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Introdução

A radiografia de tórax (RXT) é o exame radiológico mais frequentemente realizado no recém-nascido (RN), sendo um instrumento de avaliação rápida e com boa relação custo-eficácia. A RXT é o exame de 1ª linha na avaliação do aparelho respiratório, permite identificar as estruturas anatómicas cardiotorácicas normais, reconhecer sinais de patologia, devendo os achados radiográficos ser sempre correlacionados com a clínica e, quando possível, comparados com exames prévios. Para a sua interpretação é fundamental o adequado conhecimento das especificidades inerentes às condições técnicas, aos artefactos e às características morfológicas nesta faixa etária.

Factores técnicos

No RN, o exame radiológico é preferencialmente feito com a criança deitada, pela maior facilidade de imobilização de posicionamento e de centragem.

A criança deve estar direita.

O tempo de exposição deve ser curto.

Utilizar diafragmas

Distância foco-filme = 80 cm

As incidências realizadas são a ântero-posterior (A-P), o perfil com raio vertical, virando a criança de lado e o raio perpendicular ao chão, e o perfil com raio horizontal em que a criança permanece deitada em decúbito dorsal, o chassi radiográfico é colocado ao lado da criança e não por baixo, sendo esta última incidência particularmente importante para detecção de ar ectópico.

Interpretação

A chave para interpretar qualquer radiografia com sucesso é a sistematização.

1. Identificação
  • Nome e data de nascimento
  • Número de processo
  • Data e hora do exame

 

2. Condições técnicas
Incidência (ântero-posterior e perfil, com raio horizontal)

Colimação

  • Campo de exposição: contemplar a região anatómica de interesse. O 1º exame  no RN deve também abranger o abdómen
  • Colimação inadequada: aumenta a dose de radiação do paciente e pode afectar a resolução da imagem.

Posicionamento

  • Decúbito dorsal: O alargamento da silhueta cardíaca na criança pequena não é significativo, (devido à espessura reduzida do tórax  não se observa  grande efeito de ampliação do mediastino), modifica o  efeito da gravidade na vascularização pulmonar  ; pode não se visualizar a câmara de ar do estômago.

Penetração dos raios X (dureza dos raios)

  • Adequada: possibilidade de observar, através do mediastino, as vértebras e espaços intervertebrais e de definir   o parênquima pulmonar.

Centragem

1.- Incidência de frente

  • Centrada: Simetria dos arcos costais anteriores.
  • Rotação: alterações da silhueta mediastínica, da posição e dimensão relativa dos hilos e da transparência dos campos pulmonares.

2.- Incidência de perfil

  • Centrada :Alinhamento dos  bordos posteriores dos arcos costais
  • Sem sobreposição de omoplatas ou membros

Grau de inspiração

  • Inspiração profunda dificultada pela frequencia respiratória elevada

Avaliação do volume pulmonar

1.- Incidência de frente:

Nível de intersecção dos arcos costais anteriores com o diafragma:

  • Normal: 5º,6º arcos costais
  • Aumentado: 7º arco costal
  • Diminuído: 3º,4º arcos costais

Curvatura das hemicúpulas diafragmáticas:

  • Normal: moderada
  • Aumentado: achatada
  • Diminuído: acentuada

Projecção da sombra cardíaca sobre o diafragma:

  • Normal: menos de 1/3 sombra cardíaca abaixo do ddo diafragma
  • Aumentada: toda a sombra cardíaca acima do diafragma
  • Diminuída: Mais de 1/3 da sombra cardíaca abaixo do diafragma.

Transparência pulmonar

  • Normal
  • Aumentada
  • Diminuída

Espaço Intercostal

  • Normal
  • Aumentado
  • Diminuído

2.- Incidência de perfil

  • Normal: Orientação das hemicúpulas está oblíqua e o espaço aéreo retrocardíaco está mantido.
  • Aumentado: Orientação das hemicúpulas diafragmáticas está verticalizada e o espaço aéreo retro cardíaco está aumentado
  • Diminuído: Horizontalização das hemicúpulas e o espaço aéreo retrocardíaco está diminuído.

 

3. Análise sistemática

1 - Tecidos moles

  • Parede torácica, pescoço e axila.

2 - Parte óssea

  • Cintura escapular.
  • Coluna dorsal (alinhamento, contorno).
  • Clavículas.
  • Arcos costais (número, obliquidade, deformações, hipoplasia, espaços intercostais).
  • Esterno.

