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Introdução

A PET/CT com 18F-FDG é um exame minimamente invasivo, implicando apenas a punção de uma veia periférica para a administração de um radiofármaco e a posterior obtenção de imagens num equipamento híbrido PET/CT [Ver Figura 1], sendo necessária a colaboração da criança para se manter imóvel durante cerca de 25 minutos.

Figura 1 - Distribuição fisiológica da 18F-FDG em adolescente de 15 anos de idade, do sexo feminino, incluindo captação no cérebro, coração, fígado, baço, rins e vias de eliminação urinária, timo, tecido linfóide da naso/orofaringe e gordura castanha das regiões supraclaviculares

Radiofármaco

O radiofármaco utilizado é a 2-[F-18]-fluor-2-desoxi-D-glucose (18F-FDG), administrada por via endovenosa, sendo a atividade administrada em crianças cerca de 3 a 6 MBq/Kg (0,081 a 0,16 mCi/Kg). A 18F-FDG é um radiofármaco constituído por uma molécula com estrutura química muito semelhante à glicose, a fluor-2-desoxi-D-glucose (FDG), marcada com um emissor de positrões, o Flúor-18. Ao contrário da glicose, a FDG vai participar apenas no primeiro passo da via glicolítica, dando origem à 18F-FDG-6-P, um composto fosforilado ao qual a membrana celular é impermeável, com consequente acumulação progressiva intracelular. A 18F-FDG permite assim um estudo imagiológico não invasivo do metabolismo da glicose, sendo o radiofármaco mais utilizado em oncologia, uma vez que as células da maior parte dos tumores malignos expressam maior número de proteínas membranares transportadoras da glicose (sobretudo GLUT-1), apresentam uma actividade enzimática da hexoquinase mais elevada e uma atividade da glicose-6-fosfatase inferior à das células normais, promovendo a retenção intracelular da FDG-6-P.

Porque é realizado

As indicações mais frequentes para a realização de um estudo PET com 18F-FDG são (1,2):

  • Diagnóstico, estadiamento e restadiamento de patologia neoplásica maligna;
  • Planeamento de radioterapia;
  • Pesquisa de tumor oculto;
  • Caraterização metabólica de lesões;
  • Avaliação da atividade metabólica de lesões para orientar procedimentos de biópsia;
  • Avaliação de febre de origem indeterminada (FOI);
  • Avaliação da resposta à terapêutica;
  • Avaliação de recidiva em doentes com marcadores tumorais aumentados, sem sinais clínicos ou imagiológicos de doença em atividade;
  • Diferenciação entre recidiva/doença maligna residual e alterações iatrogénicas.

Como é realizado

A realização de estudo FDG-PET/CT inclui os seguintes procedimentos (1,2):

  • Avaliação clínica (história clínica e exame físico sumários) pelo médico de Medicina Nuclear;
  • Registo do peso e altura;
  • Administração de medicação protocolada – (ex: diazepam, 2,5 mg por via oral; propranolol 1 mg/Kg, máx. 40mg);
  • Punção de veia periférica (acesso venoso para posterior administração do radiofármaco);
  • Recolha de uma gota de sangue para pesquisa de glicemia. Nota: o valor ideal de glicemia capilar é
  • Hidratação e.v. contínua com soro fisiológico (250-500 ml) durante aproximadamente 45 min ou hidratação por via oral com água (cerca de 300 ml);
  • Repouso num cadeirão hospitalar confortável durante cerca de 1 hora, numa sala aquecida;
  • Administração endovenosa do radiofármaco (18F-FDG), sendo a dose administrada calculada de acordo com o peso da criança;
  • Segundo período de repouso num cadeirão hospitalar confortável durante cerca de 1 hora, numa sala aquecida;
  • Aquisição das imagens durante cerca de 25 minutos: Os parâmetros de aquisição dos estudos de PET e de CT devem ser ajustados para a idade da criança e obedecer ao definido em guidelines internacionais de Medicina Nuclear (exemplo de parâmetros para o CT de baixa dose: Voltagem: 130Kv; Amperagem: 30mAs).

Poderá ser necessária sedação, realizada com o apoio de Anestesiologia.

