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Introdução

Definição

A baixa estatura é definida como estatura inferior a -2 z-score (inferior ao percentil 3), para a idade, sexo e estadio pubertário em relação a uma população de referência.

Epidemiologia

A baixa estatura é um motivo frequente de consulta em endocrinologia pediátrica, ocorrendo em cerca de 2,5% das crianças. Cerca de 80% dos casos correspondem a variantes do normal, nomeadamente baixa estatura familiar e atraso constitucional do crescimento e maturação (ACCM). A prevalência de défice de somatropina é estimada em aproximadamente 1: 4.000 a 1: 10.000.

História Clínica

Anamnese

Deve ser realizada uma anamnese cuidadosa e detalhada, com particular enfase nos seguintes pontos: 

Antecedentes familiares
  • Estatura dos pais e irmãos (medir se possível)  
  • Cálculo da estatura alvo familiar (EAF) (tabela 1) 
  • Idade de início evolução da puberdade dos pais e irmãos
  • Consanguinidade
  • Doenças heredofamiliares, familiares com baixa estatura, displasias ósseas/baixa estatura desproporcionada
Antecedentes pessoais
  • História de gravidez e parto. 
  • Somatometria ao nascimento.
  • No período neonatal despistar: hipoglicemia, micropénis, icterícia prolongada e problemas/anomalias congénitas (ex. alterações da linha média, assimetrias corporais, plagiocefalia) 
  • Desenvolvimento psicomotor 
  • Avaliação da alimentação, perturbações do comportamento alimentar 
  • Antecedentes psicossociais 
  • Antecedentes patológicos: cardiopatia, infeções urinárias de repetição, infeções respiratórias de repetição, infeção do SNC, diarreia crónica, cirurgias, TCE, irradiação cerebral 
  • Medicação habitual: ex. corticoterapia crónica 
Doença atual 
  • Construir a curva de crescimento anterior com base nos dados existentes no Boletim de Saúde Infantil (peso, estatura, perímetro craneano) 
  • Antropometria ao nascimento de acordo com idade gestacional (ex. curvas de Fenton) 
  • Revisão por sistemas e aparelhos: 
    • sintomas de hipotiroidismo, sintomas de insuficiência supra-renal, hipercortisolismo
    • sintomas de doença psiquiátrica 
    • sintomas de doença gastrointestinal 
    • sintomas neurológicos: vómitos, cefaleias, alterações visuais, audição, olfato 
    • sintomas reumatológicos 
    • sintomas ORL: sono, roncopatia 
  • Atividade desportiva (treino intenso) 
  • No adolescente avaliar a cronologia da puberdade 

  
Auxologia/ Antropometria

  • Peso
    • Habitualmente o peso duplica aos 4 meses, triplica aos 12 meses, aumenta 2Kg/ano entre os 2 anos e até à puberdade
    • Registo em curva própria
  • Estatura (comprimento/altura) (figura 2 - A)
    • Comprimento (até aos 3 anos): em decúbito dorsal, recorrendo a um pediómetro; 
    • Altura (>3 anos): em posição ortostática, com uma régua na parede (estadiómetro);
    • Registo em curva própria
  • Perímetro Cefálico (PC)
    • Avaliar desde o nascimento até aos 3 anos de idade
  • Índice de massa corporal (IMC)
  • Segmentos corporais 
    • Verificar se a criança aparenta ser desproporcionada
  • Velocidade de crescimento
    • VC inferior a 4 cm/ano é sempre considerada anormal

Exame objectivo

  • Estado nutricional (obesidade, desnutrição e massas musculares)
  • Dismorfias, assimetrias, anomalias da linha média 
    • Síndromes dismórficos:  ex. Russell–Silver, Turner, Noonan,
    • Fenda palatina, fenda leporina – ex. hipopituitarismo
  • Pele e faneras (manchas hipo ou hipercromáticas)
  • Dentição
    • Dentição decídua ou definitiva 
    • Incisivo central único – hipopituitarismo
  • Pressão arterial e frequência cardíaca
  • Auscultação cardíaca e pulmonar
  • Palpação da glândula tiroideia
  • Abdómen (distensão abdominal e organomegalias)
  • Exame neurológico
  • Estadio pubertário - Estádio de Tanner (despistar atraso pubertário) 

