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Introdução

É uma infeção vírica exantemática comum em idade pediátrica, também denominada de "quinta doença".

Epidemiologia

Afeta principalmente crianças em idade escolar e adolescentes, entre os 5 e 15 anos. É mais comum durante os meses de inverno e primavera e pode-se manifestar esporadicamente ou em surtos, especialmente em ambientes escolares.

É causada pelo parvovírus B19 humano, cuja transmissão é principalmente por meio de gotículas respiratórias, e cujo período de incubação, que varia de 4 a 14 dias, pode estender-se até 21 dias após a exposição.

A transmissão pode ainda ser vertical, cujo risco é maior nas primeiras 20 semanas de gravidez, e via hematogénea (por transfusão de produtos infetados).

História Clínica

Anamnese

O curso clínico do eritema infecioso é característico e pode ser dividido nas seguintes fases:

Fase prodrómica:

Os sintomas iniciais são geralmente inespecíficos e podem incluir febre ligeira, mal-estar geral, cefaleia, coriza, náuseas ou
diarreia.

Artralgia e artrite podem afetar cerca de 10% das crianças
infetadas, apresentando-se frequentemente de forma simétrica nas articulações dos dedos, mãos, tornozelos e joelhos. Estes sinais e sintomas constitucionais coincidem com o início da viremia.

Fase exantemática:

Dois a cinco dias após o início dos sintomas, surge a erupção malar eritematosa clássica, caracterizada por uma palidez
relativa peribucal, frequentemente referida como a erupção da "face esbofeteada". Esta erupção facial é comumente seguida, após alguns dias, por uma erupção reticulada no tronco e extremidades, que pode ser pruriginosa em cerca de 50% dos casos. Mais raramente pode ser morbiliforme, confluente ou vesicular.

A erupção é considerada imuno-mediada, pelo que, quando surge, a viremia está resolvida. A maioria dos casos resolve-se em poucas semanas, embora a erupção cutânea possa persistir por meses ou, raramente, por anos.

O caráter recidivante da erupção cutânea, em resposta a estímulos ambientais como mudanças de temperatura, exposição ao sol, atividade física ou stress emocional, é uma característica distintiva do eritema infecioso.

Uma característica da infeção pelo Parvovírus B19 é possibilidade de causar uma crise aplástica transitória (CAT). Nesta condição, ocorre uma supressão temporária da eritropoiese, resultando em anemia e outras complicações graves.

A CAT é mais comum em crianças mais velhas e adultos,
especialmente naqueles com doenças hematológicas que predispõem a destruição dos eritrócitos, como drepanocitose, esferocitose hereditária, entre outras, ou em patologias que comprometem a produção eritrocitária.

Doentes que desenvolvam CAT geralmente apresentam-se com palidez cutânea, prostração e astenia e, habitualmente, a erupção cutânea característica não está presente. Embora a crise aplástica seja transitória, com a produção de
reticulócitos voltando ao normal à medida que a virémia diminui, o que ocorre em cerca de 1 a 2 semanas, a anemia pode ser tão grave que alguns pacientes necessitam de transfusão sanguínea.

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico diferencial inclui outros exantemas infeciosos, como roséola, rubéola, sarampo, infeções por enterovírus e infeção estreptocócica do grupo A.

Em adolescentes, outras condições a considerar em casos de febre e erupção cutânea incluem mononucleose infeciosa e infeção aguda pelo vírus 2 da imunodeficiência humana (VIH). Estas condições podem estar associadas a outros sinais ou sintomas, como faringite ou linfadenopatia, que não são típicos
da infeção pelo parvovírus B19.

Outras etiologias não infeciosas, como a hipersensibilidade medicamentosa, também são possíveis. A síndrome de poliartrite aguda associada à infecção pelo Parvovírus B19 pode ser facilmente confundida com artrite reumatóide juvenil, já que ambas as
condições partilham sintomas semelhantes, nomeadamente dor e inflamação articular.

No entanto, uma diferença importante é que, na infecção pelo
Parvovírus, os sintomas articulares tendem a ser autolimitados, geralmente resolvendo-se dentro de algumas semanas. Em contraste, na artrite reumatóide juvenil, os sintomas são persistentes e não apresentam melhoria espontânea após esse período.

