O recém-nascido de termo saudável tem alta
Introdução
A maioria dos recém-nascidos faz uma transição bem-sucedida à vida extrauterina e requer somente cuidados de rotina. Um exame mais detalhado é efetuado nas primeiras 24 horas de vida tranquilizando a mãe sobre as alterações do exame físico.
A Organização Mundial de Saúde recomenda e encoraja o aleitamento materno, aconselhando que este seja o único alimento, nos recém-nascidos de termo, durante os primeiros 6 meses de vida.
O internamento deve durar o tempo suficiente para permitir a identificação de problemas e garantir a recuperação da mãe, de forma a que esta se sinta capaz de prestar os cuidados ao recém-nascido, em casa.
Recomendações
A Academia Americana de Pediatria publica regularmente as sua orientações sobre a alta para casa do recém-nascido de termo saudável - “Hospital stay for healthy term neonates - policy statement”, que iremos adaptar:
- A evolução clínica e o exame físico não mostram alterações.
- Os sinais vitais foram documentados como normais, com as variações habituais neste período da vida e estáveis nas 12 horas antes da alta:
- Temperatura axilar 36,5ºC – 37,4ºC, avaliados no berço com roupa adequada.
- Respiração calma, ausência de outros sinais de dificuldade respiratória
- Frequência cardíaca entre 100 a 160 batimentos/ minuto, com o recém-nascido acordado e calmo. Frequências cardíacas perto dos limites merecem avaliação adequada.
- O recém-nascido deve ter micções regulares e ter tido pelo menos uma dejeção espontânea
- O bebé deve ter completado, com sucesso, pelo menos 2 refeições.
- Se amamentado deve estar documentada uma técnica adequada e avaliada a capacidade da mãe reconhecer os sinais de fome.
- Se sob leite adaptado documentar que o bebé mama e deglute coordenadamente sem interferência com a respiração.
- Se existir icterícia significativa antes da alta:
- Avaliação correta da clínica, fatores de risco e determinação do valor transcutâneo ou sérico, se necessário.
- Orientação de acordo com as recomendações adotadas pela instituição.
- Avaliação correta / monitorização da probabilidade de sépsis de acordo com os fatores de risco materno / rastreio de infeção a Streptococcus grupo B.
- Os resultados dos exames laboratoriais efetuados devem ser conhecidos
- Serologias maternas do 3º trimestre – Sífilis, Hepatite B, HIV e toxoplasmose, rubéola.
- Recém-nascido – Sangue cordão para grupo e teste antiglobulina direta quando indicado
- Verificar se foi administrada a vacina da hepatite B.
- Verificar se o recém-nascido é elegível para a vacina do BCG e se foi referenciado.
- Verificar o estado vacinal da mãe e recomendar a sua atualização a seguir ao nascimento – tétano, rubéola, pertussis. Considerar a vacina da gripe à mãe e contatos próximos em casos selecionados.
- Verificar se foi efetuado o rastreio auditivo e a determinação da oximetria de pulso.
- Certificar que a mãe tem conhecimentos e está segura sobre a prestação dos cuidados ao seu filho, em particular sobre:
- Vantagens, importância e técnica da amamentação.
- Frequência das micções e dejeções e suas características.
- Aspeto do cordão umbilical, pele e genitais.
- Avaliação dos sinais de doença e problemas mais comuns dos recém-nascidos.
- Questões de segurança: Utilização da cadeira do carro, posição mais segura para dormir e necessidade de vivência em ambiente sem fumo.
- Ensino sobre higiene das mãos.
- Garantir que existe um dispositivo / sistema de retenção para transporte em automóvel que cumpra as normas E (www.apsi.pt). Na alta verificar se o recém-nascido se encontra devidamente acondicionado na cadeira.
- Providenciar para que esteja garantida o acompanhamento após a alta. Devem ser dadas instruções sobre o momento da 1ª consulta e onde recorrer em situação de emergência.
- Garantir que foi feita uma correta avaliação do risco social, familiar e ambiental e que foi efetuado a orientação adequada, por ex:
- Uso de substâncias de abuso / pesquisas na urina, consistentes com consumos recentes.
- História prévia de maus tratos ou negligência infantil
- Doença mental ou psiquiátrica nos pais ou familiar coabitante.
- Falta de suporte social ou familiar.
- Carências habitacionais
- História familiar de violência doméstica, sobretudo na gravidez
- Existência de barreiras ao adequado seguimento do recém-nascido.
- Se o recém-nascido tiver alta às 48h de vida, garantir a observação por profissional de saúde nas 48h após alta.
Considerações
Se estes fundamentos não puderem ser assegurados a alta deve ser protelada, até ser possível garantir o acompanhamento subsequente. O objetivo desta vigilância é:
- Garantir a manutenção do estado de saúde o que inclui prevenção primária e vacinas, exames clínicos periódicos e realizações dos rastreios necessários
- Diagnóstico precoce, se não efetuado no hospital ou se efetuado precocemente
- Avaliação da evolução ponderal, e do estado de saúde
- Avaliação do padrão alimentar e técnica. Incentivo ao aleitamento materno, garantindo a sua manutenção até aos 6 meses, consoante recomendações da OMS/UNICEF.
- Obter evidência de ingestão alimentar adequada pelo padrão da eliminação urinária e do trânsito intestinal. Se necessário referenciar a mãe a um “Cantinho da amamentação”.
- Avaliar a relação mãe-filho e observar o comportamento do recém-nascido.
- Reforçar noções de puericultura fundamentais: nutrição, posição de dormir e o transporte seguro no automóvel.
- Assegurar a qualidade do ambiente familiar, rastrear sinais de depressão pós-parto
Conclusão
O momento da alta do hospital está dependente da avaliação multidisciplinar da díade mãe-filho. A alta antes das 48h após o parto, num recém-nascido de termo saudável, deve ser excepcional.
Bibliografia
- American Academy of Pediatrics. Hospital Stay for Healthy Term Newborn Infants. Pediatrics. 2015;5:948-953.
- Canadian Paediatric Society. Your newborn: Bringing baby home from the hospital. http://www.caringforkids.cps.ca/handouts/bringing_baby_home. Accessed April 08, 2016.
- Queensland Clinical Guidelines. Routine newborn assessment. Queensland Clinical Guidelines. October 2014. www.health.qld.gov.au/qcg. Accessed April 08, 2016.
- Stellwagen L, Boies E. Care of the well newborn. Pediatr Rev. 2006;27(3):89-98.
- Warren JA, Philippi CA. Care of the Well Newborn. Pediatrics in Review. 2012;33(1):4-18.
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