O tempo total despendido para realização do estudo é de aproximadamente 3 horas: 1 h de repouso prévia à administração de 18F-FDG; 1 h de repouso entre a administração de 18F-FDG e o início da aquisição de imagens; aquisição de imagens no equipamento PET/CT durante cerca de 25 minutos (1,2).

Contraindicações

Não há contraindicações absolutas. A gravidez é uma contraindicação relativa e a amamentação deve ser suspensa nas 24 horas posteriores ao exame (1,2).

Limitações

As células inflamatórias, sobretudo os macrófagos activados, podem apresentar captação intensa de 18F-FDG, o que limita a utilização da PET com 18F-FDG na distinção entre patologia neoplásica e inflamatória.

Falsos positivos

Os locais de fixação fisiológica e as vias de eliminação do radiofármaco podem ser causa de falsos positivos.

Falsos negativos

Lesões com dimensões inferiores a 5 mm ou com captação reduzida do radiofármaco.

Cuidados a ter

Cuidados prévios

Antes do exame ser iniciado devem ser observados os seguintes cuidados1,2:

  • Não ingerir alimentos e bebidas açucaradas nas 24 h antes do estudo;
  • Não efetuar atividade física que exija força muscular exagerada nas 24 h antes do estudo;
  • Cumprir um período de jejum de 6 horas antes do estudo;
  • Suspender 6h antes do estudo os soros contendo glicose na sua composição;
  • Os doentes com diabetes tipo 1 ou tipo 2 insulino-tratados não devem fazer a insulina da manhã no dia do exame.

Cuidados posteriores

Após o exame estar iniciado ou concluído, os cuidados a ter são os seguintes

  • O acompanhante da criança não deverá ser uma mulher grávida;
  • Deve ser evitado contacto com outras crianças e mulheres grávidas durante o dia de realização do exame;
  • Devem ser ingeridos bastantes líquidos durante o restante dia de realização do exame para diminuir a exposição à radiação, uma vez que a 18F-FDG circulante é excretada por via renal.

Dosimetria

A dose efetiva do estudo PET depende da atividade de 18F-FDG administrada, da idade e do peso do doente, sendo a dose efetiva em adultos de 0,019 mSv/MBq e variando entre 0,095 mSv/MBq em crianças com 1 ano de idade e os 0,025 mSv/MBq em crianças com 15 anos de idade1. A dose efetiva relativa à componente CT do estudo depende do protocolo de imagem utilizado. Caso não se pretenda adquirir um estudo CT com qualidade diagnóstica e as imagens sejam apenas obtidas para correção de atenuação e referenciação anatómica, a dose pode ser reduzida cerca de 2 a 3 vezes, face a um estudo CT diagnóstico.

Glossário

PET – acrónimo anglo-saxónico de “Positron Emission Tomography” - tomografia por emissão de positrões.
CT – acrónimo anglo-saxónico de “Computerized Tomography” – Tomografia computorizada.
18F-FDG – fluorodesoxiglicose marcada com Flúor-18, radiofármaco análogo da glicose.
MBq – Megabecquerel: equivale a 1000 Becquerel (símbolo Bq) unidade de medida no Sistema Internacional para radioatividade de um nuclídeo mCi – Milicurie – unidade de medida para radioatividade de um nuclídeo equivalente a 37MBq.
FDG-6-P - fluorodesoxiglicose fosforilada na posição 6.
Hexoquinase – primeira enzima da via glicolítica, responsável pela fosforilação da glicose na posição 6.
Glicose-6-fosfatase – enzima responsável pela hidrólise da glicose-6-fosfato.
GLUT - proteínas membranares transportadoras da glicose.
mSv – equivale a 1/1000 sievert (símbolo Sv) – unidade de unidade de medida no Sistema Internacional de dose equivalente, que quantifica o efeito das radiações ionizantes sobre os tecidos vivos.

Bibliografia

  1. Boellaard R, Delgado-Bolton R, Oyen WJG, et al. FDG PET/CT: EANM Procedure Guidelines For Tumour Imaging: Version 2.0. Eur J Nucl Med Mol Imaging (2015) 42:328–354
  2. Sampaio IL, Ferreira B, Sequeira S, Duarte H. Livro de Protocolos do Serviço de Medicina Nuclear do IPO-Porto. Agosto, 2016

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