Perturbação do desenvolvimento da linguagem
Introdução
Considera-se o diagnóstico de Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem (PDL) face à criança que apresenta dificuldades persistentes na aquisição e utilização da linguagem e sempre que as competências linguísticas sejam inferiores ao expectável para a idade.
Pode ocorrer isoladamente ou coexistir com outras perturbações ou patologias, durante o neurodesenvolvimento da criança e não são atribuíveis a outras patologias, de que são exemplo os défices sensoriais, perturbações motoras ou neurológicas, anatómicas (malformações congénitas da face como o lábio leporino e ou fenda palatina).
Condicionam uma limitação funcional na comunicação, participação social e ou desempenho académico.
Sinais e sintomas
A estimulação da linguagem inicia-se logo após o nascimento: deve-se falar com o bebé, cantar para ele, estabelecer contacto visual e mostrar diferentes expressões faciais, relacionando-as com os estados emocionais.
A aquisição da linguagem inicia-se no primeiro ano de vida, através do desenvolvimento da percepção e compreensão da fala e posteriormente através da produção de vocalizações simples, posteriormente de vocalizações cada vez mais diferenciadas e finalmente das primeiras palavras e frases.
Assim, entre os 2 e os 5 meses a criança palra em resposta à voz humana; entre os 10 e os 11 meses começa a imitar sons e a dizer “mamã” e “papá” ou outros dissílabos sem significado; aos 12 meses diz a primeira palavra com significado e imita palavras de duas a três sílabas; entre os 13 e 15 meses apresenta um vocabulário de quatro a sete palavras e faz jargão (palavreado próprio); entre os 16 e 18 meses diz 10 palavras, manifesta alguma ecolalia (repete sons que ouve) e jargão exuberante; entre os 19 e 21 meses o vocabulário aumenta para 20 palavras e cerca de 50% da fala é compreendida por estranhos; entre os 22 e 24 meses diz mais de 50 palavras e faz frases telegráficas de duas palavras; entre os 3 e 4 anos é capaz de construir frases de três a seis palavras, coloca questões, conversa, relata experiências e conta histórias, sendo quase toda a fala percebida pelos estranhos.
Contudo, existe uma variabilidade muito grande na emergência da linguagem e é necessário avaliar globalmente a criança no seu enquadramento familiar, social e cultural.
São considerados sinais de alarme: falta de interacção ou interesse na comunicação antes dos 8 meses (contacto ocular); ausência de palreio aos 8 meses, de emissão de qualquer palavra aos 18 meses; não associar duas palavras, não imitar sons ou palavras com intenção comunicacional e ausência de jogo simbólico aos 2 anos; não fazer frases ou apresentar uma discurso ininteligível aos 3 anos.
O que fazer
Os lactentes ou crianças com manifestações sugestivas deverão ser encaminhadas para consulta médica direccionada para o diagnóstico da perturbação e exclusão / diagnóstico diferencial de outras possíveis patologias, preferencialmente observação e avaliação global em consulta de pediatria do neurodesenvolvimento e posterior avaliação por terapeuta da fala com experiência em áreas pediátricas (pediatria, neuropediatria, pedopsiquiatria).
Tratamento
O tratamento consiste essencialmente em sessões de terapia da fala, sendo igualmente importante que a família e os docentes facilitem e colaborem com a terapeuta, reproduzindo algumas das técnicas em meio natural de vida.
Assim, é importante comunicar com a criança de forma clara, usando frases simples e curtas, incentivar a criança a comunicar, mostrando interesse naquilo que ela faz, realizar jogos dirigidos ao domínio da linguagem promover o interesse pelos livros e a leitura.
Evolução / Prognóstico
Até aos 3 anos, atrasos ligeiros nem sempre evoluem para uma PDL e com a intervenção adequada podem ser ultrapassados. A partir dos 4 anos, o diagnóstico torna-se mais estável, a habilitação e desenvolvimento da linguagem mais difícil, sendo que uma perturbação diagnosticada e intervencionada nesta idade tem risco acrescido de persistir ao longo da vida.
O prognóstico vai depender de múltiplos factores, como, por exemplo, a precocidade do diagnóstico, o tipo de perturbação presente e a existência de comorbilidades, o grau de défices noutras áreas do neurodesenvolvimento, do apoio familiar e da qualidade e oportunidade da intervenção efectuada com a criança.
Na maioria dos casos, quando as perturbações são diagnosticadas precocemente e a intervenção é atempada, evoluem favoravelmente, principalmente na ausência de comorbilidades.
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