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Introdução

Definição

A dismenorreia é uma das causas mais frequentes de dor pélvica na mulher. Carateriza-se por uma dor em cólica nos quadrantes abdominais inferiores que surge durante a menstruação.

Dizemos que estamos perante uma dismenorreia primária quando esta ocorre na ausência de outras patologias. Por outro lado, se houver patologia pélvica, trata-se de uma dismenorreia secundária [1].   

Epidemiologia

A prevalência da dismenorreia na mulher varia entre 16,8 a 81%. Na adolescência pode chegar a atingir os 93%, condicionando limitações nas atividades da vida diária das adolescentes. Apenas 15% das mulheres recorrem aos cuidados de saúde por dismenorreia [2].

História Clínica

Anamnese

Na dismenorreia primária, a adolescente refere uma dor nos quadrantes abdominais inferiores com irradiação ou não para o dorso ou membros inferiores e ainda sintomas que incluem lombalgias, cefaleias, astenia, náuseas, vómitos, diarreia. A dismenorreia pode ter início algumas horas antes do início da menstruação e durar 1 a 3 dias após o início da mesma. Geralmente, os sintomas surgem apenas 6 a 12 meses após a menarca, quando se estabelecem os ciclos ovulatórios. [3]

A dismenorreia secundária é mais frequente após os 20 anos, sobretudo na 4ª e 5ª décadas de vida. Afeta apenas 10% das adolescentes/adultas jovens. [3]

Na história clínica destas adolescentes é importante questionar: 

  • idade na menarca
  • interlúnios e duração do cataménio, questionando as datas dos últimos cataménios
  • início e duração da dismenorreia, sintomas associados
  • gravidade dos sintomas e impacto na vida diária
  • medicação
  • história sexual [1]

Exame objectivo

O exame pélvico não é obrigatório nas jovens sem início de atividade sexual, excepto se há suspeita de endometriose – realizar exame retovaginal.

Por outro lado, nas jovens sexualmente ativas, deverá ser realizado um exame pélvico, sobretudo para excluir a doença inflamatória pélvica.

Nos casos de dismenorreia primária, o exame físico é normal.

Nos casos de dismenorreia secundária, os achados variam consoante a patologia de base, por exemplo, na endometriose poderá ser encontrado um útero com mobilidade diminuída/fixo, massas anexiais, nódulos no fundo de saco retovaginal; na doença inflamatória pélvica, um corrimento vaginal mucopurulento e, na adenomiose, um útero aumentado e assimétrico. [1,3]

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico de dismenorreia primária só pode ser assumido após a exclusão de causas de dismenorreia secundária, sejam ginecológicas ou não. São exemplos de causas de dismenorreia secundária:

  • malformações do trato genito-urinário
  • torção anexial
  • quistos do ovário
  • endometriose
  • doença inflamatória pélvica
  • adenomiose
  • leiomiomatose
  • gravidez ectópica
  • cistite intersticial
  • dor pélvica crónica
  • aderências intra-uterinas ou pélvicas
  • pólipo endometrial obstrutivo
  • estenose cervical
  • síndrome de congestão pélvica
  • uso de dispositivos intra-uterinos
  • doença inflamatória intestinal
  • síndrome do cólon irritável
  • obstrução ureteropélvica
  • distúrbios psicológicos [3,4]

Devemos suspeitar de uma dismenorreia secundária perante:

  • dismenorreia que ocorre logo no 1º ou 2º ciclo após a menarca - pensar em malformações congénitas obstrutivas
  • dismenorreia de início tardio, sem história de dismenorreia prévia – pensar em complicações da gravidez, nomeadamente gravidez ectópica ou ameaça de abortamento
  • alterações no exame físico, infertilidade (ponderar endometriose, doença inflamatória pélvica…), fluxo menstrual abundante ou ciclos irregulares (adenomiose, fibromiomas, pólipos), dispareunia
  • ausência de resposta à terapêutica

Exames Complementares

Patologia Clínica

  • Hemograma com contagem leucocitária e PCR: elevação de parâmetros inflamatórios poderá sugerir uma causa infeciosa
  • Análise sumária de urina para exclusão de infeção urinária 
  • Teste de gravidez na urina ou quantificação de b-hCG no sangue para exclusão de gravidez/gravidez ectópica
  • Zaragatoas vaginais para pesquisa de N. gonorrhoeae e C. trachomatis se há suspeita de doença inflamatória pélvica
  • Citologia cervical para excluir malignidade [1,3]

