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Introdução

Definição

Interrupção do trânsito intestinal que pode ocorrer desde o duodeno ao ânus, de causa mecânica ou funcional.

A oclusão mecânica ocorre por obstrucção do interior do intestino, como no caso do íleos meconial ou rolhão de mecónio, ou interrupção física do lúmen intestinal, como na atrésia, volvo ou bridas.

A oclusão intestinal funcional no recém-nascido ocorre frequentemente relacionada com infecção, causas metabólicas, prematuridade ou doença de Hirschsprung.

Epidemiologia

A oclusão intestinal é um dos diagnósticos cirúrgicos mais frequentes em recém-nascidos. Também pode ocorrer em crianças mais velhas, mas não tão frequentemente e com outras causas subjacentes.

O intestino ocluído e dilatado a montante sofre progressivamente necrose isquémica, resultando gangrena e perfuração. As bactérias existentes no sistema digestivo proliferam devido à estase intestinal e causam sépsis à medida que entram na circulação através de uma perfuração franca ou da mucosa intestinal lesada.

História Clínica

Anamnese

A tríade típica da oclusão intestinal caracteriza-se por dor abdominal, vómitos e paragem da emissão de gases e fezes.

Inicialmente, a dor abdominal é tipo cólica, intensa, com períodos de acalmia e, à medida que o quadro clínico progride, torna-se constante, já sem a característica de cólica.

O mais típico é os vómitos começarem por ser alimentares, depois biliosos e por fim fecalóides, mas nem sempre é assim. Nas oclusões intestinais altas, por exemplo por atrésia duodenal, os vómitos podem não ser biliosos. No recém-nascido, basta um aspirado nasogástrico superior a 15 ml, mesmo que não seja bilioso, para se suspeitar de oclusão intestinal.

No início de um quadro clínico de oclusão intestinal, pode ainda haver dejecções e só posteriormente estas deixam de ocorrer. No recém-nascido, a ausência de mecónio nas primeiras 48 horas de vida é um forte indício de oclusão intestinal. No entanto, devemos ter em atenção que 20% dos prematuros não eliminam mecónio nas primeiras 48 horas de vida, sem que isso signifique que estejam em oclusão.

Nas oclusões intestinais altas os vómitos surgem mais precocemente e podem ocorrer várias dejecções, enquanto nas oclusões baixas os vómitos são mais tardios e a paragem da emissão de fezes ocorre logo no início.

A oclusão intestinal pode ainda causar dificuldade respiratória, principalmente em crianças mais jovens, pela distensão abdominal com elevação da cúpula diafragmática e pela possibilidade de aspiração do vómito resultando pneumonia de aspiração.

Os vómitos e a acumulação de líquidos dentro do intestino ocluído podem levar a desidratação e acidose metabólica.

Exame objectivo

A distensão abdominal é o principal dado da observação física e é directamente proporcional ao nível da lesão. Na oclusão intestinal baixa, a distensão vai agravando ao longo de horas ou dias, enquanto na oclusão alta pode haver apenas sinais mínimos de distensão. No recém-nascido, a distensão abdominal raramente está presente ao nascimento; se isso acontece, deve-se mais provavelmente a ascite ou massa abdominal do que a oclusão intestinal.

No início, há ruídos intestinais excessivos, de timbre aumentado, e, à medida que o quadro progride, os ruídos intestinais deixam de se ouvir.

Principalmente no recém-nascido, ou nos primeiros anos de vida, podem palpar-se ansas intestinais dilatadas através da parede abdominal.

Pode haver defesa à palpação abdominal e reacção peritoneal no caso de oclusão com necrose e perfuração de ansa intestinal. Ter em atenção que não há rigidez à palpação abdominal do recém-nascido mas a tensão da parede abdominal pode ser óbvia, com aspecto cianótico, practicamente diagnóstico de necrose intestinal.

O estado geral da criança, com sensação de doença grave, por vezes em choque, pode também indicar perfuração intestinal e sépsis ou uma situação de volvo intestinal.

A observação da região anal é importante em todos os recém-nascidos com oclusão intestinal, porque permite excluir a presença de malformação ano-retal, uma das causas de oclusão no recém-nascido.

