Lesão neonatal do plexo braquial
Introdução
A Lesão Neonatal do Plexo Braquial (LNPB) é uma lesão nervosa periférica devida uma tração/compressão do plexo braquial durante o processo de nascimento. Manifesta-se por uma diminuição dos movimentos ativos do membro superior afetado e o diagnóstico é feito no período neonatal imediato.
A incidência de LNPB varia entre 0,4 a 4 por 1000 nados vivos.
Estão identificados fatores de risco fetais, maternos e obstétricos, os mais importantes a macrossomia fetal e a distócia de ombros . Apenas 46% das crianças têm um ou mais fatores de risco identificados.
História Clínica
A incidência de LNPB varia entre 0,4 a 4 por 1000 nados vivos.
Estão identificados fatores de risco fetais, maternos e obstétricos, os mais importantes a macrossomia fetal e a distócia de ombros. Apenas 46% das crianças têm um ou mais fatores de risco identificados. Anamnese - salienta-se a multiparidade, diabetes gestacional, tipo de parto, asfixia neonatal e a presença de distocia de ombros.
Exame objetivo - destaca-se o peso, postura dos membros superiores e a assimetria do Reflexo de Moro. O membro superior direito é o mais afetado, podendo haver atingimento bilateral em 5% dos casos.
O diagnóstico de LNPB é feito pelo exame objetivo, verificando-se uma diminuição ou ausência de movimentos ativos do membro superior. A postura do membro superior afetado e a ausência de movimento em grupos musculares chave identificam as raizes nervosas lesadas, permitindo classificar a lesão e estabelecer prognóstico.
Raizes C5C6 (Erb-Duchenne) - membro superior em rotação interna, adução, extensão do cotovelo, é a lesão mais frequente.
Raizes C5C6C7 - Se adicionalmente existir défice de extensão de cotovelo, punho e dedos.
Lesão total - C5D1 - Sem movimentos ou apenas ligeira flexão dos dedos. Neste caso avaliar se existe Sindrome de Claude Bernard Horner (SCBH), ptose, miose e enoftalmia, que traduz um envolvimento do simpático (D1)
Avaliar padrão respiratório para despiste de envolvimento do nervo frénico.
As fraturas da clavícula e úmero estão presentes em 10% dos casos. Pode estar associado um torticolis, com alteração da postura da cabeça com rotação preferencial para o lado oposto á lesão.
A avaliação deve ser frequente nos primeiros meses, para através da evolução motora e principalmente força muscular do bicípete e rotadores externos do ombro, avaliar a recuperação neurológica. Ao longo do crescimento avaliar mobilidade articular passiva e ativa a nível segmentar do membro superior com objetivo de despistar contracturas e quantificar força muscular.
As escalas de avaliação mais utilizadas são a Active Movement Scale (AMS) e a Escala Funcional de Mallet modificada.
Avaliar desenvolvimento psicomotor e capacidades funcionais nomeadamente integração do membro superior afetado nas atividades manuais e bimanuais. A Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) recomenda além da avaliação da estrutura e funções do corpo, a avaliação da atividade e participação, assim como dos fatores ambientais, que condicionam todo um programa de habilitação/reabilitação.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico de LNPB é evidente à nascença no entanto há a considerar como diagnóstico diferencial:
- Pseudoparalisia por dor - fratura da clavícula ou do úmero
- Osteomielite
- Artrite séptica do ombro
- Lesão medular cervical
- Amioplasia congénita (artrogripose)
- Lesões tumorais com envolvimento do plexo braquial
- Paralisia por maladaptação in útero
- Anomalias congénitas do plexo braquial
- Lesão do corno anterior da medula (varicela congénita)
Exames Complementares
O diagnóstico é clinico e os exames complementares de diagnóstico são para avaliar patologia associada, grau de recuperação neurológica e gravidade da lesão para orientação do tratamento cirúrgico.
Imagiologia
O Rx simples deve ser feito para avaliar fratura da clavícula ou úmero ou paralisia do frénico.
A ecografia do ombro permite nos primeiros meses diagnosticar uma luxação posterior do ombro.
A TAC com mielografia e a RMN do plexo braquial ajudam a caracterizar o tipo de lesão e é solicitado habitualmente em casos de indicação cirúrgica. A RMN é o exame de escolha.
A RMN do ombro solicita-se em crianças com suspeita de displasia gleno umeral candidatas a cirurgia do ombro.
Eletromiograma (EMG)
O EMG como exame indicador prognóstico de recuperação neurológica mantem alguma controvérsia uma vez que nem sempre traduz a gravidade da lesão, pelo que não é recomendado como exame de rotina. Pode ser solicitado na avaliação pré e por vezes pós cirúrgica para avaliar a reinervação.
Tratamento
Reabilitação
O tratamento da LNPB inicia-se logo que possível após o diagnóstico e a recuperação da força muscular do membro superior vai orientar as decisões terapêuticas.
