Menu

Introdução

Doença por vírus de Ébola é a designação actual para a anteriormente designada Febre Hemorrágica Ébola. Esta alteração deveu-se ao facto de nem todos os doentes apresentarem manifestações hemorrágicas.

Epidemiologia

O vírus ébola, identificado em 1976, teve de um modo geral, o seu território de acção limitado à República Democrática do Congo, Gabão, Costa do Marfim, Sudão, Uganda e Congo.

Pertence à família Filoviridae e estão identificados 5 subtipos:  Quatro (Zaire, Sudão, Bundibugyo e Tai Forrest) são patogénicos para o homem e um (Reston) é patogénico para os primatas não humanos.

Admite-se que tenha como reservatório hospedeiros animais nas florestas africanas. O morcego da fruta, que o transporta mas não é dele vítima, é o mais consensual.

Recentemente, no início de 2014, com ponto de partida na Guiné Conacri, surgiu uma epidemia que rapidamente se estendeu à Serra Leoa e Libéria. Casos esporádicos, importados, foram registados em países limítrofes e em alguns bem distantes. Esta epidemia, de que resultaram mais de 26 500 afectados, contabilizando-se cerca de 11 500 mortos, foi controlada em 2015, tendo a OMS declarado fim da emergência internacional em 30 de Março de 2015. Casos esporádicos ainda ocorreram depois desta data. 

O vírus é de alta contagiosidade entre os humanos por exposição ao sangue ou a fluídos corporais (suor, saliva, vómitos, diarreia, leite humano, sémen,…) ou por contacto directo como no manuseamento de objectos tocados por pessoas infectadas.

O grau de contagiosidade é tanto maior quanto maior a duração do quadro clínico, o que comporta risco elevado para os profissionais de saúde.

O uso na alimentação de determinados tipos de animais (morcegos, macacos, javalis, antílopes, chimpanzés, etc.) é também fonte de transmissão aos humanos.

O período de incubação varia entre 2 e 21 dias.

História Clínica

Observam-se febre, calafrios, cefaleias, mialgias, mal-estar geral e adinamia, de início súbito, a que pode rapidamente associar-se exantema maculopapular, dor torácica e abdominal, náuseas, vómitos, diarreia, faringite e manifestações hemorrágicas.

Se não houver intervenção médica imediata e vigorosa, rapidamente a situação pode atingir gravidade incontrolável (extrema desidratação, insuficiência hepática, pancreatite, insuficiência renal, hemorragia interna massiva, prostração, delírio, choque e falência multiorgânica), levando à morte geralmente dentro de dias ou poucas semanas após início dos sintomas.

Os sobreviventes queixam-se de fadiga e artralgias intensas e podem apresentar como complicações orquite, mielite transversa e uveíte.

Em África a taxa de mortalidade varia entre 50 e 90%.

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico diferencial faz-se com outros vírus causadores de febres hemorrágicas, tais como:

  • Doenças causadas por outros vírus causadores de febres hemorrágicas, como o vírus de Marburgo  
  • Malária
  • Febre tifóide
  • Encefalites virais

Exames Complementares

O diagnóstico é clínico, mas a confirmação laboratorial para detectar a presença do vírus é feita por:

  • PCR-RT (polymerase chain reaction-real time reverse transcription), ou
  • ELISA IgM (enzyme-linked immunososbent assay immunoglobulin M) em Centro de Referência da OMS e é essencial para declaração da epidemia.

Lembrar sempre que o carácter estigmatizante da doença leva algumas pessoas a omitir ter estado em contacto com infetados com o vírus ébola.

Alterações laboratoriais inespecíficas

  • Trombocitopenia grave
  • Trombocitopatia
  • Elevação das enzimas hepáticas
  • Linfopenia grave que dá depois lugar à neutrofila

Tratamento

Não existe cura para a doença por vírus ébola. O tratamento é de suporte, e inclui:

  • Lactato de Ringer ou qualquer outro soro polielectrolítico capaz de restabelecer rapidamente o equilíbrio hidroelectrolítico e hemodinâmico
  • Boa nutrição
  • Oxigénio
  • Paracetamol para alívio da febre e das dores. Não usar aspirina, ibuprofeno ou qualquer outro anti-inflamatório não esteróide
  • Transfusões de componentes de sangue podem ser necessárias (concentrado de plaquetas 1U/5-10Kg de peso nas crianças e 5-6U nos adultos; concentrado de eritrócitos 10 ml / Kg nas crianças e 1-2U nos adultos)

Recomendações

Todos os casos suspeitos devem ser isolados e vigiados rigorosamente durante pelo menos 21 dias.