3 - Diafragma

  • Posição, continuidade e contorno.
  • Cúpula diafragmática direita mais elevada que a esquerda (1-2 cm).

4 - Pleura

  • Ângulos costofrénicos e cardiofrénicos.
  • Cisuras.

5 - Mediastino

  • Tamanho e forma globais.
  • Silhueta vascular (veia cava superior, aorta ascendente, aurícula direita, artéria subclávia esquerda, arco aórtico, tronco da artéria pulmonar, ventrículo esquerdo).
  • Linha paraesofágica: linha mediastínica única produzida pela reflexão pleuromediastínica direita.
  • Traqueia e brônquios principais (posição, bifurcação, transparência).
  • Desvios traqueais ligeiros (mais frequente para a direita) na expiração.
  • Timo: hipotransparência homogénea (mais frequente à direita), condicionando alargamento do mediastino acima da silhueta cardíaca mas pode também projectar-se mais em baixo e confundir-se com um coração alargado.
  • Silhueta cardíaca (índice cardiotorácico).

6 - Hilo pulmonar

  • Vasos pulmonares, brônquios principais, gânglios linfáticos.
  • Hilo esquerdo ligeiramente mais elevado que o direito.

7 - Parênquima pulmonar

  • Transparência (dependente da quantidade de ar e sangue no pulmão; maior na inspiração).
  • Volume.
  • Menor definição periférica.
  • Interstício (artérias, veias, vasos linfáticos e tecido conjuntivo)
  • Lesão: localização, homogeneidade, contornos, broncograma aéreo, imagens de nível hidroaéreo, desvio de estruturas.

8 - Material

Tubo endotraqueal (TET), cateteres centrais, sondas, cânulas, drenos (imagens que ultrapassam os campos pulmonares) - confirmar sempre o posicionamento

  • TET – abaixo do nível das clavículas e 1 cm  acima da carina.
  • Cateter arterial umbilical a fim de evitar a sua localização num ramo aórtico deve estar (posição alta é mais recomendada)
    • posição alta: nível D6-D9
    • ou posição baixa: nível L3-L5
  • Cateter venoso umbilical a extremidade deve ficar na VCI junto á aurícula direita ao nível do diafragma : nível D9-D10, 0,5 a 1 cm acima do diafragma.
  • Cateter epicutâneo cava: veia cava superior (VCS) ou veia cava inferior (VCI) à entrada da aurícula direita
    • VCS nível D3-D5
    • VCI nível D8-D10
  • Sonda nasogástrica ou orogástrica – intragástrica (câmara de ar do estômago).

9 - Abdómen

  • Câmara-de-ar gástrica, organomegalias, pneumoperitoneu, padrão gasoso intestinal.

Achados radiológicos carecterísticos de patologia do recém-nascido

Taquipneia transitória do RN (TTRN)

  • Reforço broncovascular hilar bilateral.
  • Pode ocorrer Cisurite.
  • Pode ocorrer Derrame pleural ligeiro com oclusão do seio costofrénico (eventual).
  • Hiperinsuflação (aumento do volume pulmonar) com horizontalização das cúpulas diafragmáticas.
  • Eventual padrão reticulonodular (edema alveolar).
  • Normaliza ao fim de algumas horas (24 h-48h).
Figura 1 – Taquipneia transitória do RN

Síndrome de dificuldade respiratória tipo I ou doença das membranas hialinas (DMH)

  • Padrão reticulogranular difuso e bilateral (padrão em “vidro despolido”).
  • Broncograma aéreo.
  • Diminuição do volume pulmonar.
Classificação  

Grau I

  • Padrão reticulogranular difuso, muito fino e difícil de apreciar.
  • Broncograma aéreo ausente ou apenas confinado à silhueta cardiotímica.
  • Silhueta cardíaca bem definida.

Grau II

  • Padrão reticulogranular generalizado (imagem de “vidro despolido”).
  • Broncograma aéreo observável além da silhueta cardiotímica.
  • Silhueta cardíaca menos nítida.

Grau III

  • Padrão reticulogranular generalizado e confluente.
  • Broncograma aéreo generalizado.
  • Silhueta cardíaca mal definida.
  • Parênquima pulmonar moderadamente hipotransparente.

