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Introdução

A herpangina é uma síndrome clínica benigna caracterizada por febre e lesões pápulo-vesículo-ulcerativas dolorosas, localizadas na orofaringe posterior.

É uma patologia extremamente contagiosa e tem uma incidência mais elevada nos meses de verão. A herpangina é causada por pelo menos 22 serotipos de enterovírus, mais frequentemente o serotipo Coxsackievirus A.

O tempo médio de incubação é de 3 a 5 dias, com limite entre 1 e 10 dias.

História Clínica

Anamnese

 

Aproximadamente 50% das infeções por enterovírus são assintomáticas. As manifestações clínicas podem variar, dependendo do serotipo do vírus.

A apresentação clínica da herpangina cursa com um início tipicamente abrupto com febre alta (38,9 a 40,6°C). Em lactentes e crianças pequenas são frequentemente observados: diminuição da apetência alimentar, vómitos e irritabilidade.

Crianças mais velhas e adolescentes podem manifestar mal-estar generalizado, cefaleias, odinofagia, disfagia e dor abdominal.

 

Exame objectivo

 

O exame da orofaringe revela hiperemia e lesões papulo-vesiculares amarelas/esbranquiçadas. As áreas mais frequentemente envolvidas são os pilares anteriores das amígdalas, palato mole e úvula. O número de lesões varia, mas geralmente é inferior a 10.
As lesões iniciam-se como pápulas que sofrem vesiculação em 24 horas. As vesículas geralmente medem 1 a 2 mm de diâmetro e são circundadas por uma auréola de eritema.

Após aproximadamente 24 horas, as vesículas rompem, deixando ulcerações superficiais, amarelas/acinzentadas, de 3 a 4 mm de diâmetro, com borda de eritema intenso. Pode ainda manifestar-se com faringite aguda e linfadenopatia cervical.

IMAGEM 1

Imagem 1. Lesões papulo-vesiculares com halo eritematoso na orofaringe posterior

O restante exame físico geralmente não revela alterações. É importante avaliar sinais de desidratação, o nível da consciência, sinais meníngeos e sinais de paralisia para se excluírem complicações.
As complicações são raras e ocorrem quase exclusivamente quando a herpаngina é causada por Enterovírus-A71. As complicações podem incluir:

  • Encefalite do tronco cerebral;
  • Paralisia flácida aguda;
  • Meningite asséptica;
  • Miocardite.
     

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico diferencial de hеrраngina inclui outras condições associadas a lesões orais:

  • Úlceras aftosas recorrentes: úlceras aftosas dolorosas e superficiais com base acinzentada, localizadas nas gengivas, face interna, lábios, língua e palato. Geralmente não cursam com febre.
  • Gengivo-estomatite primária por herpes simples: é o resultado da infeção primária pelo vírus herpes simples (HSV) tipo 1. Um pródromo de febre, anorexia, irritabilidade, mal-estar e cefaleia precede o aparecimento de alterações orais. As alterações orais consistem inicialmente em eritema e edema da gengiva com aglomerados de vesículas.
  • Sarampo: caracteriza-se pelas manchas de Koplik, manchas com anéis vermelhos que aparecem apenas na cavidade oral (oposto aos molares superiores) no início, e aumentam rapidamente em número de forma a envolver toda a cavidade oral. As manchas aparecem 24 a 48 horas antes do aparecimento da erupção cutânea e desaparecem gradualmente após o desenvolvimento da mesma.

Exames Complementares

O diagnóstico de herpangina é estabelecido clinicamente, com base na aparência típica e localização do enantema da cavidade oral (menos de 10 pápulo-vesículas de coloração amarela / branco-acinzentada nos pilares anteriores das amígdalas, palato mole e úvula) associada a febre.

A confirmação de uma etiologia viral específica raramente é necessária em crianças com herpangina não complicada, mas pode justificar-se em crianças com complicações.

Quando a confirmação etiológica é necessária, devem ser obtidas amostras da mucosa da orofaringe, fezes e/ou fluido vesicular para exames culturais ou testes de amplificação de ácidos nucleicos.

Tratamento

A abordagem terapêutica da herpangina vai consistir essencialmente em tratamento de suporte, uma vez que neste momento não existem terapêuticas antivirais específicas disponíveis. Em situações específicas pode ser necessário internamento.
 

Indicações para internamento:

  • Recusa alimentar total com incapacidade de manter hidratação adequada;
  • Desenvolvimento de complicações neurológicas e cardiopulmonares, tais como encefalite, meningite, paralisia flácida aguda e miocardite.

Tratamento de suporte:

  • Fluidoterapia endovenosa (em caso de internamento);
  • Reforço da hidratação oral com soros de rehidratação oral ou água, preferencialmente frescos;
  • Antipiréticos/analgésicos (paracetamol; ibuprofeno);
  • Analgésicos tópicos (p. ex. lidocaína tópica);
  • Medidas dietéticas: recomenda-se a evicção de alimentos quentes, picantes, ácidos ou ásperos e a ingestão deve ser preferencialmente fracionada e de alimentos líquidos ou semilíquidos frios ou à temperatura ambiente.


Medidas de prevenção:

  • Medidas de higiene das mãos;
  • Isolamento de contacto está indicado apenas em doentes internados.

Evolução

A herpangina é uma doença autolimitada, com resolução completa dentro de uma semana.

A resolução da febre ocorre, em média, em 2 dias (variação de 2 a 4 dias). As lesões na orofaringe desaparecem, em média, em 5 a 6 dias (variação de 3 a 10 dias).

Na ausência de complicações, nomeadamente meningite, encefalite e miocardite, apresenta um prognóstico excelente.

Bibliografia

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