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Introdução

O leite materno (LM) possui propriedades e características que lhe conferem um papel muito importante na protecção da saúde materno-infantil. Nos últimos anos, tem-se verificado um papel cada vez mais activo dos profissionais de saúde na promoção do aleitamento materno, actuando não só durante e após o nascimento, mas também no período pré-natal, contribuindo assim para a melhoria das taxas de amamentação.

Lactação

A produção do LM é estimulada essencialmente pela sucção / extracção do leite. Assim, em resposta à mamada:

  • a hipófise anterior segrega prolactina, que desencadeia a produção de LM pelas células secretoras da mama;
  • a hipófise posterior liberta oxitocina que produz a contracção das células mioepiteliais, em torno dos alvéolos, permitindo o fluir do LM pelos ductos até ao mamilo;
  • quando a mama não é esvaziada, o aumento da pressão intramamária desencadeia a secreção do factor inibidor da lactação pelas células epiteliais, com consequente diminuição da produção do LM.

O LM é um fluido complexo, com componentes celulares (ex. macrófagos, neutrófilos, linfócitos e células epiteliais) e componentes químicos, nomeadamente lactose, lípidos e proteínas (caseína, alfa-lactoalbumina, lactoferrina, imunoglobulinas).

A composição do LM modifica-se ao longo do tempo, ao longo do dia e até na mesma mamada. Durante a mamada é inicialmente mais rico em água e lactose e posteriormente mais rico em lípidos.

Vantagens do Aleitamento Materno

Para o bebé:

  • Diminuição da incidência e/ou gravidade de diversas doenças infecciosas, nomeadamente sépsis, meningite, otite média, infecções respiratórias, gastrointestinais e urinárias, bem como de diabetes mellitus I e II, asma, obesidade, hipercolesterolemia, doença celíaca, doença inflamatória intestinal e doenças linfoproliferativas. No recém-nascido (RN) pré-termo, o LM associa-se a menor incidência de enterocolite necrosante e sépsis tardia.
  • Diminuição do risco de morte súbita do lactente.
  • Analgesia em procedimentos dolorosos.
  • Melhor aceitação da diversificação alimentar.
  • Melhor desenvolvimento cognitivo.

Para a mãe:

  • Melhor involução uterina.
  • Melhor recuperação do peso pré-concepcional.
  • Diminuição da incidência de ansiedade e depressão (correlação com os níveis de prolactina sérica).
  • Diminuição do risco de neoplasia da mama, ovário e útero.
  • Diminuição do risco de osteoporose pós-menopausa.
  • Diminuição da incidência de artrite reumatóide e diabetes mellitus II.

Para a comunidade/ sociedade:

  • Redução dos custos associados a despesas de saúde e absentismo (papel de prevenção do LM).
  • Diminuição da contaminação ambiental pelo “lixo” associado ao aleitamento artificial (latas, biberões, tetinas,...).

Contra-Indicações do Aleitamento Materno

Existem poucas “contra-indicações verdadeiras” para o aleitamento materno.

Contra-indicações maternas:

A) Infecção:

  • Vírus da imunodeficiência humana (VIH), excepto em populações, como nos países em vias de desenvolvimento, em que o risco de outras doenças infecciosas ou de desnutrição infantil, associado a maior mortalidade, se sobrepõe ao risco de transmissão VIH; nestes casos a OMS recomenda o aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida (maior risco de transmissão VIH com aleitamento misto).
  • Vírus HTLV I ou II.
  • Brucelose não tratada, grave e em fase aguda (contra-indicação temporária).

B) Medicação materna nociva para o bebé (a segurança da medicação no aleitamento materno pode ser consultada através do site www.elactancia.org; sempre que possível, deve ser considerada a alternativa terapêutica compatível com a amamentação em vez de contra-indicar o aleitamento materno).

C) Exposição materna a material radioactivo.

Contra-indicações do RN / Lactente:

A) Galactosémia (contra-indicação absoluta).

B) Fenilcetonúria (de acordo com os níveis séricos, existem casos compatíveis com o aleitamento materno parcial).

Existem também casos em que está contra-indicada a amamentação (contacto directo mãe / bebé) mas não o LM (podendo ser extraído e oferecido ao bebé), São exemplos: mães com varicela nos 5 dias antes ou 2 dias depois do parto, mães com lesões herpéticas mamárias, mães com H1N1, mães com tuberculose com menos de 2 semanas de terapêutica.

Mães com hepatite B e imunoprofilaxia adequada, mães com infecção a Citomegalovírus ou com hepatite C, podem manter o aleitamento materno.

Nas mães com consumo de drogas como cocaína e canabinóides, o aleitamento materno está contra-indicado pelo risco de complicações a longo prazo a nível do neurodesenvolvimento. O consumo de metadona não constitui uma contra-indicação para o aleitamento materno, no entanto, deve assegurar-se a vigilância de eventual Síndrome de Privação no RN.

Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés

A OMS e a UNICEF desenvolveram o Projecto “Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés”, contemplando 10 medidas importantes para o sucesso da amamentação, a implementar nos serviços de saúde com assistência a grávidas e recém-nascidos:

  1. “Ter uma política de promoção do aleitamento materno, afixada, a transmitir regularmente a toda a equipa de cuidados de saúde.
  2. Dar formação à equipa de cuidados de saúde para que implemente esta política.
  3. Informar todas as grávidas sobre as vantagens e a prática do aleitamento materno.
  4. Ajudar as mães a iniciarem o aleitamento materno na primeira meia hora após o nascimento.
  5. Mostrar às mães como amamentar e manter a lactação, mesmo que tenham de ser separadas dos seus filhos temporariamente.
  6. Não dar ao recém-nascido nenhum outro alimento ou líquido além do LM, a não ser que seja segundo indicação médica.
  7. Praticar o alojamento conjunto: permitir que as mães e os bebés permaneçam juntos 24 horas por dia.
  8. Dar de mamar sempre que o bebé queira.
  9. Não dar tetinas ou chupetas às crianças amamentadas ao peito.
  10. Encorajar a criação de grupos de apoio ao aleitamento materno, encaminhando as mães para estes, após a alta do hospital ou maternidade”.

Recomendações

Recomendações OMS

O colostro é o alimento perfeito do RN; a amamentação deve ser iniciada na primeira hora de vida.

Manter o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida.

Aos 6 meses deve iniciar-se a diversificação alimentar, mantendo o LM pelo menos até aos 2 anos.

Bibliografia

  1. Levy L, Bértolo H. Comité Português para a UNICEF. Comissão Nacional Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés. Manual do aleitamento materno. 2012.
  2. Associacion Espanola de Pediatria. Manual de lactancia materna. Editorial médica panamericana. 2009
  3. American Academy of Pediatrics. Breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics 2012. 129:e827.
  4. Schanler RJ, Potak DC. Breastfeeding: parental education and support.. UpToDate 2017 (acedido em 30/06/2017) . Disponível em http://www.uptodate.com/
  5. Schanler RJ. Infant benefits of breastfeeding. UpToDate 2017 (acedido em 30/06/2017) . Disponível em http://www.uptodate.com/

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