Diagnóstico Diferencial

Tabela 2. Etiologia da baixa estatura:

Exames Complementares

Imagiologia

  • Idade óssea – radiografia do punho e mão não dominante
  • Normal- idade óssea – idade cronológica = +/- 2 anos

Patologia Clínica

O estudo analítico deve ser realizado de forma individualizada e dirigido de acordo com a suspeita clínica. Do estudo a ser realizado numa consulta de pediatria geral fazem parte os exames de primeira linha nomeados na tabela 3. Reserva-se a realização dos exames de segunda linha quando se deve prosseguir estudo em consulta de especialidade.

A maioria dos casos de baixa estatura são variantes do normal, e apenas justifica a realização dos exames de primeira linha.

Abordagem da baixa estatura:
  • Peso e altura – qual está mais alterado?
    • Se peso mais afetado – sugestivo de doenças crónicas ou de suprimento calórico insuficiente 
    • Se estatura mais afetada – maior probabilidade de causa endocrinológica
  • No exame objetivo verificar: 
    • Desproporção - sugestivo de displasia óssea ou raquitismo. 
    • Dismorfias - ponderar inclusão em síndrome dismórfico /cromossomopatia.

Tratamento

Se no estudo da baixa estatura for identificada patologia de base é necessário orientar o tratamento de acordo com patologia identificada com urgência, de forma a otimizar o crescimento.

Em Portugal, o tratamento com somatropina é definido pela Comissão Nacional de Normalização da Hormona do Crescimento que define e regularmente atualiza as normas e indicações para a comparticipação da somatropina em Portugal. Atualmente as situações indicadas mediante aprovação são:

  • Défice de somatropina
  • Outras situações clínicas (se preenchidos os critérios)
    • Crianças pequenas para a idade gestacional, sem catch-up growth
    • Doença renal crónica
    • Síndroma de Turner
    • Síndroma de Prader-Willi

Evolução

A evolução e prognóstico dependem da etiologia da baixa estatura e das co-morbilidades associadas.  As repercussões psicológicas da baixa estatura devem fazer parte da avaliação clinica da baixa estatura.

No entanto, como referido anteriormente, 80 % dos casos de baixa estatura são de casos de baixa estatura familiar ou atraso constitucional do crescimento e maturação, pelo que o prognóstico é favorável.  

Recomendações

Recomenda-se a realização das consultas de saúde infantil e juvenil de acordo com programa nacional de saúde infantil e juvenil 

Em todas as consultas, onde se realiza esta vigilância, tanto no médico de família como no pediatra assistente, deve ser realizada a avaliação antropométrica de forma sistematizada e completa, com o respetivo registo e interpretação nas curvas de referência. A avaliação do estadio pubertário deve também ser realizada de forma sistematizada, em todas as crianças e jovens.

Situações que necessitam de investigação / referenciação imediata:

  • Estatura
  • Estatura
  • Estatura
  • Sinais de lesão do SNC.
  • Sinais de défices hipofisários múltiplos. 
  • Sinais neonatais de deficiência de somatropina (hipoglicemia, micropénis, icterícia prolongada).

Bibliografia

  1. Fontoura M. Et al. Crescimento norma e patológico – Manual prático de avaliação. Pfizer. 
  2. Amaral J, et al. Tratado de clínica pediátrica. 2ª ed. Amadora: Abbott Laboratórios, Lda. 2013.
  3. Takara Stanley. Diagnosis of Growth Hormone Deficiency in Childhood. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2012 February; 19(1): 47–52. doi:10.1097/MED. 0b013e32834ec952. 
  4. Bordini B., Rosenfield RL. Normal Pubertal Development: Part II: Clinical Aspects of Puberty Pediatrics in Review 2011;32;281 DOI: 10.1542/pir.32-7-281 
  5. Avaliação de crianças e adolescentes com baixa estatura. Comissão Nacional de Normalização da Hormona do Crescimento (CNNHC). Lisboa, 6 de Julho de 2015

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