O objetivo do tratamento é normalizar e maximizar função do membro superior, com otimização da regeneração nervosa, aumento da flexão do cotovelo e estabilização do ombro, manter amplitudes articulares e promover normal desenvolvimento psicomotor. Após avaliação inicial deve-se esclarecer os pais relativamente a indicadores de prognóstico, objetivo do tratamento e opções terapêuticas.
A fisioterapia e a terapia ocupacional são fundamentais no tratamento da criança com LNPB.
A colaboração da família é determinante no tratamento, a sua educação inicia-se na primeira avaliação com ensino de posicionamento adequado do membro superior no manuseio nas atividades de alimentação, vestir e higiene. Devem ser ensinadas aos pais técnicas de mobilização passiva articular, para fazer com frequência no domicilio. Na lesão isolada de plexo braquial a imobilização do membro superior não é recomendada.
O tratamento deve ser de acordo com o desenvolvimento psicomotor e logo que a criança tenha atividade voluntária é necessário, além da mobilização passiva com objetivo de prevenir deformidades, envolver o membro afetado nas atividades adequadas á idade com objetivo da sua integração no esquema corporal.
A estimulação elétrica pode ser utilizada, sendo com frequência pouca tolerada nas crianças mais pequenas.
Podem ser necessárias ortóteses para estabilização do punho e ao nível do cotovelo para controlar a contractura em flexão.
O tratamento tem como objetivo promover a recuperação e o máximo de capacidade funcional possível, prevenindo deformidades, melhorando a força muscular devendo-se identificar e potenciar fatores familiares e ambientais facilitadores.
Devem-se sugerir ao longo do crescimento atividades desportivas que complementam a intervenção terapêutica, como por exemplo a natação, enquadradas na dinâmica familiar e escolar e que a criança consiga desempenhar.
Cirurgia
A microcirurgia de reinervação é indicada em crianças que não apresentem recuperação neurológica no primeiro ano de vida.
A função do bicípite é indicador de recuperação neurológica e a ausência de força muscular do bicípite anti gravidade (AMS>5) entre os 3 e 9 meses é indicação para cirurgia, não existindo consenso do tempo ideal para a sua realização nas crianças com lesão de C5C6 e C5C6C7.
Existe consenso para intervenção cirúrgica cerca dos 3 meses em crianças com lesão total ou lesão total com SCBH.
As técnicas cirúrgicas utilizadas podem ser a neurólise, transferência de nervo ou enxerto nervoso, considerando-se que a decisão da técnica a aplicar está dependente da escolha do cirurgião para cada caso.
Além das técnicas de microcirurgia outras técnicas cirúrgicas são equacionadas de acordo com a evolução clinica apresentada, a nível do ombro, cotovelo e mão.
A limitação articular do ombro com contractura em rotação interna e consequente displasia glenoumeral e luxação do ombro, é a sequela mais frequente na criança com LNPB. Ao longo dos anos têm sido desenvolvidas técnicas cirúrgicas intra e extra articular do ombro: libertação da cápsula intraarticular, transferências e alongamentos tendinosos. Nas crianças com idade superior a 4 anos, com displasia glenoumeral grave, Mallet II, a indicação é habitualmente de osteotomia desrotativa do úmero.
Toxina Botulinica
A Toxina Botulinica tem sido utilizada como adjuvante dos tratamentos conservador e cirúrgico.
Evolução
Estudos recentes referem 50% de recuperação sem sequelas, 15% com sequela grave e cerca de 35% com evolução funcional satisfatória, com limitação da função do ombro. A recuperação neurológica está dependente do tipo de lesão neurológica periférica (neuropraxia, axonotmese e neurotmese).
A clinica, entre as 2 e 4 semanas, caracteriza a lesão de acordo com a classificação de Narakas, e é indicador prognóstico quanto à recuperação espontânea: Tipo I – C5C6 - 90%; Tipo II – C5C6C7 - 65%; Tipo III – Total -
O indicador prognóstico isolado mais importante é a recuperação da força muscular do bicípite antigravidade que se estiver presente aos 2 meses sugere recuperação total .
60 a 80% das crianças que não têm recuperação total apresentam algum grau de deformidade glenoumeral. O défice de extensão do cotovelo é frequente e a contratura em supinação ou pronação do antebraço assim como deformidades do punho e dedos podem ocorrer nos casos mais graves.
Recomendações
A LNPB é uma lesão inesperada e imprevisível e apesar da evolução dos cuidados obstétricos a sua incidência não tem diminuído.
A identificação de fatores de risco alguns dos quais controláveis como a diabetes gestacional, obesidade materna e peso ao nascer podem levar a politicas de prevenção.
As crianças com LNPB devem ser logo após o diagnóstico orientadas para avaliação, seguimento e tratamento por equipas multidisciplinares com experiência nesta patologia.
Bibliografia
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- LyndaJ. S.Yang Neonatal brachial plexus palsy – Management and prognostic factos. Seminar in perinatology 38 (2014) 222-23
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