Rinite alérgica local
Introdução
A rinite é uma inflamação da mucosa nasal. É considerada crónica se dois ou mais sintomas nasais como congestão, rinorreia, esternutos (espirros) e prurido persistirem durante pelo menos uma hora por dia por mais de duas semanas.
A rinite crónica pode ser classificada em dois subgrupos: a rinite alérgica (RA) e a rinite não alérgica (RNA). A rinite alérgica local (RAL) corresponde a um fenótipo de rinite recentemente identificado, tratando-se de uma resposta alérgica nasal localizada na ausência de atopia sistémica demonstrada.
Epidemiologia
Existem poucos estudos sobre a RAL na população pediátrica. Apesar de subdiagnosticada, prevê-se que a prevalência de RAL nas crianças seja de 3,7 a 66,7%, sendo superior nos países europeus comparativamente aos países asiáticos.
História Clínica
Anamnese
O diagnóstico de RAL representa um desafio clínico e deve ser baseado numa história clínica detalhada.
A RAL partilha os mesmos sintomas da rinite alérgica, como esternutos, prurido, obstrução, rinorreia e inflamação tipo 2 da mucosa nasal após exposição ao alergénio. O sintoma mais frequente é a secreção nasal aquosa e prurido nasal.
Rinite alérgica local e Asma
Sintomas de asma são observados em aproximadamente 50% dos doentes com RAL.
Rinite Alérgica Local e Conjuntivite
Os doentes com RAL geralmente apresentam sintomas oculares como prurido, rubor, ardor e lacrimejo.
Os alérgenos envolvidos na RAL são os ácaros do pó doméstico (Dermatophagoides pteronyssinus), bolor (Alternaria alternata), ervas daninhas, bétula e epitélio de cão/gato. Os ácaros do pó doméstico são o alergénio mais frequente nas crianças com RAL.
Exame objectivo
É semelhante ao da rinite alérgica e pode incluir:
- Edema e escurecimento infraorbitário devido à congestão venosa conhecido por "olheiras"
- Linhas mais acentuadas nas pálpebras inferiores (linhas de Dennie-Morgan), que sugerem conjuntivite alérgica
- Sulco nasal transverso causada pela elevação da zona terminal do nariz com a mão ("saudação alérgica")
- "Facies alérgico", observado geralmente nas crianças com rinite alérgica de início precoce, consiste num palato muito arqueado e respiração bucal associada a má oclusão dentária
As estruturas internas do nariz, orofaringe e pavilhão auricular também devem ser examinadas:
- A mucosa nasal dos doentes com rinite alérgica ativa frequentemente apresenta-se edemaciada e de cor azul-pálido associado a hipertrofia dos cornetos.
- A rinorreia aquosa pode ser visível anteriormente ou, em caso de obstrução nasal, pode ser objetivada uma escorrência na orofaringe posterior.
- As membranas timpânicas podem retrair ou o líquido seroso pode acumular atrás destas nos doentes com edema significativo da mucosa nasal e disfunção da trompa de Eustáquio.
Diagnóstico Diferencial
Apesar de ambos os subgrupos de Rinite Crónica- Rinite Alérgica, Rinite Alérgica Local e Rinite Não Alérgica apresentarem uma clínica semelhante, cada um deles possui características específicas a serem diferenciadas.
Comorbilidades como rinossinusite, distúrbios do sono, dificuldade de aprendizagem, otite média com efusão e redução da qualidade de vida podem ocorrer devido a todos os subtipos de rinite crónica. No entanto, comorbilidades alérgicas como asma e conjuntivite são comumente associadas à RA e RAL.
Estudos demonstram também uma forte associação entre o desenvolvimento de asma e a presença de RA e rinossinusite crónica. Sabe-se também que a presença de RA na infância está associada a uma maior probabilidade de asma infantil. Estudos publicados recentemente relatam um aumento de sintomas brônquicos e nas vias aéreas inferiores após 10 anos de evolução da doença nos doentes com RAL.
Além das comorbidades mencionadas, alguns métodos diagnósticos podem auxiliar no diagnóstico diferencial. A rinite alérgica pode ser facilmente descartada por teste cutâneo por picada (TCP) e/ou IgE sérica. Uma avaliação adicional dos doentes não sensibilizados com TPN, IgE nasal e/ou BAT é útil para identificar os doentes com RAL.
