Risco infeccioso neonatal
Introdução
Definição
Risco infeccioso: probabilidade de ocorrência de infeção bacteriana no recém-nascido. Adquirida no período periparto e dependente de condição materna.
Sépsis neonatal: síndrome de resposta inflamatória sistémica na presença de infeção. Ocorre no primeiro mês de vida. Pode ser precoce ou tardia.
Sépticémia: infeção sistémica com sinais clínicos de infeção e hemocultura positiva
Sépsis clinica: infeção sistémica com os mesmos sinais clínicos e hemocultura negativa
Sépsis precoce: manifestações clinicas até às 72h de vida (90% dos casos). Transmissão vertical na maioria dos casos. Microrganismos com origem no aparelho genital materno.
Fatores de Risco Perinatal (os fatores de risco são aditivos)
- Ruptura prolongada de membranas (> 18H)
- Prematuridade (
- Febre materna intraparto (temperatura axilar > 38ºC)
- Corioamnionite*
- Colonização materna por Streptococcus do grupo B (SGB)
- Sépsis SGB+ num dos gémeos se nascimento múltiplo
- Recém-nascido (RN) anterior com doença invasiva a SGB
- Bacteriuria a SGB durante a gravidez
- Infeção urinária periparto não tratada (até 15 antes do parto)
- Índice de Apgar
*Corioamnionite – o diagnóstico é anatomopatológico. O diagnóstico clinico baseia-se em:
- febre materna + 2 dos seguintes critérios (na ausência de foco extrauterino que justifique sinais de infeção materna)
- Taquicardia materna > 100 bpm;
- Taquicardia fetal > 160 bpm
- Liquido amniótico fétido ou turvo
- Leucocitose materna > 15.000 /mm3
Agentes etiológicos
Bactérias Gram positivo (69%): SGB, S. aureus, Staphylococcus coagulase negativos, Enterococcus, L. monocytogenes.
Bactérias Gram negativo (31%): E. coli, K. pneumoniae, Gram negativos entéricos
História Clínica
Manifestações clínicas
Inespecíficas, mas habitualmente “RN que não está bem” pode apresentar:
- Dificuldades alimentares, intolerância alimentar, vómitos, distensão abdominal, hipoglicémia, hiperglicémia.
- Febre ou hipotermia, sinais de dificuldade respiratória (gemido, polipneia, tiragem, apneia).
- Hipotonia, hipertonia, fontanela hipertensa, irritabilidade convulsões.
- Bradicardia, taquicardia, hipotensão, hipoperfusão, choque séptico.
Diagnóstico Diferencial
Leucograma: a contagem de leucócitos totais tem um fraco valor predictivo positivo. A contagem total de neutrófilos, neutrófilos imaturos e a relação neutrófilos imaturos/total de neutrófilos (NI/NT) é mais útil na exclusão da infeção. A leucopénia e a neutropénia são mais sugestivas de sépsis neonatal do que a leucocitose e a neutrofilia, sendo a relação NI/NT o índice com melhor sensibilidade. O NI/NT nos RN pré-termo saudáveis é
Proteina C Reactiva: é um marcador inespecífico de inflamação com sensibilidade e especificidade baixa à nascença. É detetável entre 6-8h após inicio processo inflamatório/infeccioso com um pico ao 2-3 dia. Deve ser pedida após as 8h de vida. Apesar das variações da PCR com a idade gestacional e a idade pós natal, o “cutoff” mais unânime é de 10 mg/L (1mg/dL).
Hemocultura: é o exame “gold-standard” (sensibilidade 78%). Pedir sempre antes de iniciar antibióticos. Deve ser obtido um volume mínimo de 0,5-1mL em meio aeróbio (volumes maiores permitem identificar bacteriémias mais baixas). Hemocultura negativa não exclui diagnóstico de sépsis (falsos negativos 20%) embora se RN assintomático e HC negativa após 36h incubação, o risco de sépsis é muito baixo – 96% das HC estão positivas às 48h e 99% às 72 horas.
Punção lombar: a meningite ocorre em 13% dos casos de sepsis precoce. Realizar apenas se RN sintomático: letargia, hipo ou hipertonía, convulsões, apneia, irritabilidade, fontanela hipertensa, choque séptico.
Radiografia torácica: apenas em RN com sinais de dificuldade respiratória.
Urina II e Urocultura: sem utilidade no contexto de sepsis precoceTratamento
Antibioterapia
Empírica:
- penicilina + gentamicina OU ampicilina + gentamicina.
- Considerar: cefotaxime se suspeita de meningite a Gram negativo
Dirigida: de acordo com microrganismo isolado e TSA
Algoritmo clínico/ terapêutico
Recém-nascido sintomático independentemente da idade gestacional e da presença de fatores de risco perinatais:
- rastreio séptico completo (hemocultura, hemograma, PCR)
- iniciar antibioticoterapia empirica
- realizar punção lombar quando houver estabilidade clínica, mesmo que já tenha iniciado terapêutica antibiótica
RN assintomático com IG >= 35 semanas e qualquer fator de risco infeccioso (incluindo corioamnionite)
- vigilancia clínica 48H
- rastreio séptico completo (hemocultura, leucograma e PCR)
- iniciar antibioticoterapia especifica
- se hemocultura negativa e RN permanecer assintomático fazer AB 48h
- se hemocultura positiva fazer antibioticoterapia especifica e punção lombar. Duração de AB de acordo com agente e se presença de meninigte.
RN assintomático com IG
- rastreio séptico simples (leucograma e PCR ) às 6-12H
- se negativo manter vigilancia clínica 48h
- se positivo colher hemocultura e iniciar antibioticoterapia empirica
- se hemocultura negativa suspender AB às 48h
-
se hemoculutra positiva continuar antibióticos
Bibliografia
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- Gustave Falciglia, Joseph R. Hageman, Michael Schreiber and Kenneth Alexander. Antibiotic Therapy and Early Onset Sepsis. Neoreviews 2012;13;e86 DOI: 10.1542/neo.13-2-e86
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- Richard Polin. An Evidenced-Based Approach to Early-Onset Neonatal Sepsis. Ipokrates Seminars on Infectious diseases and immunologic disorders in neonates and children; 2017
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