Menu

Introdução

Um recém-nascido deve ser submetido a uma observação pediátrica ainda na sala de partos - o primeiro exame médico, e cerca de dez dias após o parto -o seu segundo exame médico.

Apresenta-se um guião de avaliação de recém-nascido numa segunda consulta pós-parto, a realizar, em princípio, dez dias após o nascimento.

O primeiro exame

deverá ser efectuado logo após o nascimento, ainda na sala de partos para avaliação imediata dos sinais vitais e estado de saúde.

À data da alta, será recomendado aos pais estarem ambos presentes na primeira consulta por volta do 10º dia, em que será avaliada a adaptação do bebé à vida.

O segundo exame

É de ter em atenção que as regras de observação que orientam o exame do adulto ou criança mais velha, não se aplicam no exame do recém nascido; e também que os passos que descrevemos em seguida não obrigam o examinador à ordem descrita, mas sim à que, em cada momento, se mostrar mais adequada “àquele” bebé.

O exame deve efectuar-se em ambiente tranquilo, acolhedor, confortável (temperatura ambiente neutra) completamente despido, deitado em decúbito dorsal e após ter sido pesado e medidos o comprimento e perímetro cefálico (PC).

A observação deve ser feita por segmentos, aproveitando todos os momentos, executando um mínimo de manobras simplificadas e sempre gentis (sempre suaves) em tempo mínimo e explicando todos os passos aos pais ou cuidador da criança, na ausência destes.

Antes de iniciar o exame o médico deve confirmar se na Maternidade foram efectuados os testes de audição e o teste de rastreio de doenças metabólicas, vulgarmente chamado “do pezinho”. Não são testes obrigatórios, mas devem ser vivamente recomendados aos pais do bebé. Os resultados deverão ficar registados no Livro do Bebé.

História Clínica

Execução do exame:

  1. Observar os movimentos espontâneos, assimetrias, cor da pele e mucosas, movimentos respiratórios, e capacidade de interagir do bebé quando nos fixa e falamos com ele.
  2. Seguidamente, semi-sentamos o bebé, apoiando a região cervical na palma da nossa mão esquerda, olhamo-lo nos olhos obrigando-o a fixar o olhar e, enquanto sorrimos e lhe falamos , avaliamos a sua  capacidade de interacção; ao movimentarmos a nossa cabeça horizontalmente enquanto ele nos fixa, percebemos a sua capacidade de nos seguir (visão) .
  3. Com a mão direita percorremos todo o couro cabeludo (crâneo) avaliando as dimensões, tensão e localização das suturas e fontanelas, e  alterações como soluções de continuidade ou volumes (bossa serossanguinea ou cefalohematoma).
  4. Na face, observar sinais, manchas com aumento ou diminuição de pigmento, hemangiomas da fronte e nariz e pálpebras, a simetria das fendas palpebrais, a implantação das orelhas e seu formato, sinus ou pavilhões supranumerários (apêndices auriculares).
  5. Abordando o nariz, observamos a sua simetria, permeabilidades das fossas nasais (anotando qualquer sinal de adejo), o sulco nasolabial, e a morfologia da boca . Verificar a integridade labial e, se o bebé chorar,  observar o interior da boca, integridade do véu do paladar, úvula e perlas de Ebstein, epúlides , quistos gengivais ou existência  de dentes primitivos. Em sequência, com pequenos “piparotes” nas comissuras labiais e bochechas, provocamos o reflexo de busca. Aproveita-se e introduz-se a mão do bebé na própria boca e observamos a capacidade de sucção. Provocando uma queda ligeira da cabeça para a mão que a apoia, desencadeia-se o reflexo de Moro em que o bebé grita e abrindo os braços e mostra a simetria e integridade deste reflexo.
  6. Descendo os olhos para o pescoço, o médico deve procurar anomalias como higromas quísticos, bócio ou remanescentes do arco braquial ou constatar a sua ausência. Avaliar se existe torcicolo que pode ser devido a hematoma do esternocleidomastoideu causado por trauma no parto. Seguidamente, procura sinais de sinus ( supra esternal) e palpa eventuais massas.