O toque rectal pode ser importante no diagnóstico de algumas causas de oclusão intestinal, principalmente no recém-nascido; pode revelar sangue, sinal de sofrimento intestinal; pode causar dejecção explosiva de gases e fezes líquidas, o que é suspeito de doença de Hirschsprung; pode facilitar a passagem de um rolhão de mecónio seguido de mecónio normal, o que indica síndrome do rolhão de mecónio ou doença de Hirschsprung.

Diagnóstico Diferencial

Estando presente a tríade típica, não há dúvida que estamos perante uma situação de oclusão intestinal. O diagnóstico diferencial que é importante realizar é entre as várias causas de oclusão intestinal. Apresentam-se apenas as mais frequentes, consoante o grupo etário:

Recém-nascido: atrésia intestinal, malformação ano-rectal, doença de Hirschsprung, enterocolite necrosante, volvo intestinal, síndrome do rolhão de mecónio e íleos meconial.

Lactente: hérnia inguinal encarcerada, invaginação intestinal e volvo intestinal.

Criança maior: divertículo de Meckel e bridas pós-operatórias.

Ao contrário do que sucede em adultos, os tumores são causas muito raras de oclusão intestinal em idade pediátrica

Exames Complementares

Patologia clínica

Hemograma e ionograma - permitem avaliar e posteriormente corrigir desequilíbrios hidroelectrolíticos.

Leucograma e PCR – revelam leucocitose e neutrofilia nos casos em que já tenha ocorrido necrose intestinal e peritonite.

Imagiologia

Radiografia simples do abdómen de pé - na maioria dos casos não é necessário outro estudo imagiológico para confirmar o diagnóstico de oclusão intestinal. A presença de níveis hidro-aéreos, associada à tríade clínica é patognomónica de oclusão intestinal. Observam-se mais níveis e maiores nas oclusões baixas do que nas altas. De notar que podem existir níveis hidro-aéreos nas gastroenterites, mas os achados clínicos são diferentes. No recém-nascido, é sempre preciso esperar cerca de 12 horas após o nascimento para ter a certeza que o ar deglutido ao nascer já atingiu o recto.

A distribuição do gás intestinal é típica em algumas formas de oclusão, como por exemplo a “dupla bolha” na atrésia duodenal ou o aspecto de “bolhas de sabão” no íleos meconial.

A ausência de ar na região pélvica é a favor de oclusão intestinal mecânica, mas pode existir pequena quantidade de ar introduzido pelo toque rectal ou por uma sonda rectal.

Podem observar-se pequenas calcificações no RX do recém-nascido quando ocorre perfuração intestinal pré-natal com peritonite meconial.

Pode ainda existir pneumoperitoneu que indica que ocorreu perfuração intestinal.

   

Radiografia simples do abdómen tangencial - pode substituir o de posição vertical, no caso de crianças com mau estado geral e / ou ventiladas, em que a mobilização pode ser prejudicial. 

 

Trânsito gastro-duodenal - pode ter indicação na oclusão intestinal alta, ajudando no diagnóstico de atrésia duodenal ou malrotação intestinal com volvo.

Clister opaco - realizado com contraste hidrossolúvel, pode ter indicação na oclusão intestinal baixa para o diagnóstico diferencial entre atrésia ileal, ileos meconial e doença de Hirschsprung.

Ecografia abdominal - pode ser importante para o diagnóstico diferencial de algumas formas de oclusão intestinal, principalmente em lactentes, nomeadamente a hérnia inguinal encarcerada e a invaginação intestinal. A identificação de líquido livre intraperitoneal pode significar necrose e perfuração intestinal. Ter em atenção que a realização da ecografia geralmente é dificultada nas situações de oclusão intestinal devido à presença de dilatação de ansas intestinais com conteúdo gasoso que dificulta a interpretação deste exame.

Tratamento

Tratamento conservador

As primeiras medidas são puramente sintomáticas: sonda nasogástrica para esvaziar o estômago e avaliar as perdas hídricas, administração endovenosa de líquidos e electrólitos para o tratamento da desidratação e alterações electrolíticas e antibióticos ev profilácticos quando se prevê que vai ser necessária uma intervenção cirúrgica.

