Introdução
Definição
A cianose é a coloração azulada da pele e mucosas resultante do aumento de concentração da desoxi-hemoglobina, com valores entre 3 a 5 g/dl.
Etiopatogenia
A cianose pode decorrer de dois mecanismos: dessaturação/hipoxémia arterial sistémica ou aumento de extração de oxigénio pelos tecidos periféricos. Nesse sentido, temos 2 tipos de cianose: central e periférica.
Cianose central – presente quando a concentração de desoxihemoglobina excede o valor de 5g/dl (saturação periférica de oxigénio
- Causas respiratórias:
- Alterações das vias aéreas superiores (atrésia das coanas, retrognatismo, laringomalácia, estenose traqueal, paralisia das cordas vocais);
- Interferência na expansão torácica (pneumotórax e pneumomediastino, derrame pleural, distensão abdominal, escoliose grave, obesidade, hipoplasia pulmonar);
- Neurológicas (encefalopatia hipóxico-isquémica, hemorragia intracraniana, edema cerebral, infecção do sistema nervoso centra e distrofias musculares que diminuem o estímulo respiratório);
- Pneumonia, síndrome de dificuldade respiratória, taquipneia transitória do recém nascido, síndrome de aspiração meconial, hérnia diafragmática congénita e malformação adenomatóide.
- Causas cardíacas:
- Cardiopatia congénita cianótica, isto é, uma doença cardíaca em que o sangue dessaturado passa directamente para a circulação sistémica sem passar pelos pulmões, isto é, na presença de shunt direito-esquerdo;
- Hipertensão pulmonar persistente do recém nascido:
- Patologia hematológica: metemoglobinémia (caracteriza-se pela presença de um nível mais alto do que o normal de meta-hemoglobina no sangue. A meta-hemoglobina é uma forma de hemoglobina que não se liga ao oxigênio).
Cianose periférica – ocorre na presença de saturação periférica de oxigénio normal mas com quadros de má perfusão periférica e aumento das necessidades de oxigénio pelos tecidos periféricos. Normalmente surgem em casos de movimento lento do sangue nos capilares e que leva a um aumento da desoxi-hemoglobina. Neste caso, apenas a pele apresenta uma coloração azulada, sendo que a língua e mucosa oral permanecem rosadas. As principais causas deste tipo de cianose são:
- Frio
- Choque cardiogénico
- Sépsis
- Obstrução venosa periférica
- Policitemia
História Clínica
A história clínica e exame objetivo detalhados podem fornecer dados importantes para determinar a etiologia da cianose.
A patologia respiratória é a causa mais frequente de cianose central em todas as idades. No recém nascido, as cardiopatias congénitas cianóticas assumem um papel muito importante sendo que neste grupo etário devemos ter em atenção este grupo de patologias.
Exame objetivo
- Avaliação do estado geral: na presença de alteração do estado geral da criança (irritabilidade, prostração, hipotonia)
- Sinais vitais: frequência respiratória; frequência cardíaca; tensão arterial; oximetria de pulso e temperatura corporal
- Pigmentação da pele e mucosas: cianose mais difícil de detetar na raça negra
- Pulsos periféricos e centrais: diminuídos ou assimétricos na patologia cardíaca
- Tórax:
- Inspeção: em crianças com cianose, a retração costal e uso dos músculos acessórios indiciam etiologia respiratória. Se presença de assimetria na expansão torácica devemos pensar em traumatismo torácico ou pneumotórax, o qual pode estar ou não associado a desvio traqueal contralateral.
- Palpação: enfisema subcutâneo no caso de traumatismo aberto, pneumotórax ou pneumomediastino.
- Auscultação pulmonar: presença de crepitações e/ou sibilos na patologia pulmonar ou edema pulmonar.
- Auscultação cardíaca: a presença de sopro faz suspeitar de doença cardíaca mas também pode ser normal e estarmos perante uma cardiopatia congénita (nas transposições simples das grandes artérias, por exemplo)
Diagnóstico Diferencial
Outras etiologias de cianose a não esquecer são:
- Acrocianose
- Fenómeno de Raynaud
- Exposição ao frio
- Policitemia
- Certas patologias dermatológicas – lesões pigmentares (ex.:manchas mongólicas), terapêutca medicamentosa (ex.: descolaração cinzenta-azulada na administração de amiodarona), tatuagens, entre outras.
Exames Complementares
Patologia Clínica
Gasimetria arterial – deve ser realizado nos casos de cianose central e nos casos de sépsis grave.
Hemograma com hematócrito – permite diferenciar casos de policitemia
Imagiologia
Radiografia torácica – útil para diagnosticar patologia pulmonar e perante a suspeita de patologia cardíaca.
Ecocardiograma com Doppler – exame de eleição no diagnóstico definitivo das cardiopatias. Deve ser realizado sempre que há suspeita de patologia cardíaca.
Tratamento
De acordo com a etiologia.
Evolução
De acordo com a etiologia.
Bibliografia
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Harrison T, Longo D, Fauci A, Kasper J, et al. Medicina Interna de Harrison. 18.ª Edição. Volume 1, Secção 5, Capitulo 35 – hipóxia e cianose.
Sasidharan P. An approach to diagnosis and management of cyanosis and tachypnea in term infants. Pediatr Clin North Am 2004; 51:999.
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