  7. Com o indicador da  mão que não dá apoio, percorrer agora, gentilmente, o trajecto das clavículas procurando sinais de crepitação (fractura).
  8. Sempre com o bebé apoiado com a zona cervical e crânio na nossa mão esquerda, “acariciamos, com a direita, o tronco / tórax anterior do RN procurando massas; e os nossos olhos observam o local de implantação normal  dos mamilos e a existência de mamilos supranumerários, cicatriz umbilical ainda húmida com ou já sem cordão; avaliar neste o cheiro e procurar as normais duas artérias e uma veia.

  9. Aproveitando o relaxamento  na posição sentada, executar a palpação abdominal, pesquisamos a existência de  sinais, massas anómalas,hérnias, deiscência de rectos . Os rebordos de fígado e baço serão palpaveis até 2 cm abaixo da grelha costal. Deitamos então o bébé para a palpação profunda e encontramos os rins,sendo o esquerdo mais facilmente palpável do que o direito (pesquisar o cantacto lombar)

  10. Trocamos agora a posição do bebé, e deitamo-lo em decúbito ventral, observamos no dorso a existência de manchas (hemangioma plano ou cavernoso) e, a implantação do cabelo normal ou em W (Turner); em simultâneo, observar o endireitamento espontâneo da cabeça (integridade neurológica).

  11. Sustentando o bebé horizontalmente na nossa mão esquerda percorremos a sua coluna, pressionando-a com o polegar direito, desde o cóccix até à região cervical e  provocamos  a sua  rectificação   com o endireitamento do pescoço e elevação pélvica em resposta ao estímulo (reflexo). Simultaneamente, procuramos tumores, sinais (hemangiomas planos ou outros ) e, mais uma vez, a existência ou não de manchas despigmentadas ou outras ( mancha mongólica). Abrir o sulco intergluteo e procurar fosseta coxígea ou solução de continuidade (fístula).

  12. Apoiando as plantas dos pés do bebé no leito observamos o reflexo da marcha (por vezes débil por cansaço do RN) e, roçando o dorso dos pés no bordo da mesa de observação, provoca-se a subida de escada.

  13. Agora retomamos a posição em decúbito dorsal e  iniciamos a palpação dos membros superiores , cuja posição espontânea deverá ser simétrica e em flexão dos braços sobre os antebraços. Envolvemos então ambos os antebraços com os dedos das nossas mãos e deslizamos ao longo de todo o membro com pequenas pressões para avaliar a integridade e a configuração ósseas, desde o ombro até às mãos.

  14. Aqui chegados, observar as palmas (observação do desenho das pregas palmares) e afastamos os dedos, avaliando morfologia e procurando sinéquias. Pressionamos as palmas com os nossos polegares e podemos verificar que o bebé reage fechando os dedos e consegue ”pendurar-se” sozinho, quando o elevamos, ficando suspenso por segundos (reflexo). 

  15. Colocamos o nosso polegar esquerdo acima da prega do sangradouro em ambos os lados e, com a mão direita damos-lhe um pequeno piparote , provocado a flexão do antebraço sobre o braço (reflexo). Repetimos na zona de inserção do polegar no punho e flete a mão.

  16. Seguidamente, repetimos os mesmos gestos nos membros inferiores também flectidos, observando os movimente espontâneos, e procuramos também a morfologia, integridade, sinéquias digitais e pregas plantares. Segurar agora os pés apoiando os quatro dedos das nossas mãos na face externa dos mesmos e, com os polegares, provocar a sua abdução forçada avaliando a correcção da pronação posicional fisiológica. Pressionam-se ambas as plantas junto à raiz dos dedos e o bebé faz a preensão. Apoiamos a prega poplítea no bordo externo do nosso dedo indicador, damos um pequeno piparote na face anterior dos joelhos e assistimos ao reflexo patelar.

