Menu

Introdução

A parotidite recorrente juvenil (PRJ) é uma inflamação recorrente da glândula parótida em idade pediátrica, associada a sialoectasia não obstrutiva e não supurativa da glândula parótida.

São necessários pelo menos 2 episódios prévios de parotidite para estabelecer o diagnóstico.

Epidemiologia

Trata-se de uma doença autolimitada e benigna, cuja incidência é desconhecida mas provavelmente subestimada (erroneamente diagnosticada como parotidite vírica).

História Clínica

Anamnese

Os antecedentes pessoais, perinatais e familiares, bem como fatores de risco de PRJ, devem ser investigados na anamnese.

A idade de apresentação é variável mas tipicamente o início dos sintomas apresenta uma distribuição bimodal: primeiro pico entre os três e seis anos e o segundo acima dos 10 anos, com ligeiro predomínio do género masculino.

Os sintomas tipicamente duram entre três a cinco dias, podendo-se prolongar até 14 dias, sendo a sua resolução habitualmente espontânea.

A PRJ caracteriza-se por episódios recorrentes de dor e edema da glândula parótida, geralmente associada a febre, mal-estar, astenia, eritema cutâneo, trismos.

Tipicamente o envolvimento da glândula parótida é unilateral mas pode ser bilateral, geralmente com um dos lados mais proeminente.

Exame objectivo

Ao exame físico, a parótida apresenta-se edemaciada e dolorosa, de consistência mole a duro-elástica e com apagamento do ângulo da mandíbula. A elevação do lóbulo da orelha também pode estar presente.

O restante exame objectivo é habitualmente normal.

Diagnóstico Diferencial

A PRJ faz diagnóstico diferencial sobretudo com a parotidite epidémica e  outras infeções víricas e bacterianas (estas cursam frequentemente com adenomegalias).

As doenças auto-imunes (nomeadamente a Síndrome de Sjögren), os défices imunológicos (imunodeficiências primárias, infeção por VIH) e causas obstrutivas (sialolitíase, malformações e doença infiltrativa) também devem ser consideradas. 

Exames Complementares

O diagnóstico de PRJ é clínico e baseia-se na história clínica e exame objetivo, podendo ser confirmado por exames de imagem.

O principal meio complementar de diagnóstico é a ecografia, seguido da sialografia.

Na fase aguda, a ecografia exclui complicações ou malformações e no follow-up permite avaliar sequelas do PRJ.

A investigação laboratorial deve ser ponderada individualmente e realizada fora da fase aguda, por forma a detetar possíveis doenças crónicas subjacentes. Pode ser útil na fase aguda, se suspeita de complicações (celulite, abcesso, neoplasia).

Tratamento

O tratamento deve ser individualizado.

Na fase aguda, o tratamento de suporte é fundamental. Devem ser utilizadas compressas mornas, privilegiando a massagem da glândula parótida, higiene bucal adequada, abundante ingestão hídrica e alívio da dor com anti-inflamatórios não esteróides e analgésicos.

O uso de agentes que aumentam o fluxo salivar, como citrinos, pastilhas elásticas e agentes contendo xilitol, pode ser útil, quer na fase aguda, quer na prevenção de recorrências.

A antibioterapia é controversa na PRJ e apenas utilizada se suspeita de sobreinfeção bacteriana, sendo o antibiótico de primeira linha a associação de amoxicilina e ácido clavulânico.

O tratamento cirúrgico é raramente efetuado e restringe-se a situações graves ou complicações.

Evolução

A história natural da PRJ é a sua recorrência, com número de episódios entre 1 a 20 por ano, e habitualmente com crises a cada 3 a 4 meses. Contudo, a PRJ é autolimitada na maioria dos casos, com resolução espontânea dos sintomas em cerca de 90% dos casos e tendência para a remissão na puberdade.

Em 10-20% dos casos, a PRJ pode persistir na idade adulta e levar a disfunção salivar crónica com sequelas graves.

Recomendações

Utilizar agentes que aumentem o fluxo salivar (citrinos, pastilhas elásticas e agentes com xilitol) para  prevenção de recorrências.

Alertar para os sintomas de um episódio agudo e quais as medidas de tratamento a instituir: compressas mornas, massagem da glândula parótida, boa higiene bucal, abundante ingestão hídrica e alívio da dor com anti-inflamatórios não esteróides e analgésicos.

Saber Mais

Glândula Parótida; Parotidite recorrente juvenil

Bibliografia

  • Costa IE, Miranda D, Menezes AS, Rodrigues BM, Quintas-Neves, M. Juvenile recurrent parotitis and sialoendoscopy utility: case series and literature review. Acta Otorrinolaringológica Gallega 2020 (13).
  • Singh P, Gupta D. Juvenile Recurrent Parotitis. Indian J Pediatr 2019; 86(8):749. doi: 10.1007/s12098-019-02901
  • Hidalgo-Santos AD, Gastón-Téllez R, Ferrer-Lorente B, Pina-Pérez R, Oltra-Benavent M. Alteraciones inmunológicas asociadas a parotiditis crónica recurrente juvenil. An Pediatr (Barc) 2020;29;S1695-4033(20)30295-2. doi: 10.1016/j.anpedi.2020.08.007
  • Wood J, Toll EC, Hall F, Mahadevan M. Juvenile recurrent parotitis: Review and proposed management algorithm. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2021 Mar;142:110617. doi: 10.1016/j.ijporl.2021.110617. Epub 2021 Jan 4. PMID: 33421670.
  • Papadopoulou-Alataki E, Dogantzis P, Chatziavramidis A, Alataki S, Karananou P, Chiona K, Konstantinidis I. Juvenile Recurrent Parotitis: The Role of Sialendoscopy. Int J Inflam. 2019 Sep 29;2019:7278907. doi: 10.1155/2019/7278907. PMID: 31662845; PMCID: PMC6791204.

Deseja sugerir alguma alteração para este tema?
Existe algum tema que queira ver na Pedipedia - Enciclopédia Online?

Envie as suas sugestões

Newsletter

Receba notícias da Pedipedia - Enciclopédia Online no seu e-mail