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Introdução

Definição

A pneumonia, infecção aguda do tracto respiratório inferior, é uma causa importante de infecção no período neonatal podendo estar associada a morbilidade e mortalidade significativas. Pode ser classificada em:

  • Pneumonia neonatal precoce/ pneumonia congénita – com início das manifestações até às 72 horas de vida;
  • Pneumonia neonatal tardia – as manifestações surgem após as 72 horas de vida.

Epidemiologia

Em países desenvolvidos, estima-se que a incidência de pneumonia neonatal seja inferior a 1%, sendo maior em recém-nascidos (RN) pré-termo, com baixo peso ao nascer ou com co morbilidades associadas.

Fisiopatologia

Na pneumonia precoce a transmissão é vertical, in utero ou durante o parto, por via hematogénea, por aspiração de líquido amniótico ou secreções vaginais infectadas.

A pneumonia tardia pode ocorrer na comunidade ou em meio hospitalar (ver Pneumonia na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais), por transmissão hematogénea ou por via respiratória.

No período neonatal, os agentes responsáveis são maioritariamente bactérias. As infecções virais assumem maior relevância na pneumonia tardia adquirida na comunidade e apresentam habitualmente uma variação sazonal (quadro 1).

Quadro 1 – Principais agentes infecciosos de pneumonia neonatal
  Bactérias Vírus e outros agentes
Pneumonia Neonatal Precoce

Mais frequentes
Streptococcus grupo B
Escherichia coli
Klebsiella spp
H. influenzae não tipável
Chlamydia trachomatis*
Staphylococcus aureus
Streptococcus pneumoniae

Menos frequentes
Listeria monocytogenes
Mycobacterium tuberculosis
Treponema pallidum
Ureaplasma urealyticum

Mais frequentes
Vírus Herpes simplex
Candida sp

Menos frequentes
Adenovírus
Enterovírus
Vírus da Rubéola
Citomegalovírus
Toxoplasma gondii

Pneumonia Neonatal Tardia Adquirida na comunidade

Mais frequentes
Streptococcus pneumoniae
H. influenzae
não tipável
Staphylococcus pyogenes
Staphylococcus aureus
Streptococcus grupo B
(com manifestação tardia)
Chlamydia trachomatis*
Klebsiella spp
Bordetella pertussis 

Menos frequentes
Serratia marcescens
Enterobacter 
Citrobacter
Pseudomonas aeruginosa

Mais frequentes
Vírus sincicial respiratório
Adenovírus
Rinovírus
Enterovírus
Vírus influenza
Vírus parainfluenza

Menos frequentes
Vírus Herpes simplex
Candida sp
Aspergillus sp

Adquirida em meio hospitalar Mais frequentes
Escherichia coli
Klebsiella pneumoniae
Enterobacter spp
Acinetobacter spp
Serratia marcescens
Pseudomonas aeruginosa
Bordetella pertussis 
Staphylococcus aureus
Staphylococcus epidermidis
Em contexto de surto de infecção por vírus respiratórios em Unidades de Neonatologia

* Chlamydia trachomatis pode ter um período de incubação longo com manifestações clínicas tipicamente entre as 2 e as 4 semanas de vida.

História Clínica

Anamnese

A história clínica deve ser detalhada, com especial atenção a possíveis factores de risco, nomeadamente:

  • História obstétrica (vigilância e intercorrências na gravidez, infecções urinárias ou outras infecções, colonização materna com Streptococcus do grupo B);
  • História do parto (febre materna, rotura prolongada de membranas, amnionite, taquicardia materna ou fetal, características do líquido amniótico, necessidade de antibioticoterapia materna durante o parto);
  • Período neonatal e co morbilidades do RN (idade gestacional, peso ao nascer, malformações/doença respiratória, cardíaca, neurológica, imunodeficiência ou outra doença grave);
  • RN em internamento hospitalar (necessidade de suporte ventilatório invasivo, internamento prolongado) versus RN na comunidade;
  • Contexto epidemiológico relevante (familiar ou contacto próximo com infecção respiratória, exposição ao tabaco, frequência de locais fechados com grande concentração de pessoas).

Exame objetivo

No RN a semiologia pulmonar é pobre, a auscultação pulmonar pode ser normal e a percussão e auscultação das vibrações vocais não tem aplicação. Os sinais clínicos são inespecíficos, nomeadamente prostração, febre, hipotermia ou instabilidade térmica, má perfusão, sinais de dificuldade respiratória - gemido, tiragem, bradipneia/apneia, taquipneia - intolerância alimentar, distensão abdominal, vómitos, podendo confundir-se com um quadro de sepsis. O RN é oligossintomático e as manifestações clínicas são geralmente inespecíficas, pelo que a avaliação inicial deve ser alargada, seguindo uma abordagem semelhante à da sepsis, com a qual se pode confundir, podendo ainda co-existir as duas situações. (ver Sepsis Neonatal)

Diagnóstico Diferencial

Geralmente, a pneumonia neonatal está associada a um quadro séptico, com envolvimento multissistémico. Os principais diagnósticos diferenciais (DD) a considerar são outras doenças infecciosas com manifestações multissistémicas (sepsis, meningite, pielonefrite) e doenças não infecciosas, nomeadamente DMH, taquipneia transitória do RN e síndrome de aspiração de mecónio (sob o ponto de vista radiológico o DD com estas entidades pode ser difícil, pelo que a idade gestacional e a história clínica são fundamentais).