Imagiologia

  • Ecografia pélvica: para caraterização do endométrio, miométrio, anexos, deteção neoformações uterinas e/ou anexiais, gravidez
  • Ressonância Magnética Pélvica: se há forte suspeita de adenomiose, endometriose ou torção anexial que não foi confirmada na ecografia pélvica
  • Laparoscopia: em caso de a etiologia não estar definida apesar da avaliação não invasiva [1,3]

Tratamento

Cirurgia

Indicado nos casos de dismenorreia secundária, de acordo com a patologia subjacente. [3]

Antibioterapia

Indicado em caso de dismenorreia secundária a patologia infecciosa, consoante o diagnóstico. [3]

Algoritmo clínico/ terapêutico

O tratamento de primeira linha da dismenorreia primária são os Anti-Inflamatórios Não Esteróides (AINEs), com resposta em 70 a 90% das pacientes. Estes podem ser iniciados 1 a 2 dias antes do início da menstruação nos casos mais graves e mantidos por 2 ou 3 dias após o início da mesma. No caso de não haver resposta com um fármaco de uma classe, é razoável tentar um fármaco de uma classe diferente, preferindo os AINEs não selectivos da COX [1,3].

Classe  /  Fármaco  /  Dosagem e posologia:

  • Ác. propiónico  /  Ibuprofeno  /   200 – 600mg de 6/6 horas
  • Ác. propiónico  /  Naproxeno  /  Inicialmente 500mg, depois 250mg de 12/12 horas
  • Fenamatos  /  Ácido mefenâmico   /  Inicialmente 500mg, depois 250mg de 6/6 horas

Nos pacientes que não respondem ou não toleram a terapêutica com AINEs, poderá ser iniciada a terapêutica com contraceptivos combinados, que vão inibir a ovulação, reduzindo o nível de prostaglandinas e, posteriormente, o fluxo menstrual. Nas jovens sexualmente ativas, esta escolha poderá ser considerada de primeira linha, uma vez que trata a dismenorreia e previne a gravidez não desejada.

Se os sintomas se mantiverem nos primeiros 3 meses apesar da terapêutica, poderá ser tentada a terapêutica conjunta com AINE + contracetivo combinado. [1]

Outras terapêuticas, baseadas em evidência limitada, são o calor local, o exercício físico e terapêuticas complementares ou alternativas, como a acupuntura e intervenções nutricionais [1].

Evolução

O seguimento deverá ser feito nos primeiros meses após o início da terapêutica, para avaliar a resposta à terapêutica e adesão. As adolescentes que não respondem à terapêutica, devem receber especial atenção no sentido de serem excluídas causas secundárias de dismenorreia, devendo ser ponderada a sua referenciação ao ginecologista [1]. 

Quanto ao prognóstico, tendo em conta que a idade, paridade, número de nados vivos e uso de contraceção oral são fatores relacionados com a prevalência da dismenorreia, é de esperar que esta diminua com o envelhecimento, o maior número de partos/nados-vivos e uso de contraceção oral [2]. 

Recomendações

O consumo de frutas e vegetais, bem como o exercício físico, parecem estar positivamente relacionados com um redução do risco e melhoria dos sintomas de dismenorreia primária, pelo que é recomendada uma dieta rica nestes alimentos.

Embora os estudos sejam limitados, parece haver uma correlação positiva entre o consumo de tabaco e o stress e a dismenorreia [1,2,5].

Bibliografia

  1. Banikarim C. Primary dysmenorrhea in adolescents. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA. (Accessed on April 12, 2016.)
  2. Ju H, Jones M, Mishra G. The prevalence and risk factors of dysmenorrhea. Epidemiologic reviews. 2014;36:104-13. PubMed PMID: 24284871.
  3. Osayande AS, Mehulic S. Diagnosis and initial management of dysmenorrhea. American family physician. 2014 Mar 1;89(5):341-6. PubMed PMID: 24695505.
  4. Brown K, Lee JA. Evaluation of acute pelvic pain in the adolescent female. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA. (Accessed on April 12, 2016.)
  5. Golomb LM, Solidum A, Warren MP. Primary dysmenorrhea and physical activity. Medicine & Science in Sports & Exercise: June 1998 - Volume 30 - Issue 6 - pp 906-909

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