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Introdução

Definição

A encefalite japonesa é uma doença infecciosa do Sistema Nervoso Central, causada por um vírus da família Flaviviridae. Pertencem também a esta família os vírus que causam a Febre amarela, a Dengue, a Febre do Nilo Ocidental e muitas outras doenças humanas.

Epidemiologia

É endémica na Ásia. Surtos têm ocorrido no Norte da Austrália e nas ilhas do Pacífico.

 O seu maior factor de risco é a permanência em zona rural, onde a maior parte das crianças com menos de 10 anos de idade são infetadas.

A infecção ocorre geralmente em crianças de 2 a 10 anos de idade, o que faz com que a maioria dos adultos já esteja imune à doença.

O vírus é transmitido pelo mosquito Culex e tem como reservatório natural os pássaros aquáticos e como amplificador o porco, sendo o homem um hospedeiro acidental.

O risco de infecção é mais alto nos locais onde o mosquito Culex encontra o seu melhor habitat de reprodução, zonas rurais com terrenos alagados para cultivo de arroz, ou qualquer extensão de água estagnada.

Nas regiões onde a taxa de vacinação começou a ser significativa em pacientes nos primeiros anos de vida, a infeção tem mais incidência na população mais idosa, que não foi vacinada. 

O período de incubação é de 4 a 16 dias.

História Clínica

Anamnese

Tem início súbito, com febre alta, cefaleias, prostração, dor abdominal e vómitos. Dias depois surgem agitação, delírio, paralisia facial, hemiparesia, fraqueza muscular, paralisia flácida, ataxia, tremores, coreoatetose,  rigidez da nuca, olhar fixo e convulsões,  e  o doente pode entrar rapidamente em coma.  Mais de 95% dos infectados são assintomáticos.  

Exame objectivo

Contexto epidemiológico e manifestações clínicas que apontam para a doença.

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico diferencial faz-se com:

  • Meningite bacteriana
  • Abcesso cerebral
  • Outras encefalites virais (atenção especial à encefalite por herpes vírus, porque esta pode ser tratada com antivirais)
  • Meningite asséptica
  • Raiva
  • Parotidite epidémica
  • Meningoencefalites
  • Coriomeningite linfocitária
  • Síndrome de Guillain-Barré
  • Poliomielite
  • Malária

Exames Complementares

Patologia Clínica

IgM ELISA do soro ou do Líquido cefalorraquidiano.

PCR (polimerase chain reaction) do soro ou do Líquido cefalorraquidiano.

Imagiologia

TAC e Ressonância magnética, quando disponíveis, podem evidenciar edema cerebral e anomalias no cerebelo, tronco cerebral e espinal medula.

Tratamento

Não existe tratamento específico. A ribavirina, Imunoglobulinas e Interferon alfa foram experimentados mas não comprovaram eficácia.

Medidas gerais

  • Correcção do desequilíbrio hidroelectrolítico e  ácido básico (atenção especial à secreção inapropriada da hormona antidiurética)
  • Administrar aciclovir na suspeita de infecção por herpes vírus, enquanto se aguada o diagnóstico definitivo,
  • Administrar antibiótico, ex. ceftriaxone, se a hipótese de meningite bacteriana não pode ser afastada
  • Tratamento da hipertensão intracraniana
  • Controlo das convulsões

Os casos graves devem ser internados em Unidade de Cuidados Intensivos.

Na falta de UCI o doente deve ser internado em salas com o melhor nível de assistência possível, de preferência dispondo de ventilação assistida.

Evolução

Nos casos graves a morte pode ocorrer rapidamente. A taxa de mortalidade pode ultrapassar os 25%, mesmo em Unidade de Cuidados Intensivos.

Casos ligeiros começam a registar melhoras no fim de 1 semana.

Recuperação neurológica pode levar anos e deixar sequelas psicossociais em mais de 50% das crianças afectadas.

Podem surgir úlceras de pressão e infecções bacterianas secundárias.

Grávidas infectadas no segundo ou terceiro trimestre de gravidez têm grande probabilidade de abortar.

Recomendações

  • Combater os mosquitos vectores, pulverizando com insecticidas o interior e as zonas circundantes às habitações
  • Usar mosquiteiros impregnados com insecticidas
  • Usar repelentes de insectos e roupas protectoras
  • Drenar os pântanos e evitar acumulação de água em pneus abandonados ou em qualquer recipiente deixado ao ar livre
  • Combater as plantas aquáticas susceptíveis de reter água
  • Evitar, o máximo possível, a permanência ao ar livre nas horas em que o vetor está mais activo, geralmente ao amanhecer e ao entardecer

Imunização

Existe vacina eficaz contra a encefalite japonesa, recomendada:

  • Para todos os que residem em zonas endémicas
  • Para os viajantes que vão permanecer mais que 30 dias em zonas endémicas nas estações em que os mosquitos estão mais activos
  • Para todas as pessoas com permanência inferior a 30 dias em zonas endémicas mas expostas muito tempo ao ar livre, em laser ou em trabalho
  • Para todos os profissionais de risco -técnicos de laboratório, veterinários, militares, etc.
  • Para os viajantes, a vacinação primária deve estar concluída pelo menos uma semana antes da entrada em zona endémica

Esquema de vacinação:

  • Crianças entre os 2 meses e os 3 anos de idade: 0,25 ml aos  0 e 28 dias, com reforço após  12 a 24 meses
  • Entre os 3 a 18 anos: 0,5 ml aos 0 e 28 dias, com reforço após 12 a 24 meses.
  • Adultos até aos 65 anos: 0,5 ml aos 0 e 28 dias, ou com o esquema rápido: 0 e 7 dias, com reforço após 12 a 24 meses
  • A partir dos 65 anos: 0,5 ml aos 0 e 28 dias; não está comprovada a eficácia do reforço nesta faixa etária.

Os residentes em zona endémica, ou não residentes que estejam em actividade de risco, exemplo técnico de laboratório, veterinário, militares ou qualquer outro trabalhador ou viajantes expostos a picadas de mosquitos, devem fazer reforço 12 meses após a imunização primária.

Os expatriados que permanecem por período longo em zonas endémicas devem fazer um segundo reforço, 10 anos após o primeiro.

A vacina deve ser evitada durante a gravidez.

Bibliografia

  1. Davidson R, Brent A, Seale A. Oxford Handbook of Tropical Medicine 4th edition. Oxford University Press, 2014
  2. Kwan-Gett TSC, Kemp C, Kovarik C. Infectious and Tropical Diseases 1th edition. Elsevier Mosby 2006
  3. Matthews PC. Tropical Medicine Notebook 1th edition. Oxford University Press 2017
  4. Torok E, Moran E, Cooke F. Infectious Diseases and Microbiology 2nd edition. Oxford University Press, 2017

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