Dor abdominal crónica
- Alterações de comportamento alimentar
- Alterações do sono e insónias
- Ansiedade
- Dor crónica
- Dor de barriga/ abdominal
- Dor de estômago
- Dor menstrual
- Atraso de crescimento
- Atraso de desenvolvimento
- Azia (pirose)
- Barriga inchada (distensão abdominal)
- Desnutrição/ caquexia
- Dificuldade em engolir
- Perda de apetite (Anorexia)
- Perda de peso/ Emagrecimento
- Cansaço/ fadiga (astenia)
- Diarreia
- Enjôos e náuseas
- Indigestão
- Prisão de ventre
- Vómitos
Introdução
Definição
A dor abdominal crónica (DAC) define-se como uma dor que tem uma duração de mais de 1 mês. Esta definição engloba a dor abdominal recorrente (DAR) que se define como a presença de pelo menos 3 episódios de dor abdominal suficientemente fortes que interfiram nas actividades de vida diária durante um período não inferior a 3 meses consecutivos, sem doença grave associada.
Frequência
A dor abdominal crónica é cada vez mais frequente, sendo um motivo frequente de consulta. Tem maior prevalência no sexo feminino.
Afecta cerca de 15% das crianças, sendo que apenas uma percentagem muito reduzida tem doença associada.
Causa
A causa pode ser multifactorial e como referido anteriormente em raros casos está associada a doença. Assim temos três tipo de dor abdominal crónica:
- Dor abdominal orgânica é uma dor abdominal com causa objetivável, isto é, doença associada (como por exemplo doença de Crohn, doença celíaca, doença de refluxo gastro-esofágico)
- Dor abdominal psicossomática é uma dor psicológica
- Dor abdominal funcional é uma dor com sinais e sintomas gastrointestinais mas sem doença orgânica associada. Esta pode dividir-se em 4 categorias:
- Dispepsia funcional
- Síndrome do intestino irritável
- Enxaqueca abdominal
- Dor /Síndrome abdominal funcional
Sinais e sintomas
Consoante a causa da dor abdominal crónica, os sintomas são diferentes.
Os pais devem estar particularmente atentos à presença de sinais e sintomas de alarme (explicitados na tabela 1) uma vez que estes podem indicar doença orgânica.
Tabela 1. Sinais de alarme |
Localização não peri-umbilical Irradiação para costas ou para membros (braços e pernas) Dor persistente na parte direita do abdómen Mudança nas características da dor Sangue nas fezes Diarreia à noite Náuseas ou vómitos “verdes” persistentes Dificuldade a engolir Acordar de noite com a dor Febre inexplicável Dor nas articulações Perda de apetite Antecedentes familiares de doença de Crohn, colite ulcerosa, doença celíaca ou úlcera péptica |
Sendo os pais, os principais cuidadores e com melhor conhecimento dos filhos, devem tentar perceber se há factores desencadeantes (na escola ou mesmo alguma situação familiar traumática) que possam estar a causa a dor. Se sim, poderá tratar-se de uma dor psicossomática.
A dor pode ser funcional. Se presença de dor de “estômago”, enfartamento, arrotar frequente ou enjoos e vómitos, pelo menos uma vez por semana, em 2 meses consecutivos, pode tratar-se de dispepsia funcional.
Por outro lado, a dor abdominal pode estar associada a alterações nas dejecções, quer diarreia, quer obstipação e usualmente é uma dor que alivia com dejecção. Neste caso, é mais provável trata-se de um síndrome de intestino irritável.
A enxaqueca abdominal implica a presença de dor abdominal peri-umbilical intensa com duração de pelo menos 1 hora, interferindo nas actividades de vida diária e associada a outros sintomas como perda de apetite, enjoos, vómitos ou dor de cabeça. Não é constante e pode haver períodos de semanas e meses livre de dor. Para este diagnóstico, este tipo de dor deve acontecer pelo menos 2 vezes no espaço de 1 ano.
Numa dor/síndrome abdominal funcional, a dor abdominal é contínua ou episódica, ocorre pelo menos 1 vez por semana, pelo menos nos 2 meses prévios ao diagnóstico e sem critérios para as outras causas dor funcional.
O que fazer
Se presença de sinais e sintomas de alarme (tabela 1) deve procurar-se ajuda médica com brevidade.
No caso de parecer tratar-se de dor abdominal funcional, isto é, dor prolongada sem sinais de alarme, os pais devem começar por fazer um calendário da dor. Este deve incluir localização da dor, se é em cólica ou constante, duração, frequência, altura do dia em que ocorre, factores agravantes (por exemplo, alimentos) ou aliviantes (por exemplo, medicação analgésica) e sintomas associados.
Se a dor persistir, deve então recorrer ao médico assistente.
Os pais, neste tipo de dor, têm um papel determinante de manter a criança calma, uma vez, que isso por si só pode diminuir os episódios e intensidade da dor.
Tratamento
Se causa orgânica, o tratamento deve ser orientado pelo especialista.
Se psicossomática, os pais podem procurar terapias comportamentais ou mesmo actividade extra-curriculares (como exercício físico, pintura, entre outros) de modo a diminuir o stress e ansiedade da criança melhorando a dor.
Se funcional, os pais não devem desvalorizar a dor, mas devem explicar que não existe uma doença associada.
O tratamento deste tipo de dor é multifactorial e inclui:
- Medidas dietéticas – evitar ingestão de alimentos que a desencadeie, síndrome do intestino irritável (neste síndrome deve ser excluída doença celíaca), ou aumentar as fibras, nas crianças com tendência a obstipação.
- Tratamento farmacológico – deve ser realizado apenas por indicação médica e em casos muito seleccionados.
- Medidas psicossociais - são a parte mais importante do tratamento, incluem distracções, técnicas de relaxamento muscular, apoio com Psicólogo(a).
Evolução / Prognóstico
A maioria dos casos de dor abdominal crónica, tendem a desaparecer com o tempo e a deixarem de ser preocupação para os pais e as crianças.
Todavia, numa minoria dos casos a dor pode persistir durante vários anos. Além disso, a sintomatologia pode ser frequente e intensa, o que pode interferir negativamente na qualidade de vida e ter grande impacto na família e na história psicossocial da criança.
Prevenção / Recomendações
É importante que os pais tenham uma boa relação com os seus filhos, falem abertamente do problema e acima de tudo não desvalorizem a dor sentida pelas crianças.
Devem também ajudar a proporcionar as melhores condições para que os episódios de recorrência da dor sejam o menos frequente possíveis.
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