Os doentes devem ser isolados em unidades/recintos exclusivamente destinados ao tratamento da doença de Ébola ou, no mínimo, quando estes não foram instalados, em quartos afastados dos locais de circulação normal dentro do hospital. O ideal, utópico para as regiões que geralmente são palco da doença, é a disponibilização de salas com pressão negativa e proteção respiratória.

Para prevenir o alastramento na comunidade é essencial:

Criar estratégias para que os casos suspeitos sejam rapidamente identificados e isolados, a saber:

  • Só dar alta após passadas pelo menos 48 horas àqueles a quem o diagnóstico foi confirmado e melhoraram com as medidas de suporte sem qualquer sintoma da doença e negatividade da PCR;
  • Identificar os contactos, que devem ser mantidos sob vigilância (observação e avaliação diária da temperatura corporal durante pelo menos 3 semanas);
  • Reforçar as medidas de prevenção e controlo de infecções nosocomiais e comunitárias - todo o pessoal de saúde deve seguir com extremo rigor as normas estipuladas para lidar com sangue e fluídos corporais altamente contagiosos, equipando-se com máscaras, óculos protetores, luvas, bata e botas, devendo este tipo de proteção estar também presente no manuseamento de cadáveres e todo o equipamento médico;
  • Restringir os exames laboratoriais ao mínimo essencial (as análises ao sangue devem ser feitas em áreas de acesso restrito), alertando todo o pessoal do laboratório para o elevadíssimo risco de contágio;
  • Equipamentos e outros materiais com que o doente teve contacto devem ser esterilizados por autoclavagem ou fervura;
  • Em caso de morte, o corpo deve ser desinfetado de imediato (regar com hipoclorito de sódio a 0,5%) antes de ser transportado, e rapidamente enterrado por uma equipa preparada para tal;
  • Familiares, amigos e vizinhos não devem proceder à lavagem dos cadáveres nem realizar rituais suscetíveis de pôr em risco as suas vidas;
  • Convalescentes de infecção pelo vírus ébola devem abster-se de relações sexuais (vaginais, anais ou orais) ou ter sexo só com protecção durante 3 meses ou mesmo até 12 meses após o início dos sintomas, ou até dois testes negativos ao sémen, realizados numa periodicidade mensal;
  • Aconselhar os viajantes a evitarem as áreas e ou os países onde a doença está confirmada ou sob suspeita
  • Caso os viajantes já estejam nas referidas áreas ou países, devem ser aconselhados a não ter contacto com pessoas infectadas;
  • Todos devem também manter-se afastados de primatas não humanos e suas carcaças e morcegos;

  • Devem também evitar comer carne de primatas (macacos, chimpanzés…) e morcegos.

Saber Mais

  • Ébola
  • Hemorragia
  • Falência multiorgânica

Bibliografia

  • Centers for Diseases Control and Prevention. Ébola Virus Disease. Latest CDC and WHO outbreak information, 2015.
  • Davidson R, Brent A, Seale A. Oxford Handbook of Tropical Medicine. Oxford Unuversity Press, 2014.
  • Kwan-Gett T, Kemp C, Kovarik C. Infectious and Tropical Diseases. Mosby Elsevier 2006.
  • Longmore M, Wilkinson I, Baldwin A, Wallin E. Oxford Handbook of Clinical Medicine. Oxford University Press, 2014.

Deseja sugerir alguma alteração para este tema?
Existe algum tema que queira ver na Pedipedia - Enciclopédia Online?

Envie as suas sugestões

Newsletter

Receba notícias da Pedipedia - Enciclopédia Online no seu e-mail