Dependendo da causa da oclusão intestinal, será ou não necessária intervenção cirúrgica. Quando não é necessária cirurgia, por exemplo no caso de uma hérnia inguinal que se reduz manualmente ou uma invaginação intestinal em que se consegue a sua redução de forma conservadora, a criança deve permanecer umas horas em observação, iniciar alimentação progressivamente e avaliar a sua tolerância alimentar e o restabelecimento do trânsito intestinal.

Tratamento cirúrgico

Depende da causa da oclusão. O objectivo da cirurgia será sempre o alívio da oclusão intestinal e restabelecimento do trânsito intestinal. Pode ser necessária ressecção intestinal, se houver necrose e / ou perfuração. Os 2 topos intestinais resultantes podem ser ou não imediatamente anastomosados, dependendo da estabilidade da criança e do grau de contaminação peritoneal. Pode ser necessário manter um estoma intestinal temporário que será posteriormente encerrado quando houver melhores condições locais e gerais. No caso de ressecção intestinal deve manter-se antibioterapia no pós-operatório durante pelo menos 5 dias, devido à contaminação fecal e para prevenir os abcessos e as deiscências de suturas.

Evolução

O prognóstico depende da causa da oclusão, da idade da criança e do estado geral desta.

De uma forma geral, se há necessid

Tratamento conservador
As primeiras medidas são puramente sintomáticas: sonda nasogástrica para esvaziar o estômago e avaliar as perdas hídricas, administração endovenosa de líquidos e electrólitos para o tratamento da desidratação e alterações electrolíticas e antibióticos ev profilácticos quando se prevê que vai ser necessária uma intervenção cirúrgica.

Dependendo da causa da oclusão intestinal, será ou não necessária intervenção cirúrgica. Quando não é necessária cirurgia, por exemplo no caso de uma hérnia inguinal que se reduz manualmente ou uma invaginação intestinal em que se consegue a sua redução de forma conservadora, a criança deve permanecer umas horas em observação, iniciar alimentação progressivamente e avaliar a sua tolerância alimentar e o restabelecimento do trânsito intestinal.

Tratamento cirúrgico
Depende da causa da oclusão. O objectivo da cirurgia será sempre o alívio da oclusão intestinal e restabelecimento do trânsito intestinal. Pode ser necessária ressecção intestinal, se houver necrose e / ou perfuração. Os 2 topos intestinais resultantes podem ser ou não imediatamente anastomosados, dependendo da estabilidade da criança e do grau de contaminação peritoneal. Pode ser necessário manter um estoma intestinal temporário que será posteriormente encerrado quando houver melhores condições locais e gerais. No caso de ressecção intestinal deve manter-se antibioterapia no pós-operatório durante pelo menos 5 dias, devido à contaminação fecal e para prevenir os abcessos e as deiscências de suturas.

ade de intervenção cirúrgica, a duração do internamento e a morbilidade serão maiores. Se a cirurgia inclui ressecção intestinal, isso aumenta ainda mais o tempo de internamento e a morbilidade.

Ressecções intestinais extensas podem causar síndrome de má-absorção com morbilidade associada a médio e longo prazo.

Como em qualquer doente laparotomizado, pode ocorrer oclusão intestinal por bridas e sempre que haja ressecção e anastomose intestinal haverá risco de deiscência da sutura anastomótica.

Recomendações

O mais importante numa situação de oclusão intestinal é fazer o diagnóstico da sua causa ou, pelo menos, conseguir distinguir as situações que precisam de intervenção cirúrgica das que não a necessitarão.

A oclusão intestinal, se não for tratada, leva à necrose intestinal, perfuração e sépsis, por isso o atraso diagnóstico pode fazer toda a diferença entre uma boa evolução e uma ressecção intestinal extensa com elevada morbilidade e mortalidade associadas.

Em caso de dúvida, está sempre indicada a exploração cirúrgica.

Bibliografia

  1. McCollough M; Sharieff GQ. Abdominal surgical emergencies in infants and young children. Emerg Med Clin North Am, 2003, 21.4: 909.
  2. Williams Toni; Cosgrove Michael. Evaluation of vomiting in children. Paediatrics and Child Health, 2012, 22.10: 419-425.
  3. Makin Erica; Davenport Mark. Evaluation of the acute abdomen. Paediatrics and Child Health, 2016, 26.6: 231-238

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