Comportamento e temperamento
Introdução
Definição
A vinculação é fundamental para o desenvolvimento cognitivo e emocional, designadamente para o saudável desenvolvimento da autoconfiança e autoestima, resiliência, resistência à frustração, capacidade de iniciativa, realização, humor positivo e sensibilidade ao outro, reflectindo-se naturalmente no comportamento e agir da criança.
O comportamento consiste no conjunto de acções, reacções ou actividades motoras observáveis, como resposta aos estímulos internos e externos. É a expressão da acção, resultante da interacção de diversos fatores internos e externos, que a criança experimenta, de que são exemplo a personalidade, meio cultural, expectativas (família e sociedade), experiências pessoais e sociais. É a acção/reacção da criança na sua interacção com o meio.
O temperamento é o conjunto de características individuais, de base biológica e componente genética provável, que influenciam o humor e as emoções da criança condicionando a forma como se confronta e reage a situações variadas como o comportamento e emoções, de que são exemplo a satisfação, medo, tristeza, frustração, etc.
O temperamento apresenta diferentes componentes: nível de actividade, ritmo de actividade, capacidade de interacção e adaptação, limiar de resposta, intensidade da reacção, humor, atenção e concentração e autorregulação. Evolui ao longo do neurodesenvolvimento e modela o percurso de vida da criança: durante a primeira infância revela-se nos ritmos de sono e alimentação, reacção ao banho, adaptação a novos alimentos e pessoas, frequência e intensidade do choro e riso, etc.
Na segunda infância os principais pilares do temperamento assentam no relacionamento com os pares, padrões lúdicos preferenciais e pela capacidade de atenção e concentração.
Na criança em idade escolar todos os fatores referidos são determinantes para o seu perfil temperamental.
O temperamento é, assim, intrínseco à criança, por oposição ao comportamento que é influenciado pelo meio e pelo relacionamento e perfil parental ou do cuidador.
Tipos de comportamento:
Os espasmos do soluço, mentira, impulsividade e as birras são considerados normais entre os 2 - 4 anos e são devidos a uma necessidade de afirmação e autonomia relativamente a figuras de autoridade.
Uma das maiores preocupações dos pais é a fase das birras, em que a criança passa de uma fase passiva para uma mais activa e apresenta um comportamento opositivo, quase sistemático, face às solicitações dos pais: não colabora nos pedidos e está sempre do contra. A criança, outrora obediente e tranquila passa a recusar, reclamar e reagir negativamente perante qualquer contrariedade. Bate, debate-se, atira o que estiver à mão, chora, diz não a tudo, resiste em seguir qualquer orientação ou a acatar tranquilamente as decisões dos pais, em situações tão simples e frequentes como mudar de roupa, tomar banho, sair de um local, guardar um brinquedo ou durante as refeições.
Normalmente, surge a partir dos 18 meses, pode durar até aos 3 - 4 anos de idade e não há como evitá-lo, pois constitui uma fase de autonomização dos pais, ao compreender que é pessoa no sentido filosófico da palavra, pensa, tem desejos e opiniões próprias o que a leva a afirmar-se perante o outro, tentando impor as suas decisões e escolhas aos pais (estou aqui, quero isto e não quero o que os outros esperam de mim!), embora tenha ainda grandes dificuldades em exercer a sua autonomia, o que a deixa frustrada e zangada.
É uma fase emocionalmente intensa, repleta de conflitualidade, que angustia e desorienta os pais que não sabem como agir.
Como Agir
Existem formas adequadas que se pautam pela consistência, consonância e firmeza das respostas das figuras de afeto e autoridade (pais, avós, cuidadores).
Um bom exemplo é manter a calma e não valorizar excessivamente a recusa ou oposição da criança, desviando a sua atenção para outro foco. Mostrar um objeto, falar de outro assunto ou simplesmente propor outra atividade são algumas das estratégias.
