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Introdução

A doença de Wolman é uma doença hereditária do metabolismo, do grupo das doenças lisossomais de sobrecarga, causada por mutações patogénicas no gene LIPA que codifica a enzima lípase ácida lisossomal (LAL). Esta enzima é essencial para a metabolização de lípidos, como o colesterol e alguns triglicerídeos. A sua deficiência resulta na acumulação anormal dos produtos não degradados, a nível intralisossomal, em diferentes órgãos e tecidos e depósitos de cálcio na glândula suprarrenal.

É uma doença crónica, complexa, progressiva e de uma forma geral precocemente fatal.

Epidemiologia

Doença extremamente rara que afecta em igual proporção ambos os géneros. Há cerca de 50 casos descritos

História Clínica

Anamnese

Na anamnese é fundamental ter atenção aos seguintes aspetos: 

Idade: mais frequente durante o primeiro ano de vida, preferencialmente na primeira semana de vida;   

Antecedentes obstétricos: ecografia com hepatomegalia, ascite, calcificação da glândula suprarrenal

Antecedentes familiares: outras doenças genéticas ou hereditárias do metabolismo. Consanguinidade. 

Sintomas presentes: distensão abdominal e hepatoesplenomegalia são os sintomas mais frequentes. Icterícia e ascite também podem estar presentes.

Estes doentes apresentam envolvimento digestivo que cursa com quadro de má absorção, traduzindo-se em sintomas como náuseas, vómitos, diarreia, esteatorreia, malnutrição e consequentemente fraco aumento estaturo-ponderal, mesmo com paragem de crescimento.

Sintomas adicionais incluem sintomas e sinais quer da progressão da deterioração hepática, do envolvimento neurológico e global, com registo de hipotonia, atraso do desenvolvimento, regressão de etapas do desenvolvimento previamente adquiridas e hérnia umbilical.

O endurecimento da glândula suprarrenal, consequência da deposição de cálcio, é diagnosticado através de exames imagiológicos. É um achado muito comum e característico, registado em estudo imagiológico abdominal, que resulta em diminuição da secreção de hormonas produzidas na glândula suprarrenal, causando alterações do metabolismo, pressão sanguínea e sistema imune. 

Os sintomas podem agravar-se progressivamente resultando em anemia grave, insuficiência hepática e caquexia.

Exame objectivo

O principal achado ao exame físico é a identificação de hepatomegalia. Além disso, a icterícia e a ascite também podem ser observadas, bem como a progressiva deterioração do estado geral.

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico diferencial inclui doença de armazenamento de ésteres de colesterol, outras doenças de sobrecarga lisossomais, concretamente do grupo das lipidoses como a doença de Gaucher tipo II e a doença de Niemann-Pick tipo A, bem como doenças malignas (leucemia e neuroblastoma.

Exames Complementares

O diagnóstico clínico pode ser ponderado com base na avaliação clínica, história familiar e exames bioquímicos e imagiológicos que evidenciam o envolvimento descrito.

A confirmação de diagnóstico acontece com a determinação da atividade enzimática da LAL, em plasma e leucócitos, com registo da ausência ou franca diminuição da mesma e através da caracterização molecular de variantes patogénicas no gene LIPA, permitindo a possibilidade de avaliação familiar e aconselhamento futuro. 

Tratamento

Não há cura para a doença de Wolman. Trata-se de uma doença grave, com risco iminente de morte ou comorbilidades severas. A terapia de reposição enzimática, com a enzima recombinente sebelipase alfa (Kanuma) foi o primeiro tratamento aprovado para doentes com deficiência da lipase ácida lisossomal.

Este tratamento traduziu-se em melhoria sintomática e aumento ligeiro da esperança média de vida. As restantes opções de tratamento reduzem-se a tratamento de suporte, de acordo com a clínica apresentada.

O transplante da medula óssea ou transplante de células estaminais do cordão umbilical também  forma sendo usados, com benefícios num número limitado de casos. O transplante hepático pode ser considerado em casos com envolvimento hepático severo.

O tratamento do doente com deficiência da lípase ácida lisossomal deve ser orientado por equipa multidisciplinar especializada.

Evolução

Na ausência de tratamento específico, poucos lactentes sobrevivem além do primeiro ano de vida. Com a terapia de reposição enzimática, mesmo se iniciada oportunamente, a sobrevida mantém-se ainda curta.

Recomendações

O aconselhamento genético familiar é recomendado e apontado como essencial.

Com a suspeita ou confirmação do diagnóstico o doente/família deve ser orientado para um dos Centros de Referência de Doenças Hereditárias do Metabolismo, reconhecidos no país, para orientação e apoio de equipa multidisciplinar alargada e coordenada, com integração das equipas de cuidados locais, para uma abordagem integral do doente/família.

Saber Mais

Doença de Wolman; lisossoma; lípase ácida lisossomal

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