Grau IV       

  • Padrão reticulogranular muito intenso.
  • Broncograma aéreo generalizado e marcado.
  • Silhueta cardíaca não individualizada.
  • Opacificação completa dos campos pulmonares (“pulmão branco”).
Figura 2 – Síndrome de dificuldade respiratória tipo i ou doença das membranas hialinas (dmh)

Síndrome de aspiração meconial (SAM)

  • Hipotransparências alveolares algodonosas e difusas alternando com zonas hiperinsufladas atelectasias subsegmentares.
  • Hiperinsuflação pulmonar com horizontalização das cúpulas diafragmáticas.
  • Pneumomediastino ou pneumotórax (10-40%).
Figura 3 – Síndrome de aspiração meconial (SAM)

Pneumonia neonatal

  • Padrão intersticial ou alveolar bilateral (geralmente).
  • Hipotransparência com broncograma aéreo.
  • Derrame pleural eventual.
Figura 4 – Pneumonia neonatal

AR ectópico pulmonar

Pneumotórax

  • Hipertransparência delineando a pleura visceral.
  • Atelectasia pulmonar (diminuição do volume pulmonar ipsilateral) com cúpula diafragmática horizontalizada.
  • Mediastino desviado para o lado contralateral.
  • Sinais mais evidentes e diminuição da silhueta cardíaca nos casos de pneumotórax sob tensão.
Figura 5 – Pneumotórax

Pneumomediastino

  • Sinal de ar paracardíaco – hipertransparência que rodeia a silhueta cardíaca e que está separada do campo pulmonar por uma linha nítida.
  • Sinal de ar retroesternal – hipertransparência triangular que se observa atrás do esterno na radiografia de perfil.
  • Sinal de ar extrapleural – ar entre a pleura parietal e o diafragma.
  • Sinal asas de anjo – hipertransparência que delimita os bordos do timo e levanta-o.
Figura 6 – Pneumomediastino

Enfisema intersticial

  • Imagens quísticas e lineares hipertransparentes (1-4 mm), grosseiras, não ramificadas, que se extendem ao longo dos eixos broncovasculares (diferente do broncograma aéreo).
Figura 7 – Enfisema intersticial

Pneumopericárdio

  • Hipertransparência delimitando a silhueta cardíaca.
  • O ar não se estende além da reflexão do pericárdio na aorta e artéria pulmonar.
Figura 8 – Pneumopericardio

Hérnia diafragmática

  • Cúpula diafragmática descontínua.
  • Órgãos abdominais intratorácicos: ansas intestinais, câmara de ar gástrica (eventual) e fígado (eventual).
  • Desvio contralateral das estruturas torácicas (silhueta cardíaca, traqueia, esófago) e do material (TET, sonda gástrica, cateteres).
Figura 9 – Hérnia diafragmática

Cardiopatias congénitas

Tetralogia de Fallot

  • Silhueta cardíaca em forma de “bota” (coeur en sabot ou boot-shaped heart): elevação do ápex cardíaco (hipertrofia ventricular direita) e redução do botão pulmonar (hipoplasia pulmonar).
Figura 10 – Tetralogia de Fallot

Transposição das grandes artérias

  • Mediastino superior estreito,com silhueta cardíaca em forma de “ovo deitado” (Egg-on-a-string) por convexidade anómala da aurícula direita e aumento da aurícula esquerda.
  • Cardiomegalia com plétora (se defeito do septo interventricular).
Figura 11 – Transposição das grandes artérias

Bibliografia

  1. Manual prático de ventilação neonatal. Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Hospital de São Francisco Xavier, CHLO, EPE. 2016.
  2. Arthur R. The neonatal chest X-ray. Paediatric Respiratory Reviews. 2001; 2: 311-323.
  3. Álvares B, Pereira I, Neto S, Sakuma E. Achados normais no exame radiológico de tórax do recém-nascido. Radiol Bras. 2006; 39(6): 435-440.
  4. Martin R. Overview of neonatal respiratory distress: Disorders of transition. In UpToDate, Post TW (ed), UptoDate, Waltham, MA. (Acedido a 10 de julho de 2017).
  5. EIchenwald E. Overview of cyanosis in the newborn. In UpToDate, Post TW (ed), UptoDate, Waltham, MA. (Acedido a 10 de julho de 2017).

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