Se por exemplo antes de um passeio ou ida à compras os pais devem explicar o motivo e contexto do passeio ou ida às compras. Se se trata de uma ida ao supermercado, devem comunicar-lhe as suas expectativas relativamente ao comportamento da criança, estabelecer limites bem definidos, nomeadamente o que poderá ou não pedir. Numa ida ao restaurante, devem os pais explicar onde vão, como esperam que a criança se comporte e as respectivas consequências, caso tal não ocorra. Os pais jamais devem ceder às manipulações, como o choro, pedidos de ajuda e reclamação de possíveis desconfortos. Só devem estabelecer diálogo depois de ela se acalmar. Disciplinar a criança após a birra é mandatório, logo após a expressão da sua frustração e descontentamento. É a altura ideal para conversar e explicar o porquê da sua acção, porque é fundamental que a criança compreenda o que fez e o porquê da desaprovação parental. Os pais devem evitar a repreensão em frente de outras pessoas ou pares, para que não se sinta constrangida ou humilhada.
Ignorar a birra é uma excelente forma de lidar com a situação, mas nem sempre os pais conseguem pô-la em prática. Se assim for e sobretudo em lugares públicos, se a birra persistir, os pais ou cuidadores, devem retirá-lo do ambiente ou contexto em que se encontrem, sem demonstrar irritação e sem diálogo. Esta atitude mostrará desaprovação.
Se a criança bater em alguém, deve ser contida imediatamente e, em seguida, os pais devem colocar-se ao nível da criança, fixar o seu olhar e com voz firme dizerem-lhe que por muitas razões que lhe assistam, a sua atitude é inaceitável. Estabeleça limites e avise-a de possíveis sanções (que excluem os castigos físicos), tendo em mente que estas deverão ser realistas e exequíveis, se a criança repetir o comportamento desaprovado.
Face a comportamentos de autoagressão (bater com a cabeça no chão ou parede, arranhar-se, puxar pelos cabelos ou colocar-se em situação de risco), estes constituem também uma chamada de atenção, com componente de chantagem emocional, aos quais os pais devem firmemente resistir, contendo a criança (por exemplo colocando um travesseiro ou uma almofada por baixo da cabeça, ou retirando-o do local onde está, colocando-o em ambiente mais seguro, sem demonstrar preocupação ou sensibilidade à dor autoinfligida e rapidamente afastar-se para outra divisão, uma vez que sem auditório, não há lugar a espectáculo e a criança perceberá rapidamente que de nada lhe serve o seu comportamento.
Por vezes, ao não conseguir os seus objetivos de chamada de atenção, a criança opta por comportamento de provocação ou confronto como apagar e acender a luz, ligar e desligar equipamentos eletrônicos etc. os quais devem ser igualmente ignorados.
Se a criança começar a apresentar comportamentos autodestrutivos frequentes em situações quotidianas, deverá consultar um pedopsiquiatra porque pode indicar uma tentativa da criança de evitar o contato com algo que lhe esteja a causar angústia.
Diagnóstico Diferencial
Comportamentos de oposição sistemática, para além desta idade ou comportamentos autodestrutivos persistentes podem ser a manifestação de patologia do foro emocional ou psiquiátrico, pelo que em caso de agravamento e ou persistência deve ser observado em Pedopsiquiatria.
Tratamento
Evolução
O prognóstico é bom, desde que os pais sejam assertivos, consistentes e previsíveis na sua forma de lidar com a criança.
Recomendações
A maneira mais eficiente de prevenir os comportamentos menos adequados é a antecipação de situações potencialmente geradoras. Os pais devem explicar o que vai acontecer (passeio, jantar ou festa de anos com amigos, visita a familiares ou amigos, etc), o que esperam da criança e a razão do seu procedimento de forma adequada à sua idade e compreensão.
Bibliografia
- Smith PK, Hart CH. Childhood Social Development. Handbooks of developmental Psychology. 2006: 97-116
- Potegal M, LP; Davidson, R J. Temper Tantrums in Young Children: 1. Behavioral Composition. J Dev Behav Pediatr 24:140‐147, 2003
- Potegal M, LP; Davidson, R J. Temper Tantrums in Young Children: 2. Tantrum Duration and Temporal Organization. J Dev Behav Pediatr 24:148‐154, 2003
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