Princípios Gerais da Alergia Alimentar
- Alergia alimentar
- Descarga nasal (rinorreia)
- Dor de garganta
- Dor no pescoço/ cervical
- Inchaço cervical
- Lacrimejar/ Lágrima
- Nariz entupido/ Congestão nasal
- Choque (Shock)
- Desidratação
- Desmaio/ perda de consciência
- Dificuldade em engolir
- Inchaço
- Comichão/ coceira (prurido)
- Erupção
- Lesões cutâneas generalizadas
- Manchas (Eritema, Exantema)
- Urticária
- Cianose (dedos, labial, periférica)
- Falta de ar (Dispneia)
- Pieira
- Tosse
- Diarreia
- Enjôos e náuseas
- Vómitos
- Irritabilidade
- Vómitos
Introdução
A alergia alimentar consiste numa reação adversa que ocorre de forma reprodutível após a exposição a um determinado alimento.1-3 Trata-se de uma resposta imune específica, podendo ser mediada por IgE, não mediada por IgE ou mista.1-3
Epidemiologia
A verdadeira incidência e prevalência da alergia alimentar é difícil de estimar dado a ausência de uma definição padronizada, mas parece que tem vindo a aumentar globalmente nas últimas décadas.1,2 Estima-se que afete cerca de 5-10% da população pediátrica, com um pico de incidência no 1º ano de vida.1-3
Etiologia
Os principais causadores de alergia alimentar dependem do ambiente em que o doente está inserido e dos alimentos com os quais contacta.3 Qualquer alimento pode ser o causador da alergia, mas na maioria dos casos a reação deve-se a: proteínas do leite de vaca, soja, ovo, peixe, marisco, amendoim, frutos de casca rija e trigo.1,3
Existe também a possibilidade de reatividade cruzada, isto é, reação a um alimento diferente, mas que é estruturalmente semelhante ao alergénio e por isso capaz de causar reação adversa.3História Clínica
Anamnese
É importante questionar sobre:
- Antecedentes pessoais nomeadamente do foro alérgico tais como dermatite atópica, rinoconjuntivite, asma, outras alergias alimentares ou medicamentosas;
- Idade no momento da reação;
- Identificação dos alimentos suspeitos e caracterização dos mesmos (qual a quantidade ingerida e se o alimento estava ao natural, cru ou cozinhado)
- Tipo de exposição ao alimento: contacto cutâneo/mucosas, inalação ou ingestão;
- Caracterização da reação adversa: quando ocorreu; intervalo de tempo decorrido entre o contacto com o alimento e o início das reações, gravidade da reação;
- Circunstâncias em que ocorreu a reação: local, cofatores (exercício, stress, calor, situação de doença, entre outros);
- Necessidade de terapêutica ou resolução espontânea;
- Novas reações com contactos acidentais.
Exame objetivo
Deve ser caracterizado o exame físico da criança, tanto na situação aguda como depois da sua resolução.
A semiologia depende do mecanismo imune envolvido (IgE, não IgE ou misto).1
Quando se trata de uma reação mediada por IgE o mais característico é o início agudo (poucos minutos a 2 horas) de sinais e sintomas após o contacto com o alergénio.1,3,4 As manifestações clínicas podem ser leves ou graves.1 São as seguintes:
- Cutâneas: eritema, prurido, urticaria, rash morbiliforme, angioedema;3,4
- Respiratórias: tosse, congestão nasal, prurido nasal, esternutos, aperto torácico, dispneia, pieira, edema laríngeo, sinais de dificuldade respiratória;3,4
- Gastrointestinais: náuseas, dor abdominal, vómitos, diarreia;3,4
- Oculares: rubor, prurido, lacrimejo, edema;3
- Anafilaxia: forma de apresentação mais grave, que pode levar à morte, podendo manifestar-se por uma associação dos sintomas de vários sistemas (pele, respiratório, cardiovascular, gastrointestinal, neurológico).3,4
Algumas entidades particulares:
- Síndrome de alergia oral: quadro de reatividade cruzada em que um individuo com alergia a pólenes poderá apresentar uma reação adversa quando ingere frutas/vegetais frescos ou frutos de casca rija, apresentando geralmente sintomas limitados à mucosa oral (os alergénios envolvidos, as profilinas, são sensíveis ao calor e ao ácido, ao chegarem ao estômago são decompostos e a reação não progride).1
- Anafilaxia induzida pelo exercício físico: trata-se uma reação anafilática que surge apenas quando um individuo com alergia a determinado alimento contacta com o mesmo seguido de exercício físico, isto é, o exercício físico funciona como coadjuvante potenciador da reação alérgica grave e na ausência deste esta reação não ocorre.
