Comportamento Alimentar Perturbado vs. Selectividade Alimentar Grave (ARFID)
Introdução
Comportamento alimentar perturbado (CAP) na infância: é a ingestão subótima de alimentos, sem prejuízo do crescimento (denominados de “picky eaters”).
ARFID (Avoidant/restrictive food intake disorder): é a seletividade alimentar grave ao ponto de culminar em défices nutricionais.
Frequência
CAP tem uma prevalência até 45% nas crianças (pico de incidência: 1- 3 anos). ARFID tem uma prevalência estimada de 3,2% na população geral.
Causa
Em ambas as condições, a etiologia é desconhecida. Sabe-se apenas que são mais prevalentes em crianças/ adolescentes com perturbação do neurodesenvolvimento.
Sinais e sintomas
Crianças com CAP apresentam um comportamento tipicamente normativo fora dos períodos de refeição. A refeição constitui um momento de desassossego e ansiedade face à exposição a alimentos indesejados.
Estes sentimentos manifestam-se essencialmente com comportamentos de birra, oposição e evitamento, morosidade no consumo da refeição, brincar com a comida, fugir do local da refeição, entre outros.
Existem alguns sinais de alarme a que devemos estar atentos em crianças com CAP, nomeadamente:
- disfagia (dificuldade em deglutir alimentos),
- odinofagia (dor ao engolir os alimentos),
- descoordenação da deglutição (sugerida por tosse, engasgamento ou pneumonias recorrentes),
- alimentação interrompida por choro (sugere presença de dor),
- vómitos, diarreia,
- exacerbação de eczema atópico e
- má evolução ponderal.
O aparecimento destes sinais/ sintomas afastam o diagnóstico de CAP da infância, sendo mais típicos do ARFID.
Crianças/ adolescentes com ARFID
- apresentam recusa súbita em ingerir determinados alimentos,
- receio de vomitar/ engasgar,
- falta de apetite sem motivo aparente,
- morosidade no consumo da refeição,
- dificuldade em ingerir refeições com familiares ou amigos,
- ausência de interesse em alimentos ou refeição, ansiedade.
Como referido, o ARFID pode culminar em défices nutricionais graves e falência em ganhar peso, pelo que poderão surgir alguns sinais/ sintomas físicos:
- má evolução estaturo- ponderal, perda de peso e
- sinais de malnutrição (tonturas, astenia, alterações da função cardíaca, desidratação, irregularidades menstruais, etc).
O que fazer
A maioria das crianças com CAP são normativas pelo que não necessitam de tratamento específico. A abordagem assenta essencialmente em orientar os cuidadores por forma a diminuir a sua ansiedade.
O ARFID exige uma abordagem mais planeada e interventiva:
- terapia cognitivo-comportamental: implementação de estratégias de dessensibilização sistemática;
- sessões de psico-educação: abordar a definição de ARFID e suas consequências, explorar sentimentos, etc;
Medidas médicas:
- suplementos alimentares, intubação nasogástrica,
- medidas farmacológicas: tratamento de comorbilidades.
Tratamento
Crianças/ adolescentes com ARFID necessitam de um seguimento multidisciplinar:
- consulta de Pediatria do Neurodesenvolvimento,
- Psicologia,
- Pedopsiquiatria,
- Medicina Física e
- Reabilitação e Nutrição.
Evolução / Prognóstico
O prognóstico do CAP na infância é extremamente favorável, resolvendo com o crescimento.
O ARFID apresenta um prognóstico menos favorável: configura maior risco de perturbação do neurodesenvolvimento (perturbação do espectro do autismo, etc) e está mais frequentemente associado a comorbilidades como a perturbação de ansiedade e o transtorno obsessivo-compulsivo.
A exposição continuada a comportamentos alimentares restritivos severos poderá impedir um crescimento adequado.
Prevenção / Recomendações
Concretizar um processo de diversificação alimentar dinâmico e adequado à idade da criança e a eventuais comorbilidades.
Não negligenciar determinados alimentos após a criança os recusar.
Promover um ambiente saudável, familiar, seguro e desprovido de estímulos sensoriais no momento da refeição. Incentivar a autonomia da criança, permitindo que se sujem e explorem a comida (na primeira infância).
Partilhar as refeições em momentos de convívio familiar, partilha e diversão.
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