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Introdução

Definição

O molusco contagioso é uma doença benigna, autolimitada, causada pela infecção das células da superfície da pele por um vírus da família Poxviridae – o vírus do molusco contagioso.

Epidemiologia

O molusco contagioso é uma patologia infecciosa frequente. A sua distribuição abrange todos os continentes, sendo que os subtipos virais (MCV 1-4) variam de acordo com a localização geográfica. A incidência varia entre 2% e 10% na população geral, sendo rara nas crianças com menos de 1 ano, atingindo o pico entre os 2 e os 5 anos (nos climas mais temperados, o pico de incidência é mais tardio), seguido de um segundo pico nos jovens adultos, por presumível transmissão sexual. 

Factores de risco são a idade (idade escolar precoce), proximidade e contacto físico, atopia, partilha de objectos, climas tropicais e uso de piscinas.

Factores como o sexo, o estado de higiene e a sazonalidade não são considerados factores de risco.

História Clínica

Anamnese, exame objectivo 

A morfologia típica consiste numa pápula cor de pele ou eventualmente perolada, umbilicada, cujo tamanho varia entre 1 a 10 mm.

Lesões de molusco contagioso no tronco de uma criança

Uma forma clínica mais rara é de uma lesão em placa, composta por aglomerados de lesões individuais, designada por molusco gigante, muitas vezes associada a infecção VIH. A disseminação das lesões estende-se ao longo de semanas, findas as quais as lesões tendem a regredir espontaneamente, precedidas de uma fase mais inflamatória, supurativa ou até exsudativa com formação de crostas, deixando uma cicatriz atrófica transitória (ao contrário, por exemplo, das cicatrizes provocadas pelo vírus da varicela). As lesões localizam-se, preferencialmente, nas áreas de fricção como o pescoço, tronco, axilas, etc. Podem também envolver a área ano-genital, sem que tal signifique necessariamente transmissão sexual. O couro cabeludo e a face são mais raramente afectados, podendo contudo ser sede de doença em situações de imunossupressão. Em cerca de 10% dos casos coexistem lesões de eczema, que tendem a regredir com a resolução da infecção.

Molusco contagioso numa criança com dermite atópica

As mucosas são locais pouco frequentes de infecção, contudo podem acarretar um grau maior de gravidade, nomeadamente a nível ocular, afectando a pálpebra, a conjuntiva, estruturas intraoculares e a córnea, podendo ser causa de situações crónicas de queratite ou conjuntivite. 

Diagnóstico Diferencial

Habitualmente o diagnóstico é clínico e imediato. A expressão de conteúdo gelatinoso esbranquiçado das lesões é característica. Contudo patologias como o herpes simplex, a infecção por HPV, nevos sebáceos, nevos papilomatosos, fibromas, granulomas piogénicos, tumores dos anexos, lesões de milia, comedões fechados, furúnculos, queratoacantomas, basaliomas devem fazer parte do diagnóstico diferencial.

O diagnóstico diferencial é muito mais complexo nos doentes imunodeprimidos pela diversidade de infecções com sede cutânea a que os doentes estão predispostos, como por exemplo, a criptococose, a angiomatose bacilar ou a histoplasmose.  

Exames Complementares

O diagnóstico, que é por excelência clínico, pode ser confirmado por microscopia óptica ou electrónica, por histopatologia ou análise molecular. Existe uma manobra útil no diagnóstico diferencial que consiste em espremer uma lesão, e se se verificar expulsão de conteúdo gelatinoso esbranquiçado, infere-se da veracidade do diagnóstico clínico. 

A biópsia cutânea mostra existência de células preenchidas por agregados de partículas virais sob a forma de grandes corpos hialinos, particularmente ao nível do epitélio folicular, formando massas lobuladas, com escasso infiltrado inflamatório na derme adjacente.

Tratamento

Algoritmo clínico/ terapêutico

A escolha do tratamento depende de factores como a idade, a extensão e a distribuição das lesões. 

Nas infecções com lesões pouco numerosas pode ser razoável adoptar uma atitude expectante, nomeadamente em idades muito jovens. Contudo, convém não esquecer que algumas lesões individuais podem persistir meses a anos se não forem tratadas, estando sujeitas a potenciais complicações. 

O tratamento assenta fundamentalmente na destruição individual de cada lesão, a qual pode ser por métodos físicos ou pela aplicação de substâncias químicas tópicas, citotóxicas, imunomoduladoras, antivirais ou queratolíticas. 

Dentro dos métodos destrutivos físicos contam-se a crioterapia e a curetagem. Como desvantagem a referir a dor associada, pelo que, nas crianças mais jovens, pode tornar necessário a execução sob anestesia tópica (EMLA ou similar) e, no caso da crioterapia, a necessidade de repetição das sessões a cada 3-4 semanas.
Quanto aos métodos destrutivos químicos há a referir o uso de queratolíticos como as formulações de ácido láctico e salicílico, tendo por desvantagem os efeitos irritantes da pele que, nalguns casos, podem ser marcados.

A aplicação tópica de hidróxido de potássio a 10 ou 20% é outra modalidade terapêutica com boas taxas de cura em casos com poucas lesões, mas que exige cuidado na aplicação, pelo risco de irritação da pele circundante das lesões.

Por último, substâncias como a podofilotoxina ou o imiquimod podem servir de alternativa nos casos mais recalcitrantes, não esquecendo contudo o risco de eventual absorção sistémica, os limites etários e os efeitos secundários pronunciados.

Nos vários estudos comparativos, a curetagem é apontada como o método mais eficaz atingindo taxas de cura de cerca de 80% após uma primeira sessão e até 96% após a segunda.

Evolução

A duração da lesão individual e da doença em geral é variável, mas autolimitada na maior parte dos casos, com tendência a cura espontânea ao fim de um período de 6 a 9 meses.

Entre as raras complicações, contam-se o risco de disseminação cutânea e o desconforto implícito, a sobreinfecção bacteriana, a formação de granulomas e cicatrizes.

Recomendações

O risco de disseminação pode ser minimizado ao controlar o prurido e a coceira. Em casos de coexistência de eczema atópico e/ou xerose cutânea é recomendado uso de emolientes e possivelmente um corticóide tópico fraco. A transferência de infecção para outro indivíduo pode ser reduzida evitando a partilha de objectos como toalhas, artigos de desporto ou higiene. 

Bibliografia

Irvine A, Hoeger P, Yan A. Harper’s Textbook of Pediatric Dermatology. Backwell Publishing Ltd; 2011, pag.46.1-46.6

Griffiths C, Barker J, Bleiker T, Chalmers R, Creamer D. Rook’s Textbook of Dermatology. 9th Ed. Wiley-Blackwell; 2016, pag. 25.12-25.14

Amaral J. Tratado de Clínica Pediátrica. 2 ed. Lisboa: Abbott Lda; 2010, pag. 526-527.

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