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Introdução

Definição

Uma fissura anal é uma ferida superficial da pele e mucosa do ânus. Pode ser aguda ou crónica, consoante o seu tempo de duração.

As lesões são mais frequentes na linha média posterior, mas podem surgir em qualquer local da margem anal.

Epidemiologia

É mais frequente nos primeiros 2 anos de vida.

Quase sempre são crianças com obstipação crónica, cujas dejecções são dolorosas, tornando-se a criança mais obstipada, criando um ciclo vicioso que perpetua o processo.

A fissura pode causar espasmo do esfíncter anal interno, diminuindo o fluxo sanguíneo e fazendo com que a fissura se perpetue.

Maus hábitos de higiene podem contribuir para a manutenção desta situação.

Também pode surgir resultado de traumatismo anal em crianças abusadas sexualmente com penetração anal.

A fissura crónica é muito rara nas crianças e resulta de uma fissura aguda que não curou ou de um episódio de sobreinfecção.

Se surge em crianças maiores, pode ser um primeiro sinal de uma doença inflamatória intestinal, doença venérea ou de imunodeficiência, como sucede na leucemia ou na SIDA.

História Clínica

Anamnese

O principal sintoma da fissura anal é a dor ao evacuar, que costuma ser muito intensa e pode durar algumas horas após a defecação.

A fissura anal é a causa mais frequente de hemorragia digestiva baixa na criança. Caracteriza-se por sangue vivo que cobre as fezes que habitualmente são duras.

Exame objectivo

O diagnóstico é evidente à observação clínica, observando-se uma pequena ferida na margem do ânus.

O exame objectivo da criança deve ser feito com cuidado mas afastando bem as nádegas, para permitir uma boa observação da margem anal.

Diagnóstico Diferencial

Ulcerações anais – surgem em crianças maiores ou adolescentes, geralmente secundárias a doença inflamatória intestinal.

Fístula anal – tem um trajecto e um orifício que habitualmente drena líquido purulento.

Hemorróidas – surgem também em adolescentes, sendo que a dor da fissura anal é mais intensa e a hemorragia menor do que nas hemorróidas.

Exames Complementares

Patologia clínica

Devem realizar-se análises se se suspeita de uma doença imunossupressora, principalmente em crianças maiores com outros sintomas de imunodeficiência.

Imagiologia

Quando surgem fissuras anais em crianças maiores ou adolescentes deve efectuar-se colonoscopia para excluir doença inflamatória intestinal.

Tratamento

Tratamento conservador

O tratamento mais importante para a fissura aguda consiste em manter as fezes moles até a fissura cicatrizar, nomeadamente com cuidados dietéticos e se necessário, com a administração de laxantes.

Também é útil a aplicação local de pomadas cicatrizantes, lubrificantes e analgésicas e banhos de assento mornos (não quentes) para relaxar o esfíncter anal e facilitar a defecação.

Deve proporcionar-se também bons cuidados de higiene local, para evitar a sobreinfecção e perpetuação da fissura anal.

Muito raramente é necessária intervenção cirúrgica, se se conseguir uma boa aderência ao tratamento conservador e bons cuidados de higiene.

Tratamento cirúrgico

Apenas nas fissuras que se tornaram crónicas e que não resolvem com tratamento conservador, podem ter indicação algumas técnicas como a injecção de toxina botulínica no esfíncter anal interno ou a esfincterotomia.

A intenção destas técnicas mais invasivas é relaxar o esfíncter anal interno, melhorando a cicatrização.

Evolução

As fissuras agudas curam em 1 a 2 semanas e geralmente não recidivam se for controlada a consistência das fezes.

Em alguns casos, principalmente se não houver cuidados de higiene local, as fissuras anais progridem para a cronicidade ou para a formação de abcessos perianais.

A principal complicação após qualquer método cirúrgico, seja a injecção de toxina botulínica ou a esfincterotomia, é a incontinência anal, que habitualmente é temporária (alguns meses após o procedimento) mas pode ser definitiva em 5 a 15% dos casos.

Recomendações

Deve evitar-se a obstipação das crianças, com cuidados alimentares e, se necessário, medicamentosos.

Os hábitos de higiene também são importantes na prevenção da fissura anal.

Na presença de fissura anal fora da idade habitual deve excluir-se abuso sexual com penetração anal e doença inflamatória intestinal.

Bibliografia

Stites Thomas; Lund Dennis. Common anorectal problems. Seminars in pediatric surgery, 2007, 16.1: 71-78.

Keshtgar Alireza; Ward Harry; Clayden Graham. Transcutaneous needle-free infection of botulinum toxin: a novel treatment of childhood constipation and anal fissure. Journal of pediatric surgery, 2009, 44.9: 1791-1798.

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