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Introdução

Definição

As Perturbações do Neurodesenvolvimento (PND) são um grupo de patologias de origem neurobiológica, que se manifestam por alterações a nível do desenvolvimento e/ou comportamento. Caracteristicamente surgem precocemente na infância, mas tendem a manter-se ao longo da vida nomeadamente na adolescência e adultícia.

A adolescência é caracterizada por transformações em diferentes vertentes: física, cognitiva, emocional e social. A adaptação a uma condição biológica diferente, a conquista da autonomia deliberativa e decisional para efetuar escolhas na vida académica ou profissional, a procura de relações interpessoais próximas e duradouras, o fascínio pelo risco, são exemplos dos desafios que os adolescentes enfrentam. As figuras de referência deslocam-se do modelo parental para os pares com quem se passam a identificar e necessitam de se reinventar e valorizar enquanto pessoas,  para ultrapassar este período de transição, por vezes vivido de forma turbulenta.

O  adolescente com perturbações do neurodesenvolvimento, enfrenta riscos e problemáticas acrescidamente difíceis, pelas limitações inerentes à sua condição, numa sociedade repleta de barreiras físicas e de atitude, geradoras de dificuldades a nível individual, escolar e académico, laboral e social, que condicionam e por vezes comprometem a sua cidadania.

Epidemiologia

As PND são muito frequentes na população em geral e, naturalmente, na adolescência. 

As perturbações de desenvolvimento intelectual estão presentes em 2 a 4% dos adolescentes, as perturbações específicas da aprendizagem em 5 a 10%, as perturbações da comunicação em 5 a 7%, a perturbação de défice de atenção e hiperatividade em 1,7 a 9% e as perturbações do espetro do autismo em 0.6 a1,2%.

História Clínica

Perante a suspeita de uma PND, durante a adolescência,  a abordagem inicial deve incidir sobre:

  • História clínica detalhada do desenvolvimento da criança (etapas de desenvolvimento, intervenções, preocupações parentais)
  • Pesquisa de sintomas psicopatológicos (irritabilidade, desatenção, impulsividade, agressividade, comportamentos restritos e repetitivos, ansiedade, depressão e distúrbios do sono)
  • Exame físico completo (incluindo exame neurológico)  
  • Rastreio da visão e audição
  • Problemas médicos/ doenças crónicas (com especial atenção às do foro do neurodesenvolvimento e neurológico)
  • Terapêutica medicamentosa efetuada, apoios terapêuticos e ajudas técnicas
  • Caracterização da estrutura e função familiar (incluindo segurança do ambiente – identificação de comportamentos de risco – homo ou heteroagressão, sinais de abuso ou negligência) 
  • Caracterização de apoios escolares, nomeadamente educação especial (medidas preconizadas pelo Dec. lei 3/2008) e/ou apoios terapêuticos específicos (Psicologia, Terapia da fala)
  • Apoios na comunidade nomeadamente apoios sociais (abonos, respostas sociais de apoio à família e à parentalidade) e atividades extra-curriculares (escuteiros, desporto, educação espiritual)

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico das PND é clínico, efetuado com base nas características comportamentais, apresentadas e devidamente enquadradas nos critérios da DSM-5. Assim sendo, o diagnóstico diferencial com outras perturbações do Neurodesenvolvimento, patologias do foro mental e psiquiátrico é também estabelecido com base nos critérios e enquadramento da mesma DSM-5.

Nunca é demais sublinhar a maior frequência de comorbilidade nas PND, dificultando o diagnóstico ou tornando-o mais desafiante.

Exames Complementares

Apesar do diagnóstico ser essencialmente clínico, a utilização de instrumentos específicos podem auxiliar tanto no diagnóstico como na definição de comorbilidades. 

Das múltiplas escalas validadas para adolescentes, são exemplos: Questionário de Conners, Childhood Autism Rating Scale (CARS) , Vineland, Inventário de comportamentos (para adolescentes).

Com base nos resultados da anamnese e exame físico pode considerar-se como clinicamente indicado:

  • Realização de Testes psicométricos (a Griffiths e a WISCIII são exemplos das escalas mais utilizadas, esta última validada para a população portuguesa).
  • Avaliação genética/metabólica/endocrinológica (se fenótipo de patologias, mais frequentemente associadas a PND).
  • Exame de neuroimagem ou EEG (alterações no exame neurológico ou episódios sugestivos de epilepsia

Tratamento

As crianças e adolescentes com PND representam uma população única e vulnerável com necessidades especiais A complexidade e a alta prevalência de co-morbilidades, faz com que necessitem de um vasto leque de serviços de saúde, educativos e comunitários (equipas pluridisciplinares).

