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Introdução

Do grego phimos, açaime. Define-se como incapacidade de retrair o prepúcio e exteriorizar a glande, devido a uma abertura prepucial estreita.

Pode manifestar-se no momento do nascimento sendo considerada fisiológica, pois a sua resolução espontânea é a norma.

Pode também manifestar-se mais tarde na infância e resulta de processos repetidos de balano-postite ou de um processo de liquenificação da pele designada por Balanite Xerótica Obliterante.

 É importante distinguir entre fimose fisiológica, que decorre de um processo normal do desenvolvimento e amadurecimento do prepúcio e glande, e fimose patológica que resulta de um processo cicatricial que pode estar associado a complicações.

Epidemiologia

Cerca de 96% dos recém-nascidos do sexo masculino apresentam um prepúcio não retráctil (fimose fisiológica), mas esse valor diminui para cerca de 10% após a puberdade, e 1.2% no fim da adolescência.

História Clínica

 

Anamnese

A fimose fisiológica por norma não está associada a queixas. Os pais podem referir um abaulamento do prepúcio com a micção. No entanto, a impossibilidade de retracção prepucial provoca dor quando tentada.

A fimose patológica pode estar associada a balano-postites, disúria, esforço miccional, episódios de retenção urinária, erecções dolorosas, fissuras e hemorragia com a manipulação do prepúcio, e história prévia de cateterização uretral ou manipulação forçada do prepúcio. Podem também observar-se episódios de inflamação do espaço entre o prepúcio e a glande, com saída de material purulento e edema do prepúcio.

Exame objectivo

Deve-se retrair cuidadosamente a pele do prepúcio, de modo a tentar expor a glande. Na fimose fisiológica observa-se protrusão de mucosa saudável, rosada. Na fimose patológica observam-se alterações cicatriciais ou inflamatórias do prepúcio, com orifício prepucial estreito, com aspecto fibrótico e esbranquiçado, podendo ocorrer fissuras mesmo com manipulação cuidada do prepúcio.

A severidade da fimose pode ser avaliada com a classificação de Kikiros et al : grau 0- retracção total do prepúcio; grau 1- retracção completa do prepúcio com anel constritivo no sulco coronal; grau 2- retracção parcial com exposição  da glande; grau 3- retracção parcial com exposição apenas do meato uretral; grau 4- Retracção ligeira sem exposição do meato e da glande; grau 5- sem retracção

Diagnóstico Diferencial

Balanite xerótica obliterans (Variante do líquen escleroso que atinge o prepúcio e pode estender-se à glande e uretra, de etiologia desconhecida; ocorre hiperqueratose e atrofia da camada basal da epiderme, com perda de fibras elásticas e alterações do colagénio, levando a fimose patológica)

Aderências balano-prepuciais

Parafimose

Freio curto do pénis

Exames Complementares

O diagnóstico é clínico.

Tratamento

O tratamento vai depender da idade da criança, tipo e severidade da fimose, sintomatologia e complicações associadas.

Poderá ter indicação em situações de infecção urinária sem qualquer outra razão anatómica ou funcional documentada, e há autores que defendem que confere alguma protecção em situações de HIV.

Deve ser instituído em fimose cicatricial e em doentes seleccionados com fimose fisiológica (prepúcio sem alterações fibróticas ou cicatriciais mas sintomáticos, ou a partir dos 5 anos de idade)

Terapêutica médica

O tratamento médico com aplicação de corticóides tópicos, como por exemplo betametasona tópica 0,05%, é considerado como primeira linha Embora o mecanismo de acção não esteja totalmente elucidado parece estar relacionado com acção anti-inflamatória e imunossupressora local, com inibição da síntese de glicosaminoglicanos e diminuição da espessura da derme, levando gradualmente a uma maior abertura prepucial.

Estudos sugerem que o risco de absorção sistémica e supressão do eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal é reduzido, dada a pequena quantidade e a pequena área de superfície corporal sobre a qual o corticosteróide tópico é aplicado.

Pode ser aplicado duas vezes por dia durante 4 a 6 semanas, com uma manobra de retracção do prepúcio delicada e indolor, após a qual uma fina camada de fármaco é colocada no anel prepucial. Deve ser explicado aos pais necessidade de realizarem manobras repetidas de retracção do prepúcio e necessidade de manter este procedimento mesmo após o término do tratamento.

Na literatura estão descritas taxas de sucesso entre 65 e 95%. No entanto, 17% dos oentes pode recidivar, realçando a importância de manter manobras de retracção do prepúcio após fim do tratamento. Os resultados são melhores em doentes sem história prévia de infecções e que aderem com regularidade ao tratamento, e os piores em doentes com balanite xerótica obliterans.

Cirurgia

A postectomia (circuncisão) pode ser uma exigência religiosa ou cultural para algumas populações. Pode ser pedida no período neonatal e sem anestesia pelo povo judeu, ou ser realizada mais tarde, no início ou fim da puberdade, num rito iniciático de passagem à idade adulta.

O tratamento cirúrgico deve ser reservado para os casos em que não há resposta com tratamento médico.

De acordo com a preferência dos pais e doente e com a gravidade da fimose pode-se proceder à prepucioplastia ou circuncisão / postectomia. Existem múltiplas técnicas descritas para ambos os procedimentos.

A prepucioplastia é uma alternativa mais conservadora à circuncisão, com preservação do prepúcio. Consiste na plastia da zona estenótica do prepúcio. As vantagens são uma recuperação mais rápida e menos dolorosa, menor morbilidade, menor custo e preservação do prepúcio; a desvantagem é o risco de recidiva da fimose.

Relativamente à circuncisão, tem como vantagem curar a fimose e prevenir a recorrência, balano-postites, e diminuir a incidência de infecções urinárias. Tem no entanto um maior risco de morbimortalidade (como dor pós operatória, hemorragia, infecção, risco de lesão da glande e uretra) e está associada a um maior custo.

Evolução

A fimose fisiológica resolve espontaneamente na maioria dos casos (apenas 1,2% dos adolescentes apresentam fimose fisiológica).

A fimose patológica tem uma taxa de resolução com tratamento médico de até 95%, sendo os restantes passiveis de resolução cirúrgica.

Recomendações

Fimose fisiológica:

Tratar apenas casos seleccionados. Deve ser explicado aos pais e doente que se trata de uma fase normal do desenvolvimento. É importante explicar os cuidados a ter com a higiene no banho, associada a retracção delicada e sem forçar do prepúcio. Em casos seleccionados pode ser instituída terapêutica com corticóide tópico.

Fimose patológica:

Tratamento inicial com corticóides, se insucesso prosseguir para intervenção cirúrgica.

Bibliografia

  1. Sahid SK. Phimosis in Children. ISRN Urology. 2012. Article ID 707329.
  2. Moreno G, Corbalán J, Peñaloza B, Pantoja T. Topical corticosteroids for treating phimosis in boys. Cochrane Database Syst Rev 2014.

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