Exames Complementares

O diagnóstico de eritema infecioso é predominantemente clínico. Em crianças imunocompetentes que apresentam a erupção malar característica, o diagnóstico presuntivo pode ser estabelecido com base nas características clínicas observadas.

Exames complementares raramente são necessários e geralmente são reservados para pacientes imunocomprometidos, com apresentações clínicas atípicas ou que apresentam complicações. Quando indicados, os testes laboratoriais incluem a serologia para detecção de anticorpos IgM e IgG específicos para o Parvovírus B19 ou PCR para identificar o DNA viral.

No entanto, como a viremia geralmente já está resolvida quando a doença se torna sintomática, o PCR para detecção do DNA viral pode ser negativo. Além disso, o DNA viral pode permanecer detectável no sangue e em outros tecidos por meses ou até anos, o que significa que um resultado positivo por PCR nem sempre indica infecção ativa.

Nos doentes com CAT, o hemograma revela uma diminuição da hemoglobina superior a 30% do basal e uma contagem periférica
de reticulócitos indetectável.

A biópsia da medula óssea revela aplasia severa da linha eritrocitária com os característicos pronormoblastos gigantes com
inclusões virais.

Tratamento

O tratamento do eritema infecioso é essencialmente de suporte. Inclui a administração de antipiréticos, como paracetamol ou ibuprofeno, para controlo da febre, e anti-histamínicos para o alívio do prurido.

Na maioria dos casos, a condição é autolimitada e resolve-se espontaneamente, sem complicações. A artrite/ artralgias associadas resolvem habitualmente em 1 a 2 semanas, mas, em alguns casos, podem persistir por meses ou até anos. Os sintomas
articulares podem ser controlados com anti-inflamatórios não esteróides (AINEs).

Em situações complicadas, como por exemplo a aplasia medular, intervenções adicionais são necessárias, adaptadas à condição clínica do paciente. Especificamente na CAT, os níveis de hemoglobina podem ser inferiores a 6 g/dL, sendo, em alguns casos, necessária a transfusão de concentrado de eritrócitos.

Em pacientes com infecção crónica pelo Parvovírus B19, levando a anemia crónica, a imunoglobulina endovenosa pode ser considerada.

Evolução

Embora o eritema infecioso seja geralmente uma condição benigna, podem surgir complicações, particularmente em crianças e adolescentes com condições preexistentes.

Como mencionado anteriormente, em pacientes com doenças hemolíticas crónicas, a infeção por Parvovírus B19 pode provocar
uma CAT.

Além disso, o Parvovírus B19 pode causar complicações neurológicas como encefalite, parestesias e síndrome de Guillain-Barré.

Outras complicações relatadas, embora ainda sem uma relação causal estabelecida, incluem miocardite, linfoistiocitose hemofagocítica, vasculite, nefrite, púrpura trombocitopénica e artrite crónica.

Adicionalmente, como o Parvovírus B19 faz parte do grupo TORCH, a infeção durante a gravidez pode resultar em graves complicações, como hidropsia fetal, morte fetal e aborto espontâneo.

Recomendações

A prevenção do eritema infecioso envolve a adoção de práticas gerais de higiene, como lavar as mãos com frequência e evitar o contacto próximo com pessoas doentes.

Crianças ou adolescentes que apresentem a erupção malar característica e tenham um diagnóstico presuntivo de eritema infecioso podem retornar às creches ou escolas, uma vez que a fase de viremia e a capacidade de contagiosidade estão ultrapassadas.

Bibliografia

  1. American Academy of Pediatrics. Human parvovirus B19. In: Kimberlin DW, Banerjee R, Barnett ED, Lynfield R, Sawyer MH, editors. Red Book: 2024-2027 Report of the Committee on Infectious Diseases. 33rd ed. Itasca, IL: American Academy of Pediatrics; 2027.
  2. Jordan JA. 2024. Virology, epidemiology, and pathogenesis of parvovirus B19 infection. Disponível em: https://www.uptodate.com/. Consultado em setembro de 2024.
  3. Jordan JA. 2024. Clinical manifestations and diagnosis of parvovirus B19 infection. Disponível em: https://www.uptodate.com/. Consultado em setembro de 2024.
  4. Jordan JA. 2024. Treatment and prevention of parvovirus B19 infection. Disponível em: https://www.uptodate.com/. Consultado em setembro de 2024.

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