Tipos de Rinite |
Sintomas | Marcadores in vivo/in vitro | ||||
TCP | IgEe sérica |
IgEe nasal |
TAB | TPN | ||
Rinite Alérgica | Rinorreia Esternutos Prurido nasal Obstrução nasal |
+ | +/- | +/- | + | + |
Rinite Alérgica Local | - | - | +/- | +/- | + | |
Rinite Não Alérgica | - | - | - | - | - |
Tabela 1 - sintomas in vivo / in vitro associados aos diferentes tipos de rinite
Exames Complementares
O teste de provocação nasal (TPN) é atualmente o gold standard no diagnóstico da RAL. Dermatophagoides pteronyssinus, Alternaria alternata, Olea europaea, Phleum pratense, epitélio de gato/cão são alguns dos alergénios utilizados nos TPN.
Os alergénios devem ser aplicados bilateralmente nas narinas e a medição do resultado deve ser baseada em parâmetros subjetivos (score de sintomas naso-oculares) e objetivos (avaliação da permeabilidade nasal através da medição do Pico de Fluxo Inspiratório Nasal por exemplo).
O Teste de Ativação de Basófilos (TAB) e a IgEe nasal têm limitações na prática clínica não podendo ser exames recomendados por rotina. A determinação de IgEe nas secreções nasais é um método não invasivo de diagnóstico com alta especificidade, mas baixa sensibilidade. TAB tem uma sensibilidade de 50% e especificidade de >90% para Dermatophagoides pteronyssinus e uma sensibilidade de 66% e especificidade de >90% para Olea europaea, sendo útil no diagnóstico definitivo.
Figura 1 - Abordagem diagnóstica na Rinite Alérgica Local
Tratamento
Algoritmo clínico/ terapêutico
O objetivo do tratamento é aliviar os sintomas e prevenir o seu aparecimento, evitar a progressão da rinite para asma ou outras doenças respiratórias e melhorar a qualidade de vida dos doentes.
Tal como na RA, está recomendada a evicção dos alergénios predisponentes, bem como a terapêutica farmacológica com corticosteroides tópicos, anti-histamínicos orais e imunoterapia. Este fato não surpreende uma vez que estas entidades partilham características clínicas e fisiopatológicas, incluindo a inflamação nasal eosinofílica e a reatividade aos alergénios.
A administração oral de anti-histamínicos H1 não sedativos na prevenção de nova sensibilização não é recomendada nas crianças pequenas com alergia nasal e/ou história familiar de alergia, principalmente devido ao risco de efeitos colaterais e à falta de evidência suficiente que demonstre redução no risco de desenvolver nova sensibilização.
Embora os mecanismos associados permaneçam por esclarecer, o início precoce de Imunoterapia é recomendado na RA e RAL, levando a uma melhor tolerância aos alergénios com redução na incidência de sintomas oculares e necessidade de medicação de resgate com melhoria na qualidade de vida dos doentes.
Evolução
A rinite alérgica local em idade pediátrica tem vindo a despertar o interesse da comunidade científica.
O diagnóstico precoce através do TPN possibilita o estabelecimento de um tratamento etiológico através da Imunoterapia, contribuindo para a melhoria na qualidade de vida e prevenindo o desenvolvimento de patologia com atingimento da via aérea inferior.
Uma vez que o mecanismo do RAL não foi totalmente compreendido é necessário manter o estudo e investigação sobre este tema.
Recomendações
As medidas de controlo ambiental, sempre que possíveis, são essenciais no controlo dos sintomas. Estas incluem, evitar a exposição a substâncias irritantes (como fumo de tabaco, poluição, tintas, perfumes ou cheiros intensos, ar frio) e aos alergénios (ácaros, pólenes de gramíneas, ervas e árvores, animais domésticos e fungos).
Glossário
Rinite: inflamação da mucosa nasal
Rinite alérgica local: fenótipo de rinite caracterizado por uma resposta alérgica nasal localizada na ausência de atopia sistémica demonstrada.
Linhas de Dennie-Morgan. Linhas mais acentuadas nas pálpebras inferiores que sugerem conjuntivite alérgica
Teste de provocação nasal: Exame gold standard no diagnóstico da Rinite Alérgica Local
Saber Mais
Bibliografia
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- Beken B, Eguiluz-Gracia I, Yazıcıoğlu M, Campo P. Local allergic rhinitis: A pediatric perspective. Turkish Journal of Pediatrics. 2020;62(5):701–10.
- Rondón C, Eguiluz-Gracia I, Campo P. Is the evidence of local allergic rhinitis growing? Current Opinion in Allergy and Clinical Immunology. 2018;18(4):342–9.
- Hoang MP, Samuthpongtorn J, Chitsuthipakorn W, Seresirikachorn K, Snidvongs K. Allergen-specific immunotherapy for local allergic rhinitis: a systematic review and meta-analysis*. Rhinology. 2022;60(1):11–9.
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