O tratamento depende das características e necessidades de cada adolescente, dado o início precoce e o caráter permanente das PND; a maioria destas crianças/adolescentes estará exposta a múltiplas intervenções dirigidas a sintomas alvo específicos, pelo que é importante a disponibilidade de cuidados de saúde e intervenções educativas e terapêuticas específicas, desde que suportadas pela evidência científica.

Intervir precocemente, promovendo fatores de proteção, permitirá a estes adolescentes lidar com o sucesso, desafios e adversidades a que são sujeitos.

Uma intervenção multimodal dirigida a cada uma das patologias e um plano de intervenção específico, adequado a cada adolescente e ao respetivo perfil de funcionalidade, com a participação de pais, professores e profissionais de saúde (pediatras de neurodesenvolvimento, pedopsiquiatras, psicólogos e terapeutas) é a abordagem preferencial a adotar.

Os psicofármacos não são o tratamento de primeira linha para crianças com PND. 

Em primeira linha devem ser considerados, designadamente:

  • Apoio psicológico e medidas de apoio terapêutico aos pais e cuidadores, numa perspetiva contextuo-holística integrada;
  • Apoios terapêuticos diretos, quando necessários como  terapia da fala, fisioterapia, terapia ocupacional, apoio social ou apoios educativos CRI – centros de recursos para a inclusão.

A intervenção farmacológica, nomeadamente a utilização de psicofármacos deve ser considerada, quando o objetivo é controlar os sintomas incapacitantes, visando potenciar a funcionalidade destes adolescentes e ainda no tratamento de comorbilidades.

Tecnologias de todos os tipos podem melhorar a saúde, qualidade de vida e potenciar a independência e autonomia dos jovens com PND. As tecnologias assistidas começam a ser amplamente utilizadas para promover a autonomia funcional em situações de incapacidade e ou deficiência. A emergência de tecnologias assistidas (smart) que integram as tecnologias de informação constituem um desafio para o adolescente e respetivas famílias, sistema educativo e sistema de saúde, mas são iniludivelmente o futuro para a melhoria da qualidade de vida e plena inclusão destes adolescentes, futuros jovens adultos.

Evolução

As Perturbações do Neurodesenvolvimento têm uma evolução dinâmica, observando-se frequentemente a aproximação ao desenvolvimento típico, com base num plano de intervenção precoce e especializado; a ausência de intervenção o seu início tardio ou desajustado ao perfil funcional do adolescente, condicionam a estagnação, desfasamento e agravamento das limitações e ou incapacidades.

Apesar da adolescência não representar um período crítico para a neuroplasticidade, é possível que as experiências ambientais, possam ser particularmente críticas neste período.

O exercício parental de crianças e adolescentes com PND pode ser especialmente desafiante, nomeadamente na ausência de diagnóstico e acompanhamento especializado.

Os adolescentes com PND experienciam sempre dificuldades acrescidas uma vez que o ambiente raramente se constitui como elemento facilitador nas suas vidas. Dificuldades de autonomia motora, decisional, de adaptação na transição da escola para a vida ativa, isolamento social, dificuldades de inclusão na escola e mercado laboral com a consequente dependência económica são algumas das barreiras com que se defrontam na adolescência e adultícia.

A exposição a situações de risco social e ambiental, em jovens com dificuldades de comunicação e interação social, podem aumentar o risco de delinquência e prédelinquência, ao identificarem-se com grupos de pares desviantes, pela necessidade sentida de serem aceites.

Adolescentes e jovens adultos com PND apresentam um risco acrescido de co-morbilidade por patologia do foro psiquiátrico (auto ou hetero-agressão, suicídio, perturbações de conduta, psicoses, perturbações do humor e da ansiedade) ou consumo de substâncias psicoativas.

Recomendações

A promoção de comportamentos e estilos de vida saudáveis nos adolescentes com PND, aliado a um plano de intervenção direcionado para pais, professores e outros técnicos envolvidos no processo de habilitação/reabilitação, permite antever um processo de transição para a vida adulta, mais harmonioso.

Bibliografia

  1. Spear LP. Adolescent Neurodevelopment. Journal of Adolescent Health. 2013; S7-S13.
  2. Neurodevelopmental Disorders: Psychotropic Medication Recommendations for Target Symptoms in Youth; 2014. Florida Medicaid Drug Therapy Management Program for Behavioral Health
  3. Hughes N. Neurodisability in the youth justice system: recognising and responding to the criminalisation of neurodevelopmental impairment; Howard League What is Justice? Working Papers 17/2015; http://www.howardleague.org/what-is-justice

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