Introdução
Definição
Febre é a elevação da temperatura corporal, controlada pelo centro termorregulatório localizado no hipotálamo. A temperatura corporal considerada normal é 37ºC. No entanto esta pode variar consoante a idade, altura do dia, nível de atividade, entre outros.
O valor considerado anormal depende do local onde a temperatura é verificada. A temperatura retal parece refletir com maior precisão a temperatura central, mas é um método mais invasivo.
A temperatura retal é utilizada em crianças com idade inferior a 3 meses e é considerada febre quando a temperatura é superior ou igual a 38ºC. Em alternativa pode ser usada a temperatura axilar ou timpânica, menos fiáveis em crianças pequenas. A diferença entre a temperatura medida nos diferentes locais depende de inúmeros fatores, não havendo uma conversão estandardizada.
A febre resulta de um aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, TNF e INF alfa) que vão provocar um aumento da síntese de prostaglandinas, nomeadamente PGE-2, responsável pela elevação do ponto de regulação hipotalâmico. Este ajuste procura inibir o crescimento de microrganismos bem como estimular a produção de neutrófilos e proliferação de linfócitos T.
Epidemiologia
A febre é um dos sintomas mais comuns em idade pediátrica e uma das principais causas de consulta médica de urgência.
História Clínica
Anamnese
A história clínica é essencial para caracterizar a sintomatologia e orientar o diagnóstico.
Deve ser questionado o estado de imunização, antecedentes pessoais (doenças crónicas, prematuridade) e familiares de doença.
Para o diagnóstico etiológico são também relevantes as viagens recentes, exposição a animais e picadas de inseto.
Para a caracterização da febre devem ser questionadas a duração, temperatura máxima, intervalo de apirexia e resposta aos antipiréticos.
Os sintomas associados apontam, na maioria das vezes, para a causa subjacente, nomeadamente sintomas respiratórios (rinorreia, tosse, odinofagia ou otalgia), gastrointestinais (diarreia, vómitos) ou genitourinários (disúria).
O contexto familiar de quadros clínicos semelhantes tanto no domicílio como na escola/jardim de infância é também um dado importante.
Exame objectivo
O principal objetivo do exame físico é excluir uma doença bacteriana grave em que é necessária uma abordagem diagnóstica mais aprofundada.
Existem alguns sinais de alarme de alto risco para infeção bacteriana invasiva, nomeadamente:
- Criança com menos de 3 meses, exantema petequial, fontanela abaulada / deprimida, estado de mal convulsivo, sinais neurológicos focais ou crises focais;
- Ar sético, alteração do estado de consciência, rigidez da nuca (sem resposta a estímulos, sonolência, queixume ou choro fraco);
- Palidez cutânea, pele marmoreada ou cianose;
- Sinais de dificuldade respiratória- frequência respiratória aumentada, tiragem global, gemido;
-
Turgor cutâneo diminuído.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico diferencial de um quadro febril é vasto e depende da idade da criança, dos dados da anamnese e achados do exame objetivo.
Exames Complementares
Em recém-nascidos e pequenos lactentes (
Em crianças mais velhas os exames complementares de diagnóstico devem ser orientados consoante a sintomatologia e o exame objectivo. Na grande maioria das situações, perante uma criança com bom estado geral, não são necessários meios auxiliares de diagnóstico.
Tratamento
O tratamento da febre é maioritariamente de suporte - aumento da ingestão de líquidos e antipiréticos. Nos casos em que a causa da febre seja uma infeção bacteriana é fundamental estabelecer antibioterapia adequada.
O aumento da temperatura corporal leva a desidratação, por aumento de perdas insensíveis, sendo esta uma das principais preocupações nestes quadros. O reforço de aporte hídrico é essencial para a prevenção desta complicação.
A utilização de antipiréticos deve ser regulada por um nível máximo de temperatura de 38ºC ou seja, devem ser administrados se temperatura axilar >38ºC, e tem como objectivo colocar a temperatura corporal abaixo de 37-37,5ºC.
Os antipiréticos têm como mecanismo de ação o reajuste do ponto de regulação hipotalâmico. O mais utilizado é o paracetamol oral 10-15 mg/kg com intervalos de 4 ou 6 horas entre tomas. A dose diária máxima é 90mg/kg (até 4g/dia). O início de ação é entre 30 a 60 minutos com pico às 3/4 horas. Em casos de sobredosagem há o risco de falência hepática.
O ibuprofeno é usado como alternativa, particularmente quando se pretende uma ação anti-inflamatória em associação à antipirética. O seu uso não está recomendado em crianças com idade inferior a 3 meses pelo risco de toxicidade renal. A dose de ibuprofeno oral varia entre 5 - 10 mg/kg por dose (até 600 mg) com intervalos de 6 horas até um máximo de 40mg/kg ou 2,4g/dia. O início de ação é inferior a 60 minutos com um pico entre as 3-4 horas.
A eficácia de regimes terapêuticos com ibuprofeno e paracetamol alternadamente é controversa pelo maior risco de intoxicações e erros de dosagem.
O uso de ácido acetilsalicílico não está recomendado em crianças pelo risco de Síndrome de Reye.
O uso de antigripais ou antitússicos deve ser desaconselhado. A sua eficácia não está comprovada e, muitos deles, têm na sua constituição paracetamol ou ibuprofeno podendo levar a sobredosagem acidental.
Evolução
A maioria dos quadros febris são benignos e auto-limitados, associados a doenças de etiologia vírica. O prognóstico vai depender da etiologia.
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