As reações não mediadas por IgE são menos frequentes, apresentam semiologia menos característica, sobretudo manifestações cutâneas e gastrointestinais, com clínica que se sobrepõe à de outras patologias sendo por isso essencial o diagnóstico diferencial.1,3 A relação temporal entre a exposição ao alergénio e o início dos sintomas também é distinta, sendo geralmente uma reação mais tardia.1,3 Nesta situação as manifestações podem ser:
- Enterocolite induzida por proteínas (FPIES): quadro de vómitos incoercíveis e/ou diarreia profusa que causam desidratação e letargia, aproximadamente 2h após a exposição a determinados alimentos, sobretudo leite de vaca, soja, arroz, aveia, carne e peixe; pode ser uma reação aguda ou crónica insidiosa, sendo que esta última se manifesta por vómitos intermitentes, má evolução estaturo-ponderal;1,3,4
- Proctocolite induzida por proteínas: quadro de dejeções com sangue, atingimento do estado geral ou outros sintomas associados, que surge por inflamação do colon distal e reto, devido a alergia à proteína do leite de vaca; pode surgir em contexto de reatividade cruzada com produtos de soja;1,4
- Síndrome de Heiner: pneumonia recorrente associada a infiltrados pulmonares na radiografia de tórax, hemossiderose, eosinofilia e anemia ferropénica, bem como má evolução ponderal, devido a alergia a leite de vaca, carne de porco e ovo;1,4
Podem também ser reações mistas, como é o caso de:
- Esofagite eosinofilica: quadro de disfagia, impactação alimentar e vómitos, devido a inflamação crónica limitada ao esófago causada por acúmulo de eosinófilos, que pode levar à remodelação do tecido esofágico com estenose e diminuição do seu calibre; causado por ingestão de proteína do leite de vaca, ovo, soja, milho, trigo, e carne de vaca;1,4
- Gastroenterite eosinofilica: semelhante à anterior, mas a mucosa atingida é a gástrica e duodenal e os sintomas variam consoante a área afetada;1,4
- Dermatite atópica: perante a ingestão de algum alimento ao qual o doente é alérgico pode verificar-se agravamento do eritema e prurido das lesões de eczema atópico em doentes com esta patologia, que pode ocorrer em poucos minutos ou horas se for uma reação IgE mediada ou demorar dias se for não IgE mediada.1,3,4
Diagnóstico Diferencial
Os sinais e sintomas de alergia alimentar são sobreponíveis aos de quadros alérgicos desencadeados por outros alimentos, medicamentos, picadas de inseto, etc.
É importante diferenciar a alergia alimentar de outras situações, nomeadamente da intolerância alimentar, refluxo gastroesofágico, défices enzimáticos, doenças metabólicas e infeções gastrointestinais.4
Exames Complementares
PATOLOGIA CLÍNICA
Prick test: aplicação de extratos comerciais de alergénios e um controlo de histamina no antebraço do doente, seguida de punção da epiderme com uma lanceta e análise cerca de 15 minutos depois para ver se existe reação cutânea (valor de cut-off de 3 mm ou superior ao controlo da histamina); deve ser realizado apenas se não houver evidência de reação alérgica grave, se não houver dermatografismo ou dermatite atópica exacerbada;1
Prick to prick test: é semelhante ao anterior, mas utiliza alimentos frescos em vez dos extratos comerciais, sendo por isso ligeiramente mais sensível; deve ser realizado apenas se não houver evidência de reação alérgica grave, se não houver dermatografismo ou dermatite atópica exacerbada;1
Doseamento de IgE específica: menos sensível, mais demorado e dispendioso, mas não acarreta riscos para o doente; permite dosear as IgE séricas para determinados alimentos; útil quando não é possível realizar testes cutâneos; 1
Alergénios moleculares: identificação dos principais componentes alergénicos do alimento aos quais o doente está sensibilizado; possibilita um maior conhecimento de reatividade cruzada, melhor enquadramento prognóstico e melhor noção de possível gravidade; 1
