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Introdução

Definição

A ameaça de aborto consiste na ocorrência de hemorragia vaginal durante a primeira metade da gravidez na ausência de alterações no colo uterino e na presença de embrião viável.(1,2) Pode ser acompanhada de dor abdominal tipo cólica nos quadrantes inferiores.(2,3) Esta perda hemática resulta da disrupção dos vasos deciduais podendo por vezes dar origem a um hematoma subcoriónico.(1)

Epidemiologia

Apenas 4-10% das gravidezes em que ocorre perda hemática no primeiro trimestre com feto viável, terminam em abortamento.(1) Aproximadamente 25% das grávidas apresentam hemorragia no primeiro trimestre sendo que destas apenas 50% terminam em abortamento.(2)

História Clínica

Anamnese

A colheita de uma história clínica detalhada é fundamental para a abordagem diagnóstica da ameaça de aborto. Deve ser questionado a extensão da hemorragia e se ocorreu saída de coágulos. É essencial conhecer os antecedentes patológicos e obstétricos, nomeadamente determinar a existência de episódios de abortamento anteriores. A avaliação da presença de patologias crónicas maternas é relevante para a identificação de potenciais factores de risco para abortamento.(1,2)

A idade gestacional e duração da hemorragia são preditores do risco de abortamento, verificando-se um risco mais elevado se a hemorragia ocorrer entre as 13 e as 20 semanas e se esta for abundante e de longa duração.(3)

Exame objectivo

O exame ginecológico constitui um passo fulcral na avaliação da mulher com hemorragia na gravidez. Através da observação com espéculo é possível identificar a origem da hemorragia, excluindo uma causa vaginal ou cervical. Na ameaça de aborto o cérvix encontra-se fechado e sem exteriorização de tecido fetal ou placentar pelo orifício cervical.(1,2)

O exame abdominal é frequentemente normal, excepto em situações de gravidez ectópica onde pode surgir dor à palpação e sinais de irritação peritoneal no caso de rotura do saco gestacional ectópico.(1,2)

Diagnóstico Diferencial

Os principais diagnósticos diferenciais de ameaça de aborto consistem em aborto completo ou incompleto, aborto em evolução, gravidez anembrionária, doença trofoblástica ou gravidez ectópica.(1)

Exames Complementares

Patologia Clínica

A realização de hemograma e hematócrito tem o objetivo de permitir avaliar o grau de hemorragia e se existe repercussão hematológica.

A avaliação da β-HCG é útil na dúvida da localização da gravidez. Níveis de β-HCG entre 1500-2000  UI/ml estão associados a visualização ecográfica de saco gestacional.(1,2) É normal não se visualizar saco gestacional com valores β-HCG

Imagiologia

A ecografia ginecológica é útil na avaliação da ameaça de aborto pois permite determinar a localização da gravidez e a sua viabilidade. A ausência de saco gestacional intra-uterino às 6 semanas de amenorreia com teste de gravidez positivo é sugestivo da presença de uma gravidez ectópica. Por vezes é possível visualizar ecograficamente um descolamento com presença de hematoma subcoriónico.(1,2)

Tratamento

Cirurgia

A curetagem/aspiração uterina é realizada caso exista necessidade de esvaziamento uterino após identificação de aborto retido ou incompleto, sem resposta a terapêutica médica.(3)

Antibioterapia

A antibioterapia está indicada na presença de vaginose bacteriana dado esta se  associar a um maior risco de abortamento e parto pré-termo.(4) No caso de se verificar aborto séptico torna-se essencial a instituição de antibioterapia de largo espectro.(3)

Algoritmo clínico/ terapêutico

O tratamento da ameaça de aborto consiste numa abordagem expectante com vigilância em ambulatório até a resolução da sintomatologia ou progressão para abortamento. Apesar de não existir evidência científica, frequentemente é recomendado o repouso e a abstinência sexual.(2,3,4)

Os benefícios da utilização de progesterona na ameaça de aborto não estão ainda comprovados, no entanto alguns estudos apontam para a redução do risco de aborto quando comparada ao placebo. A progesterona pode ser administrada por via oral, vaginal ou intramuscular, no entanto a via vaginal é aquela que apresenta menos efeitos adversos, como náuseas, vómitos, cefaleias e sonolência.(3,4,5)

Evolução

Uma elevada percentagem de mulheres apresenta perdas hemáticas durante a fase inicial da gravidez. A percentagem de abortamento no primeiro trimestre é de 20%.(3) O risco de abortamento numa situação de ameaça de aborto está dependente de vários factores, sendo os mais relevantes a intensidade e duração da hemorragia, assim como a idade gestacional em que esta ocorre.(2)

Bibliografia

  1. Errol Norwitz, Joong Shin Park, “Overview of the etiology and evaluation of vaginal bleeding in pregnant women”, Setembro de 2017 uptodate
  2. Michelle Mouri, Timothy J. Rupp, “ Threatened abortion” National Library of Medicine, National Institutes of Health. Outubro 2017
  3. Togas Tulandi, Haya M Al- Fozan, “Spontaneous abortion: Management”, Agosto de 2017 utpdate
  4. Alves J. et al, “ Ameaça de aborto: conduta baseada em evidências”, Feminina, volume 38, nº2, Fevereior 2010
  5. “Ectopic pregnancy and miscarriage: diagnosis and initial management” Clinical Guidline  NICE 2012

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