Devem ainda ser considerados como DD malformações do aparelho respiratório, persistência do canal arterial, insuficiência cardíaca/outra doença cardíaca ou doença metabólica

Exames Complementares

O diagnóstico é difícil, pela semiologia pobre e pela difícil interpretação da radiografia de tórax, sobretudo na pneumonia neonatal precoce.

É necessário um elevado grau de suspeição e a avaliação inicial do RN deve incluir:

Avaliação Laboratorial:

  • Hemograma completo;
  • Proteína C reactiva;
  • Hemocultura;
  • Exame cultural de secreções brônquicas em recém-nascidos ventilados (considerar se suspeita de pneumonia congénita; tem valor diagnóstico nas primeiras 24 horas de vida);
  • Pesquisa de vírus nas secreções respiratórias (considerar se suspeita de etiologia viral);
  • Exame citoquímico e bacteriológico do líquor (se RN estável deve ser realizada punção lombar antes do início de antibioticoterapia) - decisão individualizada;
  • Eventual exame citoquímico e bacteriológico do líquido pleural (quando aplicável).

Avaliação Imagiológica:

  • Radiografia de tórax – Pode ser normal em 15% dos casos e pode ser útil na exclusão de outras patologias. Na pneumonia neonatal habitualmente a radiografia revela um padrão intersticial ou alveolar bilateral ou hipotransparências com broncograma aéreo. Em cerca de 2/3 dos casos pode observar-se derrame pleural (raramente ocorre na doença das membranas hialinas - DMH). Algumas alterações radiológicas são mais características de determinados agentes:
    • presença de pneumatocelos – Gram negativos, Staphylococcus aureus ou Streptococcus pneumoniae;
    • derrame pleural e empiema Staphylococcus aureus;
    • infiltrado intersticial irregular– vírus ou Chlamydia trachomatis.
       
  • Ecografia torácica – considerar se presença de derrame pleural. Pode ajudar no diagnóstico diferencial com atelectasia ou malformação.

Tratamento

Na pneumonia bacteriana neonatal a antibioticoterapia empírica deve ser instituída de imediato (quadro 2).

As doses dos antibióticos devem ser adequadas ao peso e idade gestacional.

A terapêutica deverá ser ajustada após identificação do agente e teste de sensibilidade a antibióticos.

Quadro 2 – Antibioticoterapia empírica para pneumonia bacteriana neonatal
Antibioticoterapia Empírica
Pneumonia Neonatal
Precoce
Ampicilina + Gentamicina
  
- duração 7 a 10 dias ou de acordo com evolução clínica e agente isolado 
- alguns agentes implicam maior duração de terapêutica
Pneumonia Neonatal
Tardia
Adquirida na Comunidade

Ampicilina + Cefotaxima
ou
Ampicilina + Gentamicina 

(associar azitromicina se suspeita de Chlamydia trachomatis)

- duração 10 a 14 dias ou de acordo com evolução clínica e agente isolado
- alguns autores preconizam tratamentos mais curtos de 7 a 10 dias
- na pneumonia por Staphylococcus aureus - 21 dias

Adquirida no Hospital ver Pneumonia na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais

Evolução

O prognóstico depende da idade gestacional, gravidade da doença e co-morbilidade prévia do RN.

Recomendações

A vigilância da gravidez e o parto em meio hospitalar, associados ao rastreio e profilaxia intraparto da colonização vaginal materna por Streptococcus do Grupo B, são importantes na prevenção da pneumonia e sepsis precoce.

Na pneumonia neonatal adquirida na comunidade, a medida preventiva mais importante é a lavagem frequente das mãos. Outras medidas são:

  • evitar exposição ao fumo do tabaco;
  • reforçar importância do aleitamento materno;
  • evitar ambientes fechados, com grande concentração de pessoas;
  • evitar contacto com pessoas com sintomatologia sugestiva de doença respiratória infecciosa;
  • considerar profilaxia com o anticorpo monoclonal para VSR (de acordo com as recomendações);
  • cumprimento do Programa Nacional de Vacinação.

Bibliografia

  1. Isaacs D, editor. Evidence-based neonatal infections. 1st edition, Wiley Blackwell. 2014
  2. Martin RJ, Fanaroff A, Walsh M, editors. Fanaroff and Martin's Neonatal-Perinatal Medicine, 10th edition. Elsevier. 2015
  3. Direcção Geral de Saúde. Norma de Orientação Clínica. Diagnóstico e Tratamento da Pneumonia Adquirida na Comunidade em Idade Pediátrica. 2012
  4. Edwards M, Garcia-Prats J, editors. Neonatal pneumonia. Disponível em www.uptodate.com. Última revisão em junho de 2015.

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