Patch test: aplicação de alergénios suspeitos no dorso e avaliação às 48 e 72 horas, mantendo-se os alergénios em contacto com a pele durante este período de tempo; em caso de reação alérgica não IgE mediada ou mista;1
Prova de provocação oral: teste de eleição para a confirmação de alergia ou de aquisição de tolerância após período de evicção; consiste na ingestão de quantidades gradualmente maiores do suspeito alergénio para avaliar eventual reação alérgica; deve ser realizada sempre em meio hospitalar e com profissionais de saúde experientes na atuação em caso de anafilaxia.1
É importante salientar que o resultado positivo dos testes cutâneos, do doseamento das IgE séricas e dos testes moleculares indica apenas que há sensibilização à substância e não necessariamente que o alimento seja o causador da reação alérgica.2,3Tratamento
Perante uma alergia comprovada a determinado alimento o tratamento é a evicção do mesmo.1,2
Doentes com sensibilização a determinado alimento, isto é, com testes cutâneos positivos ou IgE elevada, mas que habitualmente consomem o mesmo sem ocorrência de reações adversas não devem optar pela sua evicção pelo risco de dessensibilização e futuras reações alérgicas.2,3
Em caso de anafilaxia deverá ser administrada adrenalina intramuscular de imediato e só posteriormente anti-histamínico, corticoide e se necessário β-agonistas.1
Em caso de FPIES pode ocorrer desidratação grave que necessite de fluidoterapia endovenosa.1
Evolução
Existem fatores que desempenham um papel importante na história natural das alergias alimentares e que devem ser considerados, nomeadamente a gravidade dos sintomas após a ingestão, a dose mínima necessária para provocar uma reação, a idade no momento do diagnóstico, a presença de comorbilidades e a sensibilização alérgica.1
Têm uma probabilidade de persistência maior os doentes que apresentam uma reação grave após a ingestão de uma quantidade mínima do alimento, a idade mais precoce no momento do diagnóstico, os que apresentam outras manifestações de atopia e os que apresentam uma pápula de tamanho superior ou nível de IgE superiores de determinados alimentos (leite de vaca, ovo e amendoim - os cutoffs variam de alimento para alimento).1,2
Alguns casos são mais propensos a resolver durante a infância, como é o caso da alergia ao leite de vaca, ovo, trigo e soja, enquanto outros geralmente persistem até à idade adulta, como é o caso do amendoim e nozes.1,2
Recomendações
A manipulação de alergénios sem os devidos cuidados pode causar contaminação de outros alimentos ou superfícies onde se confeciona a refeição, sendo isto particularmente importante em ambiente escolar e restauração.
A prevenção assenta na correta leitura de rótulos, informação sobre reatividade cruzada e sobre os substitutos seguros pelos quais o doente pode optar.1
Em caso de anafilaxia deve ser prescrita a caneta de adrenalina, dada formação na sua administração, bem como deve ser explicado ao doente que existe a possibilidade de uma reação bifásica, isto é, novo agravamento cerca de 8h após a primeira manifestação da anafilaxia, sem nova exposição ao alergénio.1
Devem ser também prescritos anti-histamínico e corticoide oral para o caso das reações mais leves com urticaria e prurido.1
Doentes com múltiplas alergias alimentares poderão beneficiar de acompanhamento nutricional no sentido de evitar défices nutricionais devidos a dietas demasiado restritivas, bem como obter informação sobre os alimentos seguros.2
Saber Mais
Bibliografia
- Cosme-Blanco W, Arroyo-Flores E, Ale H. Food Allergies. Pediatrics in Review. 2020; 41; 403. DOI: 10.1542/pir.2019-0037
- Keet C, Wood RA (2021). Food allergy in children: Prevalence, natural history, and monitoring for resolution In: UpToDate, Tepas E (Ed.). Retrieved August 20, 2021
- Plaza-Martin AM. Food allergies in paediatrics: Current concepts. An Pediatr (Barc). 2016; 85(1) :50.e1-50.e5
- Burks W (2021). Clinical manifestations of food allergy: An overview. In: UpToDate, Tepas E (Ed.). Retrieved August 20, 2021
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