Reacções adversas aos protectores solares
Introdução
Os protectores solares são soluções cutâneas tópicas que contêm filtros que reflectem ou absorvem a radiação ultravioleta. Podem ser classificados como filtros orgânicos e inorgânicos. Os filtros inorgânicos incluem componentes como o óxido de zinco e dióxido de titânio. Os filtros orgânicos como as benzofenonas, cinamatos, butil-metoxidibenzoilmetano, octocrileno são os responsáveis pela dermatite de contacto (DC) tóxica (irritativa e fototóxica) e pela alérgica (alérgica e fotoalérgica)(1), assim como pode ocorrer absorção sistémica dos seus componentes.(2)
Epidemiologia
Há poucos estudos que determinam a sua prevalência, no entanto um estudo que avaliou crianças referenciadas para realização de Photopatch test, determinou uma prevalência de DC fotoalérgica de 6,4% e alérgica de 5,7%.(3)
História Clínica
As lesões de dermatite de contacto irritativa e fototóxica surgem durante a primeira exposição ao químico, com início ao fim de minutos ou dias, dependem da concentração e duração da exposição ao químico (e na reacção fototóxica à exposição concomitante com a radiação) e causam mais frequentemente dor.
Nas lesões de dermatite de contacto alérgica e fotoalérgica, habitualmente ocorre uma sensibilização prévia e nas exposições subsequentes iniciam sintomas nas primeiras 48h que podem durar até 3 semanas e manifestam-se mais frequentemente com prurido.
Exame objectivo
A dermatite de contacto irritativa caracteriza-se por lesões de descamação, eritema, raramente vesículas, confinadas à zona exposta ao químico e são bem delimitadas.
A dermatite de contacto fototóxica apresenta lesões de "queimadura solar", eritematosas, bolhosas, hiperpigmentação residual e estão habitualmente confinadas às zonas expostas ao sol (poupa pálpebras superiores, região submentoniana e áreas retroauriculares).
A dermatite de contacto alérgica caracteriza-se por lesões de eritema, enduração e vesículas confinadas às zonas expostas ao químico com possível atingimento da área circundante. Na fase crónica pode ocorrer liquenificação.
Finalmente, as lesões de dermatite fotoalérgica são semelhantes à dermatite de contacto alérgica mas confinadas às zonas de exposição ao químico e também ao sol.
Diagnóstico Diferencial
Existem várias patologias que fazem diagnóstico diferencial com a dermatite de contacto como a
- dermatite seborreica,
- psoríase,
- dermatofitose,
- infecções dos tecidos moles,
- dermatite atópica,
- erupção causada por fármacos,
- linfoma de células T cutâneo e
- doenças auto-imunes (nos casos de suspeita de reacção fotoalérgica).(1)
Exames Complementares
Dermatite de contacto irritativa e fototóxica - o diagnóstico é clínico.
Dermatite de contacto alérgica - O Patch test é o teste gold-standard na investigação de uma DC de etiologia alérgica. Envolve a reprodução de uma DC através do contacto com o componente do protetor solar ao qual se suspeita que o doente esteja sensibilizado. O método consiste na aplicação do componente na pele, em concentrações definidas, sob oclusão. O local mais frequente de aplicação é a região dorsal. O patch é removido ao fim de 24h e a leitura do teste é realizada ao segundo dia e posteriormente ao quarto dia após a aplicação
Dermatite de cotacto fotoalérgica - O Photopatch test é realizado pela Dermatologia, quando existe a suspeita de . O procedimento varia de centro para centro relativamente à seleção das substâncias a testar, as concentrações, a fonte e dose de irradiação. O teste é realizado mais frequentemente na região dorsal e em duplicado. Após 24-48h, o patch é removido, é realizada a primeira leitura e em uma das séries é aplicada radiação UVA. São realizadas leituras às 24h e 48h após aplicação da radiação.(4)
Tratamento
Medidas gerais
A primeira medida a aplicar em qualquer doente com dermatite de contacto é a evicção do alergénio suspeito ou confirmado. Outras medidas também são importantes, como a evicção da exposição direta à luz solar e a utilização de peças de roupa apropriadas.
A aplicação de emolientes com elevado conteúdo lipídico e/ou cremes barreira pode ser benéfica na prevenção e tratamento da dermatite de contacto irritativa, assim como a aplicação de cremes barreira no tratamento da dermatite de contacto alérgica. Devem ser recomendados os protetores solares com filtros inorgânicos ou com componentes aos quais foi comprovada ausência de sensibilização após a aplicação do Patch test. (3,4)
Farmacológico
Os corticóides tópicos com potência adequada ao grau de gravidade da dermatite e ao local de aplicação, são a primeira linha de tratamento. Os inibidores da calcineurina tópicos também podem ser eficazes na dermatite de contacto ligeira a moderada. Nas reações mais graves pode ser necessário corticoterapia sistémica. A fototerapia também já foi aplicada com algum sucesso. Nos casos refratários deve ser ponderado o tratamento com imunossupressores.(3,4)
Evolução
O prognóstico é bom, ocorrendo habitualmente a resolução das lesões de dermatite de contacto com a evicção do alergénio ou irritante. No entanto, se o contacto se mantiver, a dermatite pode tornar-se crónica e mais generalizada.(4)
Bibliografia
- Heurung AR, Raju SI, Warshaw EM. Adverse Reactions to Sunscreen Agents: Epidemiology, Responsible Irritants and Allergens, Clinical Characteristics, and Management. Dermatitis 2014;25(6):289-326.
- Matta MK, Zusterzeel R, Pilli NR, et al. Effect of Sunscreen Application under Maximal Use Conditions on Plasma Concentration of Sunscreen Active Ingredients: A Randomized Clinical Trial. JAMA - J Am Med Assoc. 2019;321(21):2082-2091.
- Haylett AK, Chiang YZ, Nie Z, Ling TC, Rhodes LE. Sunscreen photopatch testing: a series of 157 children. Br J Dermatol. 2014;171(2):370-375.
- Johnston GA, Exton LS, Mohd Mustapa MF, et al. British Association of Dermatologists’ guidelines for the management of contact dermatitis 2017. Br J Dermatol. 2017;176(2):317-329.
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