolada de plexo braquial não se deve imobilizar o braço.
O tratamento é de acordo com o desenvolvimento do bebé e logo que começar a querer levar a mão aos brinquedo, deve-se além da mobilização do braço com objetivo de prevenir deformidades, fazer com que o braço consiga fazer os mesmos movimentos que o braço bom, utilizando sempre um estimulo que seja atrativo. À medida que vai crescendo tenta-se adaptar todas as atividades e o brincar com objetivo de utilizar o braço, assim como arranjar estratégias para que a criança consiga fazer mobilizações e alongamentos adequados.
A estimulação elétrica pode ser utilizada, sendo com frequência pouco tolerada nas crianças mais pequenas.
Podem ser necessárias talas ao nível do punho para o manter em boa posição e ao nível do cotovelo para evitar que não o consiga estender.
O tratamento tem como objetivo promover a recuperação e o máximo de capacidade funcional possível, prevenindo deformidades, melhorando a força muscular procurando-se que a criança participe nas atividades adequadas à sua idade e que brinque com os seus colegas.
Devem-se sugerir ao longo do crescimento atividades desportivas que complementam o tratamento, como por exemplo a natação, enquadradas na dinâmica familiar e escolar e que a criança consiga desempenhar.
Cirurgia
A microcirurgia de reinervação é indicada em crianças que não apresentem recuperação neurológica no primeiro ano de vida.
A função do bicípite, músculo que dobra o cotovelo, é indicador de recuperação neurológica e a ausência de força muscular do bicípite contra a gravidade entre os 3 e 9 meses é indicação para cirurgia.
As técnicas cirúrgicas são várias e a decisão da técnica a aplicar está dependente da escolha do cirurgião para cada caso.
Além das técnicas de microcirurgia outras técnicas cirúrgicas podem ser feitas de acordo com a evolução clinica apresentada, a nível do ombro, cotovelo e mão. Estas cirurgias são feitas ao longo do crescimento e programadas de acordo com a evolução de cada criança.
Toxina Botulinica
A Toxina Botulinica (TB) tem sido utilizada para ajudar no tratamento de reabilitação e na cirurgia, quando existem músculos mais fortes que não deixam trabalhar os mais fracos, contracturas e músculos que contraem ao mesmo tempo. A TB é injetada nos músculos como quando se faz uma vacina.
Evolução / Prognóstico
50% recuperam totalmente nos primeiros 3 meses, 15% ficam com limitações graves e cerca de 35% têm evolução funcional satisfatória.
A recuperação da força muscular do bicípete contra gravidade é o indicador mais importante de recuperação e se estiver presente aos 2 meses sugere recuperação total.
60 a 80% das crianças que não têm recuperação total apresentam deformidade da articulação do ombro. Pode haver deformidade do cotovelo, punho e mão e o braço pode crescer menos que o braço normal.
Prevenção / Recomendações
A LNPB é uma lesão imprevisível, e apesar da evolução dos cuidados de saúde à mãe e ao bebé a sua incidência não tem diminuído.
A vigilância da gravidez, a identificação de algumas causas que se podem controlar como a diabetes gestacional, obesidade materna e peso ao nascer podem levar a uma diminuição de casos de LNPB.
As crianças com LNPB devem ser logo após o diagnóstico orientadas para avaliação, seguimento e tratamento por equipas com médicos e terapeutas com experiência neste problema.
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