Introdução
Definição
Trajecto entre o canal ano-rectal e a pele junto ao ânus. O trajecto estende-se entre os esfíncteres interno e externo ou através do esfíncter externo.
Epidemiologia
É mais frequente no primeiro ano de vida e no sexo masculino.
Se surge em crianças maiores, pode ser um primeiro sinal de uma doença inflamatória intestinal ou de imunodeficiência, como sucede na leucemia ou na SIDA.
A fístula anal é o resultado de um abcesso perianal que não cura após drenagem espontânea ou cirúrgica.
História Clínica
Anamnese
Há sempre antecedentes de abcesso perianal que drenou espontaneamente ou foi drenado cirurgicamente e depois não cicatrizou. Por vezes houve já múltiplas recidivas de abcesso no mesmo local, mantendo-se sempre um orifício na pele junto ao ânus por onde sai muco ou pus. A fístula pode manter-se meses ou mesmo anos, sem infectar de novo, sendo que não causa dor ou outro sintoma que não seja o sujar frequentemente a roupa ou a fralda com líquido purulento, podendo ser raiado de sangue.
Exame objectivo
O diagnóstico é evidente à observação clínica, observando-se um pequeno orifício na margem do ânus, geralmente lateral, que drena muco ou pus.
O exame objectivo da criança deve ser feito com cuidado mas afastando bem as nádegas, para permitir uma boa observação da margem anal.
Diagnóstico Diferencial
Ulcerações anais – surgem em crianças maiores ou adolescentes, geralmente secundárias a doença inflamatória intestinal.
Fissura anal – enquanto a fístula tem um orifício e um trajecto e geralmente não é dolorosa, a fissura anal é mais semelhante a uma pequena ferida superficial, sem trajecto e dolorosa ao toque.
Exames Complementares
Patologia Clínica
Devem realizar-se análises se se suspeita de uma doença imunossupressora, principalmente em crianças maiores com outros sintomas de imunodeficiência
Colonoscopia
Quando surgem fístulas anais em crianças maiores ou adolescentes deve efectuar-se colonoscopia para excluir doença inflamatória intestinal.
Tratamento
Tratamento conservador
Podem aplicar-se localmente pomadas cicatrizantes, mas o melhor tratamento para a fístula anal consiste em proporcionar bons cuidados de higiene local, para evitar a sobreinfecção e perpetuação do ciclo fístula - abcesso.
Raramente é necessária intervenção cirúrgica, se se conseguir bons cuidados de higiene, principalmente quando se trata de lactentes.
Tratamento cirúrgico
Quando a fístula não cicatriza, ou em crianças maiores ou jovens, pode haver indicação cirúrgica.
A intervenção efectua-se sob anestesia geral e é idêntica à que se efectua nos adultos: fistulotomia ou fistulectomia, consoante o trajecto da fístula e a opção do cirurgião.
No pós-operatório será necessário manter desinfecção local e realização de penso até à cicatrização, o que poderá demorar semanas ou até meses, dependendo da extensão do trajecto fistuloso.
Evolução
As fístulas anais em lactentes habitualmente curam espontaneamente em 3 a 6 meses e raramente recidivam se houver bons cuidados de higiene local.
Já em crianças maiores ou jovens, dificilmente cicatrizarão sem intervenção cirúrgica.
As principais complicações após cirurgia são a infecção local e a incontinência anal, que, apesar de tudo, é bastante rara.
Recomendações
Bons hábitos de higiene são importantes na prevenção das fístulas anais, principalmente nas crianças que ainda usam fralda, quando esta patologia é mais frequente.
O tratamento atempado de um abcesso perianal também previne o aparecimento de fístula anal.
Na presença de fístula anal fora da idade habitual deve excluir-se doença inflamatória intestinal ou imunodeficiência.
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