  17. Seguidamente contemos na nossa mão as pernas do RN flectidas completamente sobre as coxas e estas sobre o abdómen , provocamos a abdução forçada e rotação externa da articulação coxo- femoral e executando  a rotação com pressão das nádegas para a frente, pesquisando assim o sinal de Ortolani.

  18. Continuamos pressionando o joelho de um lado obrigando à extensão do mesmo e observamos a flexão do membro oposto seguido da sua extensão lenta com o calcanhar aflorando o joelho pressionado e deslizando ao longo da tíbia; repetimos os gestos agora no membro oposto comprovando, assim, mais um reflexo arcaico simétrico presente e  íntegro.  Nesta sequência, procuramos o reflexo de Babinsky. Não esquecer procurar e palpar os pulsos pediosos (nem sempre é fácil!).

  19. Agora, com os nossos dedos indicadores percorremos, à direita e à esquerda os trajectos inguinais, e palpamos os pulsos femorais cheios e simétricos. Aproveitamos e executamos, à direita e à esquerda, um trajecto suave com a unha do nosso indicador direito desde a raiz da coxa em direccção ao umbigo , provocando o reflexo cremasteriano de subida do testiculo homolateral dentro da bolsa. (Na menina, apenas se observa contractura discreta abdominal).

  20. Em seguida passamos aos genitais :

    Nos meninos, observar  o pénis que deve ser de configuração cilíndrica, erecto quando se retira a fralda (prestes a urinar) sem encurvamento ventral; localizar o orificio uretral que se encontra no seu términus  (detectar eventual hipospadia ou epispádia). Palpar o escroto onde se devem encontrar  os testiculos , ovalados  elásticos, de superfície lisa e  dimensões esperadas de cerca de 2cm (o edema escrotal pode dificultar a percepção pelo que devemos recorrer a  transiluminação). Se  existir hidrocelo, hérnia inguinal ou escrotal, devem ser assinalados.

    Nas meninas  observando a vulva , verifica-se que os grandes lábios são proeminentes e os pequenos lábios rudimentares. É normal uma secreção vaginal mucóide ou sanguinolenta (pseudo-menstruação);  por vezes nota-se, em posição posterior, uma pequena franja (ponta de tecido himenal). Expor o  hímen e confirmar perfuração.

  21. E é agora que contabilizamos os movimentos respiratórios, executamos a auscultação cardíaca (atenção a sopros) e pulmonar atendendo a que o bebé pode apresentar respiração paradoxal normal.

  22. Abordando de novo os olhos pesquisa-se o reflexo pupilar à luz e opacidades (catarata). Não esquecer a observação do fundo do olho com oftalmoscópio e dos canais auditivos por otoscopia.

Um profissional treinado efectua este exame completo ao recém-nascido em menos de 10 minutos, sem deixar o bebé muito cansado.

Nota importante

Ter em atenção que todos os achados descritos são os de um RN NORMAL. 

TODO E QUALQUER SINAL OU SINTOMA QUE POSSA SER OBSERVADO PARA ALEM DO DESCRITO deve orientar o clínico para o pedido de exame por especialista.

Bibliografia

  1. Manual de Neonatalogia - Secretaria de Estado da Saúde, Lisboa, Agosto, 2015
  2. Gomes da Costa MG e  Cordeiro Ferreira; O RECEM NASCIDO (Vol I),Ed NESTLÈ; 20-27.
  3. Cruz Hernandez M, PEDIATRIA  (Tomo I):1976; 41-59.

Deseja sugerir alguma alteração para este tema?
Existe algum tema que queira ver na Pedipedia - Enciclopédia Online?

Envie as suas sugestões

Newsletter

Receba notícias da Pedipedia - Enciclopédia Online no seu e-mail